Encerrado o mandato de Dr. Plinio na Assembleia Nacional Constituinte, em 1934, novas eleições foram convocadas. Entretanto, dada a abstenção oficial da Junta Estadual da Liga Eleitoral Católica em ditas eleições, Dr. Plinio julgou conveniente recusar os honrosos convites de três das correntes eleitorais que constituíram a Chapa Única por São Paulo Unido, as quais desejavam incluir seu nome na lista de seus representantes para a Câmara Federal ou Estadual.

Porém, considerando que — fora e acima dos dissídios políticos — a Causa Católica carecia de defensores à margem de contendas temporais, Dr. Plinio acedeu ao pedido da juventude católica e inscreveu-se como candidato avulso.

A deliberação de um grupo de amigos, de lançar minha candidatura à Constituinte Estadual, desviou-me, porém, da rota tranquila que eu me dispunha a trilhar, sequioso, como estava, de assumir minhas funções de Professor na Universidade de São Paulo.

Era a voz da juventude católica, que me convidava a novo prélio, consciente de que o Catolicismo tem, perante o Brasil, responsabilidades próprias e inconfundíveis, e de que estas responsabilidades pesam de modo todo particular sobre os ombros da mocidade católica. Desejavam eles ter um porta-voz autorizado, na próxima legislatura, porta-voz que fizesse sentir, com todo o vigor de expressão que um representante privativamente católico poderia ter, o espírito novo que vibra em todos os católicos militantes de São Paulo; um espírito, aliás, impropriamente qualificado de novo, pois que outra coisa não é senão o espírito eterno da Verdade Católica, deitando raízes novas nos corações cheios de seiva, dos moços de Piratininga.

Obedeci. Há certas honras ou certas cruzes que se não recusam. E eis-me novamente a campo, para, em uma atitude caracteristicamente apolítica, iniciar uma nova cruzada a serviço da Causa Católica, só da Causa Católica, e de toda a Causa Católica.

Pedida minha exoneração do cargo de Secretário-Geral da Junta Estadual da Liga Eleitoral Católica, e orientando minha propaganda dentro de uma rigorosa disciplina às suas determinações, venho, com a mera autoridade de um particular, mas com o grande conforto de quem se sente impelido para a frente por um ideal superior aos homens, e que eles não conseguirão deter, concorrer ao próximo pleito eleitoral.

Com o intuito de conservar minha candidatura alheia às lutas partidárias, deliberou a comissão promotora de minha candidatura imprimir cédulas contendo em primeiro turno meu nome e, em segundo, respectivamente os candidatos de nossas principais correntes partidárias.

Uma única palavra me resta dizer. Apresentando-me como candidato “total e exclusivamente católico”, no dizer de Tristão de Athayde, é certo que minha posição não implica em olvido dos interesses temporais legítimos do Estado. É um erro de nossa época materializada supor que uma barreira indestrutível separa os interesses espirituais dos temporais. Uma sábia defesa dos interesses espirituais prepara, dirige e condiciona uma judiciosa gestão dos interesses temporais. Os primeiros governam os segundos, como o espírito governa a matéria. Não é necessário esquecer ou desprezar uns, para defender os outros. É num sentido exatamente oposto que a tendência católica se deve firmar. E, se há um aspecto que merece destaque especial em uma candidatura apolítica, levantada por elementos exclusivamente católicos, este aspecto sem dúvida é a reação dos valores espirituais contra a única preocupação dos interesses materiais.

A serviço da Igreja e, por estar a serviço da Igreja, também a serviço da Pátria, está erguida nossa bandeira.

(Extraído do “Diário da Noite” de 6/10/1934)