Dr. Plinio prognosticava a multiplicação das conversões, à medida que o mundo caminhasse para a degringolada, permitindo que um número crescente de pessoas abrissem os olhos para essa situação. Transcrevemos aqui um de seus trechos mais notáveis a esse respeito, extraído do livro “Revolução e Contra-Revolução”.
Ninguém pode fixar limites à inexaurível variedade das vias de Deus nas almas. Seria absurdo reduzir a esquemas assunto tão complexo. Não se pode pois, nesta matéria, ir além da indicação de alguns erros a evitar e de algumas atitudes prudentes a propor.
Toda conversão é fruto da ação do Espírito Santo, que, falando a cada qual segundo suas necessidades, ora com majestosa severidade, ora com suavidade materna, entretanto nunca mente.
Nada esconder
[…] A Contra-Revolução não deve, pois, dissimular seu vulto total. Ela deve fazer suas as sapientíssimas normas estabelecidas por São Pio X para o proceder habitual do verdadeiro apóstolo: “Não é leal nem digno ocultar, cobrindo-a com uma bandeira equívoca, a qualidade de católico, como se esta fosse mercadoria avariada e de contrabando” (Carta ao Conde Medolago Albani, Presidente da União Econômico-Social, da Itália, datada de 22/11/1909). Os católicos não devem “ocultar como que sob um véu os preceitos mais importantes do Evangelho, temerosos de serem talvez menos ouvidos, ou até completamente abandonados” (Encíclica Jucunda Sane, de 12/3/1904). Ao que judiciosamente acrescentava o santo Pontífice: “Sem dúvida, não será alheio à prudência, também ao propor a verdade, usar de certa contemporização, quando se tratar de esclarecer homens hostis às nossas instituições e inteiramente afastados de Deus. As feridas que é preciso cortar — diz São Gregório — devem antes ser apalpadas com mão delicada. Mas essa mesma habilidade assumiria o aspecto de prudência carnal se erigida em norma de conduta constante e comum; e tanto mais que desse modo pareceria ter-se em pouca conta a graça divina, que não é concedida somente ao Sacerdócio e aos seus ministros, mas a todos os fiéis de Cristo, a fim de que nossas palavras e atos comovam as almas desses homens” (doc. cit. ibid.).
O “choque” das grandes conversões
[…] Ora, segundo a História, afigura-se que as grandes conversões se dão, o mais das vezes, por um lance de alma fulminante, provocado pela graça ao ensejo de qualquer fato interno ou externo. Esse lance difere em cada caso, mas apresenta com freqüência certos traços comuns. Concretamente, na conversão do revolucionário para a Contra-Revolução, ele, não raras vezes e em linhas gerais, se opera assim:
* Na alma empedernida do pecador que, por um processo de grande velocidade, foi logo ao extremo da Revolução, restam sempre recursos de inteligência e bom senso, tendências mais ou menos definidas para o bem. Deus, embora não as prive jamais da graça suficiente, espera, não raramente, que essas almas cheguem ao mais fundo da miséria, para lhes fazer ver de uma só vez, como num fulgurante “flash”, a enormidade de seus erros e de seus pecados. Foi quando desceu a ponto de querer se alimentar das bolotas dos porcos que o filho pródigo caiu em si e voltou à casa paterna (cfr. Lc 15,16 a 19).
* Na alma tíbia e míope que vai resvalando lentamente na rampa da Revolução, atuam ainda, não inteiramente recusados, certos fermentos sobrenaturais; há valores de tradição, de ordem, de Religião, que ainda crepitam como brasas sob a cinza. Também essas almas podem, por um sadio sobressalto, num momento de desgraça extrema, abrir os olhos e reavivar em um instante tudo quanto nelas definhava e ameaçava morrer: é o reacender-se da mecha que ainda fumega (cfr. Mt 12,20).
A plausibilidade desse “choque” em nossos dias
Ora, toda a humanidade se encontra na iminência de uma catástrofe, e nisto parece estar precisamente a grande ocasião preparada pela misericórdia de Deus. Uns e outros — os da velocidade rápida ou lenta — neste terrível crepúsculo em que vivemos, podem abrir os olhos e converter-se a Deus.
O contra-revolucionário deve, pois, aproveitar zelosamente o tremendo espetáculo de nossas trevas para — sem demagogia, sem exagero, mas também sem fraqueza — fazer compreender aos filhos da Revolução a linguagem dos fatos, e assim produzir neles o “flash” salvador. Apontar varonilmente os perigos de nossa situação é traço essencial de uma ação autenticamente contra-revolucionária.
(Excertos de “Revolução e Contra-Revolução”, parte II, cap. 8. No capítulo 1 dessa obra, Dr. Plinio explica o sentido especial no qual emprega as palavras “Revolução”, “Contra-Revolução” e termos derivados.)