sábado, septiembre 21, 2024

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Nada se perde na Igreja

Todo desejo piedoso, pensamento bom, qualquer obra de caridade feita por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo reverte em bem para todo o corpo da Igreja. Os tesouros da Santa Igreja revelam o entrelaçamento insondável entre a justiça e a misericórdia de Deus.

Estamos próximos do dia de Finados, por isso é adequada a leitura de uma ficha de Catarina Emmerich retirada das “Visões e Revelações Completas”1.

Visão das penas do Purgatório

Esta noite pedi muito pelas almas benditas e vi as numerosas e miseráveis penas que elas padecem e a incompreensível misericórdia de Deus.

Vi a infinita justiça de Deus e a sua misericórdia e compreendi que não há coisa alguma verdadeiramente boa no homem que não lhe seja útil. Vi o bem e o mal passando de pais a filhos converter-se em salvação e felicidade pela vontade e cooperação destes. Vi socorrer de um modo admirável as almas com os tesouros da Igreja, com a caridade dos seus membros.

Vi muitos estados de purificação, em particular vi castigados aqueles sacerdotes afeiçoados às suas comodidades e ao sossego e que dizem: “Com um lugarzinho no Céu estou satisfeito, eu rezo, digo Missa, etc.” Estes sentirão indizíveis tormentos e vivíssimos desejos de boas obras e verão a sua frente todas as almas a quem privaram de seu auxílio, e terão que sofrer um horrível desejo de socorrê-las. Toda a negligência se converterá em tormento para a alma, sua quietude em impaciência, sua inércia em cadeias. E estes castigos não são já invenções, mas proce dem clara e admiravelmente do pecado, como a enfermidade da causa que a produz.

Sempre vi que nada se perde de quanto se faz na Igreja em união com Jesus. Como o desejo piedoso, todo pensamento bom, qualquer obra de caridade feita pelo amor de Jesus reverte em bem para todo o corpo da Igreja e que aquele que não faça outra coisa que rogar a Deus em plena caridade por seus irmãos, este faz uma grande e salutar obra.

As almas precisam de orações

Ana Catarina Emmerich teve ocasião de ver o Purgatório. Vários aspectos dele se lhe apresentaram. Ela viu as penas tremendas das almas e como estas podem ser socorridas por nossas orações.

Flávio Lourenço
O Viático na Montanha da Navarra – Museu de Navarra, Pamplona, Espanha

Há muitas pessoas que fazem o seguinte cálculo: à primeira vista parece não valer muito a pena rezar pelas almas do Purgatório, considerando que, afinal de contas, elas cedo ou tarde vão para o Céu, enquanto as almas periclitantes nesta Terra podem ir para o Inferno, existindo, portanto, muito mais mérito rezar por estas últimas do que pelas outras. Este é um erro que pode seduzir até espíritos muito zelosos e razoáveis e é, portanto, o momento de desfazermos este equívoco, no qual a própria Ana Catarina Emmerich caiu. Ao narrar suas visões, ela conta como se corrigiu.

Apareceu-lhe não me lembro que Santo e fez a ela o seguinte comentário: “Está no Purgatório uma alma piedosa, ela está no fogo, um fogo verdadeiro, não um símbolo, mas material.”

O que é estar com o corpo dentro de fogo? É algo tremendo! Imaginem então estar com a alma dentro do fogo. Não adianta dizer: “A alma não é combustível”, porque, por ordem de Deus, dá-se um milagre por onde a alma se queima e sofre os verdadeiros tormentos das chamas.

Dizia esse Santo a Ana Catarina Emmerich: “Aqui está uma alma que foi boa, ela vai para o Céu, mas encontra-se há séculos no Purgatório. Ali está um bandido que irá para o Inferno. Vale a pena deixar esse coitado séculos no Purgatório para salvar um bandido de um Inferno merecido? Evidentemente não.”

Flávio Lourenço
Coroação da Virgem do Lledó em 1924 – Basílica da Mãe de Deus do Lledó, Castellón, Espanha

É preciso ter um certo senso de distribuição por onde cada um, tocado pelos estímulos da graça que indica o desejo da Providência sobre cada um, ora rogue algum tanto pelas almas do Purgatório, ora pelas almas em perigo de se perderem.

Entretanto, nessa visão, ela viu o fogo, os tormentos do Purgatório e ela faz algumas considerações a respeito desse tormento.

A justiça e a misericórdia de Deus com relação às almas

A primeira consideração é o mistério da justiça e da misericórdia divinas.

Deus é infinitamente justo e, mesmo amando as almas do Purgatório, Ele precisa puni-las. Ele é infinitamente misericordioso, mas, mesmo punindo as almas que estão ali, Ele quer atenuar os seus sofrimentos. Por isso várias visões contam que Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia contínua e inesgotável, com frequência intervém ali. Por exemplo, em todas as suas grandes festas Ela vai até lá com uma coorte de Anjos, levando consigo uma alegria indizível para dentro do Purgatório. Ela leva então miríades de almas para o Céu, por um ato soberano d’Ela, liquidando sentenças, penas e qualquer outra aflição.

