Quem contempla a arte romana pode apalpar algo do aroma de grandeza do povo que maior influência teve sobre a cultura ocidental. Roma é eterna em seus mosaicos dourados, nas suas portentosas ruínas e nas estátuas de mármore onde se contemplam personagens hieráticos que demonstram uma capacidade humana invejável. Lógica, autodomínio e desejo de grandeza são predicados salientes naquelas fisionomias que parecem mais voltadas à eternidade.

As representações dos antigos patrícios parecem mitificar o romano como um herói acima da própria natureza, não como mera utopia, mas com o empenho de refletir algo da alta concepção de plenitude humana admirada pelo povo que conquistou reinos e impérios, que fez do Mediterrâneo uma propriedade exclusiva, o Mare Nostrum.

Durante cerca de oito séculos, o Velho Mundo viveu sob a influência imediata das águias latinas pendentes em seu vitorioso estandarte. Ainda hoje esta civilização é admirada em sua engenhosa arquitetura, em suas técnicas militares, em sua arte de governar os conquistados, na ordem admirável do seu Direito, na sua arte secular e na riqueza da literatura.

A perenidade da cultura romana é vista, por exemplo, no latim, o idioma da cultura. Durante séculos foi usado nas universidades para transmitir o conhecimento humano. Inclusive após as invasões, quando as províncias cederam lugar aos reinos germânicos, a língua de Cícero espalhou-se por toda a Europa e se manteve pelos séculos através do inegável contributo da Igreja.

Os povos latinos, legítimos e imediatos herdeiros de Roma, espalharam as línguas românicas por todos os continentes. Cerca de metade da população mundial usa o alfabeto latino, e quase um terço da superfície terrestre é habitado por povos que têm por idioma uma das línguas românicas.

Roma é eterna. Entretanto, esta grandiosa perenidade do Império abrigou dois modos de conceber o espírito romano. Duas cidades disputavam abertamente a herança dos gloriosos antepassados do Lácio: Roma e Bizâncio. Ambas reluzem qualidades específicas nas expressões artísticas, nas formas de governo e na mentalidade de cada cidadão.

Com o decorrer dos séculos, esta diferença foi se solidificando até o momento no qual, com a divisão do Império em 395, a parte oriental passou a ser conhecida como Bizantina. Púrpura, cerimônia e esplendor lhe eram palavras correlatas. A erudição, a inteligência e a diplomacia de Bizâncio procuravam afirmá-la como única herdeira da cultura helênica e da grandeza latina.

Roma ou Bizâncio, quem haverá herdado a totalidade do espírito do Império? Como a Teologia da História poderia definir a diferença psicológica dos romanos orientais e dos ocidentais? Qual era, em última análise, o desígnio de Deus a respeito dessa maravilha de lógica, esplendor e grandeza vivida com matizes diversos, porém harmônicos, pelas duas capitais?

No artigo deste mês, O Império Romano nos planos de Deus, Dr. Plinio discorre sobre a vocação de uma das maiores civilizações da História. Para ele, as glórias de Roma e de Constantinopla serão objeto de contemplação inclusive no Céu, pois somente na ultravida poder-se-á atingir a plena concepção da grandeza deste Império que desde seus primórdios estava consciente de que nascera para ser eterno.