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Cristo Rei

A respeito da Festa de Cristo Rei é preciso considerar que esse Reinado se baseia em três títulos, cada qual marcando essa realeza com uma qualidade especial. Primeiramente, Nosso Senhor Jesus Cristo é Rei por ser Deus; em segundo lugar, encarnou-Se e, como Homem-Deus, é o Chefe natural de toda a humanidade; por fim, porque é o nosso Redentor que morrendo na Cruz conquistou para nós a salvação eterna, o que Lhe confere sobre nós um direito pleno, tornando-O, em verdade, o nosso Rei.

Entretanto, o Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo se estabelece sobre pessoas e não territórios. É um reino de almas onde cada família, nação, Ordem religiosa constitui como que uma província. Na harmonia de todos esses grupos humanos e famílias de alma, como também dos indivíduos, encontramos a realidade e a beleza do Reinado de Cristo.

Nosso Senhor Jesus Cristo, como Rei, defende cada alma contra o ataque do adversário com um amor, um conhecimento do valor daquela alma e do que ela significa para a unidade do seu Reino muito maiores do que o Rei da França, por exemplo, defenderia a Auvergne, a Lorena ou a Alsácia.

Trata-se de um valor de caráter moral e espiritual, e isso nos leva a considerar que cada vez que Cristo Rei perde ou vê diminuído o exercício efetivo de sua realeza sobre uma alma, tem uma tristeza parecida com a do rei que perde uma de suas províncias e, junto com ela, toda uma ordem de beleza ideal. Mas também, cada vez que uma alma retorna a Ele, é uma volta com todas as alegrias dessa restituição.

Essas alegrias e tristezas repercutiram n’Ele em sua vida terrena e devem ser objeto de nossa consideração na Festa de Cristo Rei, pondo-nos a seguinte questão: O Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo está se realizando em nós como deseja o Divino Redentor?

Por mais desfigurada e conspurcada que se encontre, em nossos dias, a Santa Igreja Católica é um jardim onde continuamente desabrocham flores para Nosso Senhor. Quiçá só no dia do Juízo Final poderemos saber quantos santos florescem isolados e odiados, aqui, lá e acolá, na ignorância e no abandono, dando a Deus uma glória completa e magnífica.

Tudo isso, em seu conjunto, constitui o Reinado de Nosso Senhor sobre os homens; realeza todavia incompleta, mas marchando para ser completa e, por isso mesmo, uma razão contínua de alegria para Ele.

Peçamos, pois, a Cristo Rei, por meio de sua Mãe Santíssima, que nos dê a compreensão de todos os esplendores da Igreja Católica e do Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre essas almas que Lhe são fiéis, as quais, à maneira de um céu maravilhoso, têm como Astro central o Imaculado Coração de Maria. Estrela mais preciosa não poderia haver. Então, compreenderemos tantas graças recebidas e quantos motivos temos para esperar o perdão e a misericórdia, e para pedirmos muitos favores com plena confiança.*

* Cf. Conferências de 21/10/1964 e 29/10/1966.