Três momentos da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo são particularmente apropriados a alimentar nossas meditações na Sexta-Feira Santa.
A Crucifixão, culminando com o consummatum est, quando a Alma santíssima do Salvador separou-se de seu Corpo sagrado. A Vítima expirou, o sacrifício se fez e a Redenção se operou. Nesse momento fomos resgatados e a fonte de todas as graças se abriu para nós.
Após a morte, o Divino Redentor teve seu Coração perfurado pela lança de Longinus que feriu, assim, o próprio símbolo do amor, transpassado pelo furor dos perseguidores. Embora alguns intérpretes sustentem ter aquilo sido feito com a intenção de evitar uma agonia muito longa, sem dúvida foi a sanha dos inimigos d’Ele que O colocou na condição de receber um ferimento até mesmo no seu Coração Sagrado, do qual brotou a última gota de sangue e água derramada por nós, indicando o extremo de misericórdia, bondade e condescendência para conosco.
Diante desta cena, devemos pedir que Ele tenha pena de nós, de todos aqueles que labutam para sua santificação e dos que, tendo abandonado o bom caminho, empreenderam as vias da conversão. Que o Divino Crucificado, por misericórdia, traga todas as pessoas para junto d’Ele, as confirme e as leve adiante nas sendas da santidade.
Outro é o momento em que o Corpo inerte de Nosso Senhor está deitado no colo da Santíssima Virgem. Em face deste episódio, peçamos duas graças. Primeiramente, a de termos o senso da Paixão de Jesus Cristo. Muitos meditam sobre a Paixão com indiferença: “É uma coisa que já passou, o que tenho a ver com isso?” Ora, na Via Sacra costuma-se cantar: “Santa Mãe, fazei o seguinte: cravai em mim verdadeiramente as chagas de Cristo.” Quer dizer, fazei que eu tenha o senso da solidariedade com Cristo, sinta pena d’Ele, minhas dores sejam as d’Ele e eu viva em presença de sua Paixão.
Em segundo lugar, pensemos na Igreja que atravessa hoje uma Paixão parecida com a de Nosso Senhor Jesus Cristo. Supliquemos a graça de sair da mediocridade para ter constantemente diante dos olhos a Paixão tremenda pela qual está passando a Santa Igreja Católica.
Ao contemplar um terceiro momento – Cristo no sepulcro, lívido, abandonado – devemos considerar que Ele morreu, mas ressuscitou. Em muitas ocasiões a Santa Igreja parece morta, mas ela não morre nunca. Apesar de não ser capaz de ressurreição, ela como que ressurge sempre de todas as suas derrotas e humilhações. Portanto, por mais humilhada e conspurcada que esteja nos dias de hoje, é inegável que a Esposa de Cristo ressurgirá, e dos escombros do reino da Revolução surgirá o Reino de Maria.
Que Nossa Senhora nos dê a perspectiva dessa Páscoa do Reino d’Ela, que será algo à maneira da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesta hora na qual a causa católica se encontra como que em estado cadavérico no sepulcro, que Maria Santíssima nos dê uma confiança inabalável de que, ainda nos dias de nossa vida, veremos o Reino de seu Sapiencial e Imaculado Coração*.
* Cf. Conferência de 7/4/1966.