São Bernardo de Claraval – Catedral de Nova York

Até que ponto entra insinceridade ou má fé nos diversos graus de adesão à Revolução? Em que medida um “revolucionário de marcha lenta” é capaz de entrever as conseqüências doutrinárias das idéias e tendências que adotou?

Essas e outras questões são analisadas por Dr. Plinio em Revolução e Contra-Revolução, a fim de esclarecer delicados aspectos da psicologia humana.

Se tal é a importância das paixões no processo revolucionário, a vítima deste está sempre, em alguma medida, pelo menos, de má fé? Se o protestantismo, por exemplo, é filho da Revolução, está de má fé todo protestante? Não colide isto com a doutrina da Igreja que admite que haja, em outras religiões, almas de boa fé?

Exemplo oposto do homem decaído na virtude, todo Santo é um modelo de equilíbrio e de imparcialidade, com sua inteligência e sua vontade nunca debilitadas pelo desregramento das paixões

“É óbvio que uma pessoa de inteira boa fé, e dotada de um espírito fundamentalmente contra-revolucionário, pode estar presa nas malhas dos sofismas revolucionários (sejam de índole religiosa, filosófica, política, ou outra qualquer) por uma ignorância invencível. Em pessoas assim não há qualquer culpa.

Mutatis mutandis [mudando o que deve ser mudado], poder-se-ia dizer o mesmo quanto às que aderem à doutrina da Revolução num ou noutro ponto restrito, por um lapso involuntário da inteligência” (pp. 80-81).

Insinceridade parcial ou total

Então, quando existe culpa?

“Mas se alguém participa do espírito da Revolução, movido pelas paixões desregradas inerentes a ela, a resposta tem de ser outra.

“Pode um revolucionário nestas condições estar persuadido das excelências das suas máximas subversivas. Ele não será, portanto, insincero. Mas terá culpa pelo erro em que caiu.

“E pode também acontecer que o revolucionário professe uma doutrina da qual não esteja persuadido, ou da qual tenha uma convicção incompleta.

“Será, neste caso, parcial ou totalmente insincero…” (p. 81)

Marxistas “avant la lettre”?

Pode-se dizer que, nas épocas de Lutero e da Revolução Francesa, os adeptos desses movimentos eram conscientemente marxistas?

“Quando afirmamos que as doutrinas de Marx estavam implícitas nas negações da Pseudo-Reforma e da Revolução Francesa1, não queremos com isto dizer que os adeptos daqueles dois movimentos eram, conscientemente, marxistas avant la lettre [antes de o termo existir], e que ocultavam hipocritamente suas opiniões (pp. 81-82).

A virtude cristã incrementa a inteligência humana

O que a virtude cristã produz na inteligência e na vontade de uma pessoa?

“O próprio da virtude cristã é a reta disposição das potências da alma e, pois, o incremento da lucidez da inteligência iluminada pela graça e guiada pelo Magistério da Igreja. Não é por outra razão que todo Santo é um modelo de equilíbrio e de imparcialidade. A objetividade de seus juízos e a firme orientação de sua vontade para o bem não são debilitadas, nem de leve, pelo bafo venenoso das paixões desregradas (p. 82).

O vício acarreta a perda da objetividade

E quando o homem não freia suas paixões, o que sucede?

“Pelo contrário, à medida que o homem decai na virtude e se entrega ao jugo dessas paixões, vai minguando nele a objetividade em tudo quanto com as mesmas se relacione. De modo particular, essa objetividade fica perturbada quanto aos julgamentos que o homem formule sobre si mesmo.

“Até que ponto um revolucionário ‘de marcha lenta’ do século XVI ou do século XVIII, obnubilado pelo espírito da Revolução, se dava conta do sentido profundo e das últimas conseqüências de sua doutrina, é em cada caso concreto o segredo de Deus (p. 82)2.

1) Cf. “Dr. Plinio” número 117, dezembro de 2007, pp. 16-17.

2) Para todas as citações: Revolução e Contra-Revolução, São Paulo, Editora Retornarei, 2002, 5ª edição em português, 254 páginas.