Chamado por Deus à missão de sacralizar a ordem temporal, Dr. Plinio tomava como padrão para o relacionamento humano o convívio entre os bem-aventurados no Céu. É a partir desse modelo supremo – sobre o qual nos fala o excerto abaixo* – que melhor se compreendem suas explicitações, presentes nesta edição, a respeito do trato social.
A vida social considerada no sentido em que ela existe aqui na Terra, ou seja, um convívio mais ou menos cerimonioso e festivo de pessoas que, além de se distraírem juntas, fazem desse entretenimento uma oportunidade para cada uma marcar e fazer sentir o respectivo valor, é-me difícil admitir que haja, propriamente assim, no Céu.
A meu ver, a vida social no Céu empíreo é toda ela compreendida em função de Deus. Assim, poder-se-ia supor circunstâncias nas quais Deus beneficia, privilegia alguma alma para relembrar a ação excelente realizada por ela na Terra, em determinada ocasião. Isso daria lugar a algo à maneira de comemoração social entre os bem-aventurados para festejar o que Deus fez para aquele Santo. Portanto, Deus está sempre como o centro e o ápice de tudo, e o mais importante não foi o fato de tal pessoa ter recebido um benefício, mas que Deus a tenha exaltado.
O mistério da Visitação nos faz pensar nisso quando, ao chegar Nossa Senhora à casa de Zacarias, Santa Isabel diz a Ela que a criança se tinha rejubilado em seu ventre com a chegada do Menino-Deus. Esse júbilo, a seu modo, é uma espécie de arte de vida social. Quer dizer, certamente São João Batista, pressentindo a chegada do Salvador, apresentou-Lhe sua primeira homenagem.
Esse seria um modo de ver as relações sociais no Céu. Deus diz tal coisa a respeito de tal Santo e isso produz uma movimentação dentro de todo o mundo dos bem-aventurados, que comentam e glorificam aquilo que aquele Santo fez.
É interessante notar que, propriamente, o auxílio prestado pela Santíssima Virgem a Santa Isabel era um tanto servil. Se Deus queria d’Ela a prestação desse serviço, era para que, em última análise, o Menino Jesus vivendo n’Ela fizesse de São João Batista o primeiro beneficiado d’Ele. Porque os benefícios que Ele deve ter feito a São João Batista, na ordem da alma, já naquele momento em que os dois se comunicavam, foi uma coisa colossal!
Mas Nosso Senhor quis também que Nossa Senhora prestasse à sua prima uma certa reverência, e isso se traduzia em termos de serviço. Dando a entender dessa maneira que, nas relações hierárquicas, um dos requintes está em que o superior, por perfeição, chegue a servir o seu subordinado. Isso é tão contrarrevolucionário que pode até exasperar alguns, mas é ótimo para a Contra-Revolução.
Penso que isso tudo caracterizaria uma vida social celeste, diferente da terrena por causa da presença suprema de Deus, em função da qual tudo se realiza.
* Conferência de 27/1/1995.