Busto de Voltaire - Peterhof, São Petersburgo, Rússia

O processo revolucionário, ao qual se refere Dr. Plinio no seu livro “Revolução e Contra-Revolução”, iniciou sua perniciosa obra corroendo a Idade Média, e chegou até nossos dias com uma intensidade jamais vista. Embora tenha havido, em épocas anteriores, movimentos que se assemelharam à Revolução e desta foram prefiguras, a todos ela supera em radicalidade e, sobretudo, no seu caráter universal.

A Revolução teve precursores?

“Sem dúvida, a presente Revolução teve precursores, e também prefiguras. Ario, Maomé, foram prefiguras de Lutero, por exemplo. Houve também utopistas em diferentes épocas, que conceberam, em sonhos, dias muito parecidos com os da Revolução. Houve, por fim, em diversas ocasiões, povos ou grupos humanos que tentaram realizar um estado de coisas análogo às quimeras da Revolução” (p. 60).

Algo de ímpar na História

Poderia fazer uma rápida comparação entre esses precursores e a própria Revolução?

“Todos estes sonhos, todas essas prefiguras pouco ou nada são em confronto da Revolução em cujo processo vivemos. Esta, por seu radicalismo, por sua universalidade, por sua pujança, foi tão fundo e está chegando tão longe, que constitui algo de ímpar na História, e faz perguntar a muitos espíritos ponderados se realmente não chegamos ao tempos do Anticristo (pp. 60-61).

Parece chegado o tempo do Anticristo

Houve algum Papa que acenou para a hipótese de estarmos próximos da era do Anticristo?

Utopistas e grupos humanos houve que sonharam e tentaram realizar, em tempos passados, as quimeras da Revolução, cujos exacerbamentos parecem nos aproximar dos dias do Anticristo

“De fato, parece que não estamos distantes, a julgar pelas palavras do Santo Padre João XXIII (…): Nós vos dizemos, ademais, que, nesta hora terrível em que o espírito do mal busca todos os meios para destruir o Reino de Deus, devemos pôr em ação todas as energias para defendê-lo, se quereis evitar para vossa cidade ruínas imensamente maiores do que as acumuladas pelo terremoto de cinqüenta anos atrás. Quanto mais difícil seria então o reerguimento das almas, uma vez que tivessem sido separadas da Igreja ou submetidas como escravas à falsas ideologias do nosso tempo!1” (p. 61).

Revolução e legitimidade

Qual é propriamente o significado da palavra “Revolução”?

“Damos a este vocábulo o sentido de um movimento que visa destruir um poder ou uma ordem legítima e pôr em seu lugar um estado de coisas (intencionalmente não queremos dizer ordem de coisas) ou um poder ilegítimo” (p. 57-58).

Qual o conceito de legitimidade?

“Em geral, a noção de legitimidade tem sido focalizada apenas com relação a dinastias e governos. Atendidos os ensinamentos de Leão XIII na Encíclica Au Milieu des Sollicitudes [No meio das apreensões], de 16 de fevereiro de 18922, não se pode fazer tábua rasa da questão da legitimidade dinástica ou governamental, pois é questão moral gravíssima que as consciências retas devem considerar com toda a atenção” (p. 61-62).

Meio para se atingir bem ainda maior

Além da governamental, existe outra espécie de legitimidade?

“Há uma legitimidade mais alta, aquela que é a característica de toda ordem de coisas em que se torne efetiva a Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo, modelo e fonte da legitimidade de todas as realezas e poderes terrenos. Lutar pela autoridade legítima é um dever, e até um dever grave. Mas é preciso ver na legitimidade dos detentores da autoridade não só um bem excelente em si, mas um meio para atingir bem ainda muito maior, ou seja, a legitimidade de toda a ordem social de todas as instituições e ambientes humanos, o que se dá com a disposição de todas as coisas segundo a doutrina da Igreja (p. 62).

1) Radiomensagem de 28/12/1958, à população de Messina, no 50º aniversário do terremoto que destruiu essa cidade, in L’Osservatore Romano, edição hebdomadária em língua francesa, de 23/1/1959.

2) Bonne Presse, Paris, vol. III, p. 112 a 122.