Dorotheu (CC3.0)
Purgatório – Dorotheum, Viena

Para aquelas que não conduz para o Céu, a Santíssima Virgem muitas vezes diminui consideravelmente as penas ou as abrevia, de modo que cada festa de Nossa Senhora na Terra é uma libertação no Purgatório, sem contar as outras grandes festas do calendário: Páscoa, Semana Santa, Natal. As penas são, dessa forma, muitas vezes abreviadas de um modo maravilhoso. Há aqui um entrelaçamento insondável entre a justiça e a misericórdia, que mostra uma justiça e uma misericórdia tão grandes que o homem, abismado, não logra visualizar bem até onde chega a amplitude desses dois atributos de Deus quando considera o Purgatório.

De geração em geração…

A vidente conta:

Eu vi o bem e o mal passando de pais a filhos e converter-se em salvação e fidelidade pela vontade e cooperação destes.

É uma coisa curiosa, mas há graças, bênçãos concedidas por Deus, às vezes a estirpes inteiras e que se propagam de pai para filho, de geração em geração para chegar até a última posteridade.

Com as devidas ressalvas, porque a maldição não é igual à bênção, há também retrações de graças, há defeitos, às vezes há tentações que também se repetem de geração em geração numa mesma família. E embora ninguém seja salvo pela bênção hereditária, nem se perca pela maldição hereditária, pois todo homem tem graça suficiente para salvar-se e, correspondendo à graça, se salva, entretanto, esses tesouros misteriosos de bênçãos e esses terríveis reservatórios de maldição fixam-se e, às vezes, consomem ou reedificam linhagens inteiras.

Em geral nós temos a respeito da decadência das famílias ideias muito erradas e julgamos que ela se dá por perda de dinheiro. Não podendo luxar como antes, não têm a mesma influência, o mesmo prestígio. Entretanto, no fundo, há uma espécie de perda de grandeza de alma, de capacidade de ter e de adotar grandes ideais, de fazer grandes coisas e, em geral, a pobreza, a ruína econômica é um resultado da bobeira.

Por isso Ana Catarina Emmerich diz ter visto as bênçãos e as maldições hereditárias, também das nações, percorrendo a História.

O remorso pelo bem não praticado

Ela diz:

Arquivo Revista
São João Bosco e São Domingos Sávio Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Roma

Vi socorrer de um modo admirável as almas com os tesouros da Igreja e com a caridade dos seus membros.

Quer dizer, com as orações feitas pelas almas.

Vi muitos estados de purificação. Em particular, vi castigados aqueles sacerdotes afeiçoados às suas comodidades e ao seu sossego.

Sacerdotes que gostam da vidinha.

“Com um lugarzinho no Céu, estou satisfeito, rezo, digo Missa, etc.”

Quantos católicos há como esses sacerdotes, que julgam cumprir seu dever não cometendo pecado mortal, rezando, fazendo pequenos sacrifícios, desempenhando os pequenos deveres e no resto levando vida regalada! Quantos de nós, assistindo a algumas cerimônias religiosas, não temos esta sensação a respeito do padre e da maior parte dos fiéis que estão na igreja: tudo sossegadinho, meio rezando, meio bocejando! É este estado de espírito minimalista.

Então, qual é o sofrimento que eles padecem no Purgatório? Além do fogo, o remorso. Eles veem com uma clareza interior tudo quanto poderiam ter feito e não fizeram. E isto atormenta a alma deles superlativamente.

Lembro aqui uma visão que São João Bosco teve de São Domingos Sávio no Céu.

São Domingos Sávio foi ao encontro dele com um cortejo enorme de almas cantando louvores a Dom Bosco, que perguntou o que era aquilo.

— Essas são todas as almas salvas por vosso apostolado.

— Mas eu receio que muitas não se tenham salvado por minha falta de correspondência completa à graça.

Domingos Sávio respondeu:

Arquivo Revista
Dr. Plinio em novembro de 1967

— Isto é bem verdade.

O que um tormento desses significa? Vermos estar no Inferno, fadado a uma eterna infelicidade, desventura, um indivíduo que nós poderíamos ter contribuído para salvar? O que aquilo nos faz sofrer? É algo tremendo. Se nós fôssemos culpados por leviandade, por tontice, de uma trombada de automóvel que tivesse feito alguém ficar cego; vendo aquela pessoa cega a vida inteira, que remorso! Pois bem, é muito maior esse remorso pelo bem não praticado. As almas vão contemplar, vão ter a visão e o sofrimento disso no Purgatório.

Mas tem-se uma afirmação muito consoladora: nada se perde, nem sequer um desejo piedoso ou um pensamento bom, quando foi feito por amor à Igreja, porque aquilo faz bem para todo o Corpo Místico. E aquele que não faça outra coisa senão rogar a Deus em plena caridade por seus irmãos, esse faz uma grande e salutar obra. São aqueles dedicados a pedir a Deus Nosso Senhor que evite que as almas vão para o Inferno, que determine a saída das almas do Purgatório e, sobretudo, a exaltação da Santa Igreja Católica na Terra.

(Extraído de conferência de 1/11/1967)

1) Não dispomos dos dados dessa obra.

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