Em 1º outubro de 1945, uma tragédia comoveu a capital paulista: tendo-se incendiado um ônibus, na avenida Angélica, morreram entre chamas inclementes muitos dos passageiros. O veículo era da linha “Avenida”, a mesma que Dr. Plinio costumava utilizar para ir ao escritório de advocacia.

Quando soube do pavoroso acidente, o primeiro pensamento de Dona Lucilia foi de que seu filho podia ter sido uma das vítimas.

Após horas de extrema aflição para ela, Dr. Plinio retorna à sua casa e a encontra muito aflita, mas inteiramente em paz.

“Nenhuma circunstância, por pior que fosse, conseguia abalar a paz de alma de Dona Lucilia.

“Se para um coração materno nada há de mais confrangedor do que a perspectiva da morte de um filho, incalculável foi a angústia que tomou conta do espírito de Dona Lucilia. Mas acolheu-se confiante à proteção do Sagrado Coração de Jesus, diante de cuja imagem ficou rezando, à espera de alguma informação segura.

“Dona Rosée, sempre muito expedita, começou logo a tentar localizar o irmão. Telefonou aos amigos dele a fim de averiguar se tinham notícias mais exatas, e lhes pediu que verificassem a identidade das vítimas.

“Ora, justamente nesse dia, um dos amigos de Dr. Plinio do ‘Grupo do Legionário’, José Gustavo de Souza Queirós, estava hospitalizado com uma grave doença, que acabaria por levá-lo desta vida, pouco tempo depois. Dr. Plinio abreviara suas ocupações no centro da cidade para lhe fazer uma longa visita, porém, se esquecera de deixar aviso em casa.

“Afinal, por volta das oito e meia da noite, chegou ele sem ter a menor idéia da situação reinante no lar. Ao dobrar a esquina da Rua Sergipe, avistou a sobrinha, Maria Alice, junto ao portão da casa, andando inquieta de um lado para outro. Ela e Dona Rosée foram a seu encontro e, ainda sobressaltadas, contaram-lhe o ocorrido.

“Avaliando a angústia de Dona Lucilia, Dr. Plinio entrou apressadamente em casa. Encontrou-a aflita, mas tranqüila, sentada na cadeira de balanço. Ele a abraçou e osculou como de costume, e lhe perguntou como se sentia depois dessa atroz tribulação.

“Com a suavidade de sempre, Dona Lucilia respondeu:

“— Meu filho, que bom vê-lo novamente! Estava apreensiva, mas acreditava que nada lhe tivesse acontecido… Agora vou me recolher, porque a preocupação afetou-me o fígado e não estou passando bem.

“Após um dia de tanto sofrimento, dos lábios de Dona Lucilia não partiu uma queixa sequer. Com a alma em paz, foi para seu quarto, dando graças a Deus por ter seu filho junto a si.”

(Transcrito da obra “Dona Lucilia”, de João S. Clá Dias)