Quando Dr. Plinio era muito menino, encantava-lhe sentir a limpeza dos lençóis que, no começo de cada semana, encontrava estendidos de maneira ordenada e convidativa sobre sua cama. Ademais, no dia em que ficava pronta a roupa lavada, agradava-lhe visitar o cômodo para onde era trazida, a fim de observar o brilho da limpeza. Isto lhe marcara tanto a infância que, até o fim da vida, lembrar-se-ia do armário alto, de mogno bem torneado, onde era colocada essa roupa, muito bem passada e arranjada pela cuidadosa lavadeira.

— Que importância pode ter uma recordação de infância tão corriqueira na vida de um homem da estatura de Dr. Plinio? — poderá pensar alguém. — Tem-se a impressão de que puerilidades dessas não merecem constar na biografia de um homem adulto.

Uma objeção desse tipo demonstraria falta de profundidade da parte de quem a formulasse. Com efeito, a atitude do pequeno Plinio diante da roupa limpa não constituía um mero capricho infantil, mas era uma plataforma para altos voos espirituais. Pequenas circunstâncias e fatos da vida estavam, para ele, carregados de simbologia.

Desse modo, ele correlacionava a limpeza da roupa com a limpeza de alma; para ele, a roupa limpa estava como que nimbada de pureza. Na mesma linha, sentir os carinhos castos da fronha a lhe roçar no rosto, cheirar o odor do anil que naquele tempo se usava para acentuar a alvura da roupa, revolver-se entre os lençóis frescos de sua cama — tudo isso lhe recordava o movimentar de uma consciência livre de sentimentos de culpa; no caso concreto, de alguém inundado de felicidade por se sentir um bom menino. Percebia uma inteira consonância entre a pureza da roupa de cama e a pureza de sua alma, num tipo de relacionamento que, em linguagem filosófica, São Tomás de Aquino chama de conhecimento por conaturalidade.

Passado o tempo da infância, Dr. Plinio desenvolveria sempre mais seu pendor para fazer correlações quando tratava de explicar todo tipo de assunto, utilizando seu agudo senso das reversibilidades. Esse era, aliás, um dos ingredientes para tornar atrativas e densas suas conferências, aulas e conversas, nunca limitadas apenas a considerações abstratas, a meros jogos silogísticos, mas sempre coladas na realidade e repletas de lições, como, aliás, é fácil comprovar a cada número da revista “Dr. Plinio”.

No exemplar que vem a lume este mês, podemos ver como ele, ao tratar da retidão — qualidade de alma própria de quem deseja trilhar o caminho da santidade —, relaciona-a com a limpeza, e esta, por sua vez, lhe fará recordar as paisagens alpinas.