Um ano após a solene promulgação da Constituição Federal, na qual Dr. Plinio trabalhara assiduamente pelos interesses da Igreja, as emendas católicas, entretanto, continuavam em tese… Ficaria ele calado após tantas lutas e esforços?

Enquanto se festeja ruidosamente o primeiro aniversário da Constituição — e “O Legionário” se associa de todo o coração a tais festejos, pois que a Constituição Federal foi realmente uma conquista — não será mau que os católicos examinem o fruto que tiraram das emendas que, tão laboriosamente, foram introduzidas em nossa magna carta.

Quem escreve estas linhas lembra-se perfeitamente de uma afirmação de Tristão de Athayde, feita pouco depois de 16 de julho, e que lhe causou profunda impressão, pois que encerra uma verdade grave e evidente: “Até ontem — dizia ele — podíamos atribuir à imperfeição das leis vigentes o estado calamitoso em que se encontra o Brasil sob o ponto de vista moral. Hoje, porém, temos uma Constituição ideal, e de hoje em diante a imperfeição das leis não mais poderá servir de escusa à nossa situação, que passará a ser fruto exclusivo da indolência e da inércia dos católicos.” Quem ousará contestar afirmação tão evidentemente verdadeira?

Pois já lá vão três centenas de dias que nossa Constituição foi promulgada, e ainda nos encontramos quase no mesmo estado em que estávamos antes de 16 de julho.

Não foi regulamentado o casamento religioso. Não foram introduzidas capelanias nas Forças Armadas. Não sabemos de nenhuma alteração no regime das relações entre a Igreja e o Estado, a despeito da “colaboração recíproca” permitida pela Constituição. A única conquista que foi aproveitada foi o ensino religioso. E, assim mesmo, em alguns Estados ainda não foi efetuado, em outros começa apenas a ser posto em execução e, finalmente, no nosso São Paulo, um decreto matreiro o concedeu nas vésperas das eleições, e outro decreto, mais matreiro ainda, o regulamentou quando já estavam fora de perigo certos interesses, depois do prélio eleitoral, estatuindo que tal ensino apenas seria ministrado durante meia hora por semana!

E por que isto? Porque os católicos, que souberam apresentar-se coordenados e disciplinados em 1932; deixaram-se empolgar, em 1934, por ideais políticos febrilmente absorventes, que deixaram em segunda plana as preocupações de ordem religiosa.

Por que razão não foram ainda regulamentadas nossas conquistas? Porque a atual Câmara, que conta em seu seio com elementos de dedicação à Igreja, compõe-se, através da maioria dos seus representantes, de indiferentes. E estes indiferentes nenhum compromisso particular têm, em via de regra, com a consciência católica porque, antes da eleição, o eleitorado católico não lhes perguntou quais eram suas convicções religiosas, mas apenas quais seriam suas paixões políticas.

E aí está o resultado: a grande maioria de nossas conquistas é, até a presente data, inoperante. Congratulem-se por esta bela situação os católicos que puseram o facciosismo acima da Religião.

(Extraído de “O Legionário” de 7/7/1935)