Dr. Plinio em 1991

Era uma radiosa manhã primaveril de domingo, 13 de dezembro de 1908. Os sinos da igreja paroquial de Santa Cecília repicavam, chamando os fiéis para a Missa das 10 horas. Próximo dali, num certo palacete da Rua Barão de Limeira, os ecos daquele tanger festivo se fizeram ouvir no exato momento em que uma jovem dama dava à luz, o seu segundo filho. O recém-nascido receberá de sua mãe, Dona Lucilia, o nome de Plinio.

Plinio Corrêa de Oliveira. Nome que, por si só, evoca uma vida inteira consagrada ao serviço de Deus, de Maria Santíssima e da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. De seus próprios lábios recolhemos as palavras que melhor poderiam figurar, à guisa de editorial, nestas páginas dedicadas a celebrar seu centésimo aniversário natalício:

“Vós me ouvistes falar várias vezes, e nunca ouvistes de mim — quer vós, meus amigos de sempre que há trinta e quarenta anos comigo trabalhais, quer vós meus amigos de hoje que neste momento a bem dizer começais a me conhecer — a seguinte frase: eu elaborei uma doutrina, eu construí um pensamento, eu fundei uma escola, eu fiz isto, eu fiz aquilo.

“Tudo quanto tenho feito em minha vida, por um dever de justiça, na alegria e no entusiasmo de minha alma, no reconhecimento e na gratidão, tenho apresentado como sendo doutrina da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

“Porque se alguma coisa em mim há de bom, não é senão resultado do fato de que Nossa Senhora me alcançou a graça — a qual não tenho palavras para agradecer e espero poder passar junto a Ela a eternidade inteira agradecendo — de ter sido batizado, ser filho da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

“A doutrina que dou é uma exposição da doutrina da Igreja. Lede meus livros, ouvi as minhas conferências que estão gravadas, vós nunca ouvireis outra coisa de mim.

“Vós direis que há muita observação da realidade, que há muita sagacidade no modo pelo qual vemos as coisas, que há originalidade no modo pelo qual solucionamos os problemas, e eu vos direi que é verdade.

“Mas vós ouvireis cem vezes repetido por mim que isto nós devemos ao fato de sermos imbuídos da Doutrina Católica a respeito de uma série de pontos da vida humana que, cristalizados em fórmula, cristalizados em estilos de viver, corporificados em tradições, redundou no que podemos chamar de nosso estilo próprio.

“Eu não sou, eu não pretendo ser senão um sino. Menos do que um sino: um eco do grande sino que é a Igreja Católica Apostólica Romana. Eu pretendo prolongar — não como ministro, não como mestre, mas como discípulo fiel e transido de alegria pela glória de ser discípulo — esse ensinamento. Somos o eco que no meio da batalha prolonga e leva ao longe a voz do sino, fazendo-a ouvir por toda a parte.

“Meu desejo na vida não é senão repetir. Repetir aquilo que eu ouvi da Santa Igreja. Esta fidelidade que até o dia de hoje eu mantive e que Nossa Senhora — espero — me outorgará até o fim de meus dias, ao que a devo?

“Permiti-me um instante de confidência. Havia por volta de 1920, em São Paulo, um menino nascido de família católica, que em determinado momento passou por uma provação muito dura. Neste instante, ele foi rezar junto a uma imagem de Nossa Senhora Auxiliadora e, levantando os olhos para Ela — sem ter uma visão, sem ter uma revelação nem nada que passe das vias comuns da graça — este menino entendeu que Maria era a Mãe de Misericórdia, que com Ela ele se arranjaria. E a partir de então, adquiriu n’Ela uma confiança que nunca o abandonou pelo resto de seus dias. Nossa Senhora lhe sorriu continuamente, e este menino tomou como dever falar d’Ela e servi-La enquanto ele vivesse.

“Este menino, que tudo deve a Maria Santíssima e que nesse momento faz a Ela um preito agradecido de veneração, mostrando que nele não há nada, mas que Ela é a Medianeira de todas as graças e que Lhe devemos atribuir tudo — este menino vós o vedes neste momento, ele acaba de vós dirigir a palavra.” (Conferência em 15/1/1970)

Revestido dessa entranhada confiança na misericórdia de Maria, Dr. Plinio, no anoitecer do dia 3 de outubro de 1995, entregou serenamente sua alma ao Criador. Na lápide de seu túmulo haveria de luzir o único título que ele prezou em ostentar durante a sua existência, e que resume toda a riqueza de seu espírito:

Plinio Corrêa de Oliveira, vir totus catholicus et apostolicus, plene romanus — varão todo católico e apostólico, plenamente romano.