Há fenômenos na Criação que deixam os homens estupefatos. Entre estes, a metamorfose de certos animais se destaca entre os mais admiráveis movimentos da natureza.

A inércia e a coloração pardacenta dos casulos dão a impressão de que sequer pertencem ao reino animal. Quem diria que a ninfa de aparência muitas vezes repugnante e agressiva daria origem a uma bela, leve e asseada borboleta?

Entre a borboleta e a lagarta se contrastam a agilidade e a lentidão; a beleza e a fealdade; a limpeza e a sordícia. A aparência dos casulos não deixa entrever nem sua origem, nem seu porvir.

Ora, no gênero humano também há metamorfoses. Certamente mais profundas que as arcaicas teorias da evolução das espécies ou da seleção natural, verificam-se na História do Ocidente transformações ainda mais misteriosas que as de mero cunho biológico. Basta considerar a diferença de vestuário entre um executivo de nossas bolsas de valores e um cavaleiro medieval; ou ainda entre um gentil-homem do Antigo Regime e um cidadão francês da atualidade.

Essa mudança de forma não se restringe apenas ao modo de vestir, pois ao longo dos séculos o europeu e seus descendentes foram objetos de transformações semelhantes em todos os aspectos da cultura. Esta lenta metamorfose na vida ocidental compreendeu desde a língua, a moda e a alimentação até as formas de viver e sentir o mundo exterior. Em fim, verifica-se uma profunda e radical mudança de mentalidade na sociedade ocidental.

Ao compararmos a civilização medieval com os tempos atuais, tem-se a impressão de que a humanidade passou por um casulo de 500 anos. De um lado, evoluímos das lentidões da lagarta às agilidades da borboleta; de outro, das coloridas belezas do passado às pardas e inexplicáveis formas artísticas da atualidade…

É verdade que a língua, o clima, a economia e os fluxos migratórios, enfim, os diversos fatores naturais influenciam os costumes de uma sociedade. Todavia, o principal vetor de influência sobre a cultura dos povos reside no modo de pensar e sentir o mundo exterior. Se o homem possui uma alma racional, o pensamento é o fator mais determinante de uma mentalidade.

De fato, há uma profunda correspondência entre as diversas escolas de pensamento e as sociedades nas quais estas nasceram e se difundiram. No entanto, a mentalidade do homem não se compõe somente de teoria. A mudança de mentalidade do ocidental se deu, outrossim, nas profundidades da psicologia, nas capilaridades do temperamento. Por esta razão, cingiu os ínfimos detalhes do proceder humano, inclusive o vestuário.

Qual é a razão mais profunda desta mudança de mentalidade na sociedade ocidental? Este processo tão abrangente explica-se apenas por razões de logística e economia? A metamorfose da mentalidade europeia se restringe somente ao digladiar das escolas de pensamento?

A razão mais profunda dessa mudança de mentalidade no homem ocidental encontramo-la explicada por Dr. Plinio — de forma acessível e brilhante — na seção “Revolução e Contra-Revolução” deste mês, com o artigo: “O perigo nasce com a vitória!”