Transatlântico Duca d’Aosta.

Após dez meses de viagem pela Europa1, sob um radioso e cálido sol, o jovem Plinio retornava ao Brasil, acompanhado por Dona Lucilia e sua irmã, Rosée.

A viagem de volta havia sido empreendida no transatlântico italiano Duca d’Aosta, partindo de Gênova em direção a Santos, no litoral paulista.

Em diversas circunstâncias, Dr. Plinio narrou as impressões que tivera nessa ocasião:

Lembro-me confusamente de uma cena, ao embarcar no transatlântico italiano Duca d’Aosta: o navio estava parado no porto, com umas rodelas abertas, das quais jorrava água em quantidade. Tive a impressão de que haveria alguma máquina funcionando para fazer sair aquela água às torrentes, e olhava pensando: “Está vendo? Ali está essa água que sai de dentro do navio e vai escorrendo. Assim é a vida! Os fatos vão saindo de dentro do possível para se tornarem reais e depois se perdem no que já passou, como essa água desaparece no mar. É bonito ver como isso se sucede. E o ruído que faz essa água caindo no mar é como o rumor dos fatos da vida, quando acabam de acontecer e se perdem no passado. É uma água que vai, vai e de repente acaba. Assim é a vida… Que bonito esse jorro! Como é bom que comece, como é bom que dure, como é bom que acabe!”

Afinal aportamos em Santos, terminando assim a viagem, o que parecia um acontecimento sensacional.

Chegando à casa após longo período de ausência, era natural que algumas coisas causassem surpresa a um menino de apenas quatro anos…

Eu possuía um brinquedo comum: era um cavalinho de pano, posto sobre rodinhas com eixo de metal e com uma pequena fita pela qual eu podia puxá-lo. Para os meus braços, era um cavalo muito grande e eu tinha, inclusive, certa dificuldade em movimentá-lo. Então, chamava-o de “Enorme”.

Durante a viagem, de vez em quando eu falava sobre o “Enorme”, e, quando voltamos, eu disse:

— Quero o meu “Enorme”!

Lembro-me como se fosse hoje: levaram-me para o quarto do andar térreo da casa, no qual existia um armário trancado, onde haviam sido guardados os brinquedos das crianças da família.

Abriram-no e tiraram o “Enorme”. A minha primeira reação foi de exclamar:

— Esse não é o “Enorme”!

Duas ou três pessoas em torno de mim deram risada, afirmando ser o “Enorme”. E, de fato, era terrivelmente parecido…

Mas para mim era muito inferior! Qual a razão?

Eu tinha crescido e o “Enorme” tinha deixado de ser enorme…

(Extraído da obra “Notas Autobiográficas” de Plinio Corrêa de Oliveira)

1) 10/6/1912 – 17/4/1913.