Por sua milenar e altamente simbólica Liturgia, por suas cerimônias pervadidas de mistério e de sacralidade, a Igreja nos conduz passo a passo pelas sendas da vida terrena de Jesus.

Numa sucessão de alegrias e de dores, desde a Gruta de Belém, podemos compartilhar, ao lado de Maria Santíssima e de São José, a indizível felicidade de contemplar o Menino Deus, experimentar a surpresa da chegada dos reis magos, padecer os sofrimentos e incertezas da fuga para o Egito, entristecer-nos e indignar-nos com a morte dos Santos Inocentes, convivermos com a Sagrada Família em Nazaré, assistirmos aos trabalhos de São José e do Menino Jesus na marcenaria, e sentarmo-nos à mesa degustando a refeição preparada por Nossa Senhora.

Para Deus não há tempo, tudo é presente. Sua Santa Igreja participa dessa atemporalidade, refletida na Liturgia, que nos permite efetivamente viver cada momento da vida de Jesus como se em concreto lá estivéssemos. Cada ato de desagravo de nossa parte, cada ato de amor, é levado em conta pelo Redentor, que tudo contemplou pela ciência divina. Essa é uma das razões pelas quais não podemos contemplar a vida de Nosso Senhor como meros espectadores, mas devemos nos envolver nela. Por isso mesmo devemos nos perguntar se, quando presencio os indizíveis sofrimentos padecidos por Nosso Senhor para a minha redenção, em retribuição, o que faço? Vivo como deveria, coerentemente com a minha fé? Tenho presente que cada falta minha representou um sofrimento a mais para Jesus?

Neste mês em que vamos com a Igreja seguir passo a passo a dolorosa Paixão de Nosso Senhor, devemos ter a alma transida de gratidão por tudo o que Ele quis padecer pela nossa salvação. Quanto mais nos compenetrarmos da grandeza dessas dores do Deus feito Homem, tanto mais nos rejubilaremos com Ele e com a Igreja na Páscoa da Ressurreição! É o ápice da Redenção, o clímax da Liturgia católica. Vivamos com Nosso Senhor esses grandiosos momentos, e, por certo, receberemos insignes graças de afervoramento e de santificação.

Para tal, muito auxiliarão as considerações de Dr. Plinio a respeito da compaixão de Maria Santíssima que, ao longo dos 33 anos de vida de Jesus, com Ele sofreu cada dor, cada perplexidade, cada ingratidão, até o alto do Calvário, como também compartilhou cada esperança, cada alegria, cada consolação, até o júbilo da Ressurreição.

De outro lado, como terá sido esse momento glorioso na vida do Homem-Deus? Foi algo processivo como o raiar da manhã ou, pelo contrário, como uma explosão magnífica, esplendorosa? A alguns toca mais a contemplação da Paixão, a outros, a da Ressurreição. Seja como for, contemplando esses mistérios pelo prisma que lhe é mais adequado, cada um se unirá mais ao Divino Redentor, e mais graças receberá para, em retribuição, tudo dar a Nosso Senhor.