São Miguel - Museu Episcopal - Vic. Espanha

São Miguel é um dos sete espíritos adidos ao trono do Altíssimo. Portanto, um dos principais da Corte celeste e um dos ministros a quem o Criador conferiu mais extraordinários poderes para auxiliar os eleitos nas suas lutas.

O Profeta Daniel chama-o “um dos mais ilustres Príncipes” e “Príncipe protetor dos Judeus” (cf. Dn 10, 13.21), isto é, do povo escolhido como depositário da verdadeira Fé, especialmente amado por Deus e objeto de seus mais vivos cuidados. A custódia, pois, do povo do qual devia nascer o Salvador tinha sido entregue a São Miguel. Simplesmente esse fato já revela a sua dignidade e poder.

Hoje, a depositária de todas as tradições e prerrogativas do povo eleito é a Igreja. Herdando todos os seus dotes, naturalmente ela recebe mais essa graça.

Inimigo da mentira e do orgulho, São Miguel venceu o demônio quando este, apesar de espírito elevadíssimo, revoltou-se contra Deus. Tal luta se perpetua e, portanto, essa parte de sua missão é constantemente atual.

Como Lúcifer não pode ter mais a pretensão de se igualar a Deus, nem mesmo de lutar diretamente contra Ele, procura se vingar nas criaturas que constituem o objeto do divino amor. Mas a consciência do homem é um lugar secreto, só conhecido do próprio Deus. Assim, o demônio normalmente não pode perceber qual seja o nosso estado de espírito, senão pelas aparências exteriores. Lança, pois, mãos dos meios mais astuciosos para nos seduzir, dos meneios mais sutis, mais secretos, das atitudes na aparência mais dignas e respeitáveis, escondendo sua malícia e nos apresentando vantagens em pequenas capitulações. Esse foi sempre o seu papel, desde que viu a sua força, incomparavelmente superior à dos homens, cerceada pelo Criador de todas as coisas. Não podendo nos vencer em luta aberta, por sermos defendidos pelo Todo-Poderoso, usa de sua astúcia má para aos poucos nos dominar.

A missão, pois, de São Miguel de manter o demônio subjugado e defender-nos contra os seus embustes é de todos os tempos. Antes da vinda de Cristo à Terra, o povo hebreu era o escolhido porque melhor conservara as tradições monoteístas herdadas de nossos primeiros pais. Todo esse tesouro ciosamente guardado no seio de um povo por tantos séculos, foi completado, e de modo definitivo, com a vinda do Salvador. Portanto, essa nova ordem estabelecida pelo próprio Verbo Divino encarnado é incomparavelmente superior à precedente, exigindo de seu celeste protetor muito mais desvelo.

Ora, se uma violação da Lei antiga era tão grave que, não raro, Deus castigava imediatamente quem a cometesse, tanto mais grave é qualquer atentado contra a Nova Lei, embora o castigo não seja tão pronto e violento.

Assim, muito tem hoje que fazer São Miguel Arcanjo contra o paganismo moderno, quer ele se manifeste sob a forma de um agnosticismo pernóstico e incoerente, ou de uma mitologia inferior, ou ainda de um estatismo que restringe a finalidade humana a um complemento do Estado, reduzindo o homem a uma peça incógnita, integrante do grande todo e dócil objeto de seu orgulho.

Grande é o poder dos espíritos celestes, principalmente do Arcanjo São Miguel, cuja missão é tão relevante. A devoção aos Santos Anjos não é muito desenvolvida entre nós, entretanto ela é preciosa, pois além de poderosíssimos, eles têm a incumbência de nos proteger de maneira especial. Portanto, neste momento em que, talvez como nunca, o dia de amanhã é uma incógnita, seria esplêndido cultivar com mais carinho devoção tão indicada.*

* Cf. O Legionário n. 367, 24/9/1939.