Acampamento indígena – Museu de Toronto, Canadá

Quase vinte anos depois da primeira publicação de Revolução e Contra-Revolucão, em 1959, Dr. Plinio julgou oportuno dar a lume uma nova análise do processo revolucionário, mostrando como este havia evoluído naquele período. Assim, na terceira parte de sua obra, escrita em 1977, assinala ele as características e o perigo da 4ª Revolução que vinha surgindo, dotada de força diferente.

Para efetivar a IV Revolução, o que pregam os estruturalistas?

“O estruturalismo vê na vida tribal uma síntese ilusória entre o auge da liberdade individual e do coletivismo consentido, na qual este último acaba por devorar a liberdade. Segundo tal coletivismo, os vários ‘eus’ ou as pessoas individuais, com sua inteligência, sua vontade e sua sensibilidade, e conseqüentemente seus modos de ser, característicos e conflitantes, se fundem e se dissolvem na personalidade coletiva da tribo geradora de um pensar, de um querer, de um estilo de ser densamente comuns” (p. 186).

Extinção dos padrões de inteligência e vontade individuais

Para atingir esse objetivo, que caminho o estruturalismo indica?

“Bem entendido, o caminho rumo a este estado de coisas tribal tem de passar pela extinção dos velhos padrões de reflexão, volição e sensibilidade individuais, gradualmente substituídos por modos de pensamento, deliberação e sensibilidade cada vez mais coletivos. É, portanto, neste campo que principalmente a transformação se deve dar” (p. 186).

Para a IV Revolução, os indivíduos devem desaparecer na fusão coletivista tribal

Mas, de que forma isto pode ser realizado?

“Nas tribos, a coesão entre os membros é assegurada sobretudo por um comum pensar e sentir, do qual decorrem hábitos comuns e um comum querer. Nelas, a razão individual fica circunscrita a quase nada, isto é, aos primeiros e mais elementares movimentos que seu estado atrofiado lhe consente.”

Pensamento que não pensa…

Pensamento selvagem1, pensamento que não pensa e se volta apenas para o concreto. Tal é o preço da fusão coletivista tribal. Ao pajé incumbe manter, num plano místico, esta vida psíquica coletiva, por meio de cultos totêmicos carregados de ‘mensagens’ confusas, mas ‘ricas’ dos fogos fátuos ou até mesmo das fulgurações provenientes dos misteriosos mundos da transpsicologia ou parapsicologia. É pela aquisição dessas ‘riquezas’ que o homem compensaria a atrofia da razão” (p. 186-187).

Da razão, que foi tão cultuada?

“Da razão, sim, outrora hipertrofiada pelo livre exame, pelo cartesianismo, etc., divinizada pela Revolução Francesa, utilizada até o mais exacerbado abuso em toda escola de pensamento comunista, e agora, por fim, atrofiada e feita escrava a serviço do totemismo transpsicológico e parapsicológico” (p. 187).

IV Revolução e o preternatural

Nisso tudo não entram fatores preternaturais?

Omnes dii gentium daemonia [todos os deuses dos pagãos são demônios] diz a Escritura (Sl 95, 5). Nesta perspectiva estruturalista, em que a magia é apresentada como forma de conhecimento, até que ponto é dado ao católico divisar as fulgurações enganosas, o cântico a um tempo sinistro e atraente, emoliente e delirante, ateu e fetichisticamente crédulo com que, do fundo dos abismos em que eternamente jaz, o príncipe das trevas atrai os homens que negaram Jesus Cristo e sua Igreja?

“É uma pergunta sobre a qual podem e devem discutir os teólogos” (p. 187 – 188)2.

1) Claude Lévy-Strauss. La pensée sauvage. Paris : Plon, 1969.

2) Para todas as citações: Revolução e Contra-Revolução, São Paulo, Editora Retornarei, 2002, 5ª edição em português, 254 páginas.