A harmonia parece ser um dos valores mais procurados neste século XXI. O mundo anda sôfrego à busca da concórdia, do diálogo, da paz e, talvez sem perceber, traz à tona uma realidade assaz esquecida: a desigualdade natural, posta por Deus no Universo. Como ensina São Tomás, “a diversidade das criaturas e seu escalonamento hierárquico são um bem em si, pois assim melhor resplandecem na criação as perfeições do Criador”1. E assim, a vida humana se ordena à maneira de uma enorme sinfonia de características, temperamentos e psicologias, aptas a se harmonizarem graças às suas diferenças. Por isto, apesar de vociferada aos quatro ventos, a igualdade continua a ser uma utopia irrealizável. No seio de uma autêntica civilização, é pelo princípio admirável da hierarquia que se estrutura esse amálgama de mentalidades desiguais, constituído pelos povos que a integram.

Para melhor compreender esse fenômeno, recorramos a uma interessante figura da natureza. As flores, carregadas de magníficos odores e requintada coloração, dão a esta Terra certo ar de paraíso. Mas essas pequenas preciosidades vegetais carecem de uma qualidade: tão estupenda aparência exterior comportaria sabores extraordinários! Entretanto, Deus não quis privá-las totalmente desse refinado privilégio, porque, em sua infinita sabedoria, dotou um pequenino ser, superior às flores, das capacidades necessárias para aperfeiçoá-las.

Verdadeira obra de arte é a atividade desse inseto, limpo e gracioso, o qual, pousando de flor em flor, colhe o que elas têm de mais excelente, o seu néctar, e eleva-o a um patamar inatingível pelas meras capacidades da planta: eis a tarefa da abelha ao produzir o mel. De si, a flor nunca atingiria tal grau de requinte. É mister entregar o que possui de melhor a outra criatura superior, dotada das qualidades necessárias para transformá-la.

Esta realidade é uma imagem feliz do que ocorre no relacionamento humano, diferenciando o espírito católico do igualitário. Este último tenta falsificar a harmonia entre os homens, acachapando-os no mesmo status; o primeiro, pelo contrário, eleva e nobilita os inferiores por meio dos superiores, num clima de caridade: “… se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria” (1 Cor 12,26).

Para a salvação das almas, Nosso Senhor instituiu na Santa Igreja a Sagrada Hierarquia, encabeçada pelo Papa, com a missão de santificar, ensinar e governar: Ela colhe o néctar dos méritos, orações e sacrifícios dos fiéis, elevando-os até Deus. E no ápice dessa Hierarquia deu a um homem, ao sucessor de Pedro, o dom de infalibilidade, de modo que ele possa guiar com segurança, nas vias da verdade, seus súditos. Admirável desigualdade que eleva toda a humanidade, dando-lhe a possibilidade de participar desse dom precioso de nunca cair em erro. Basta ser submisso ao Pontífice Romano.

1) Corrêa de Oliveira, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. São Paulo: Editora Retornarei, 2002. p. 71.