Nos tópicos de “Revolução e Contra-Revolução” transcritos a seguir, Dr. Plinio ensina como as diferenças de aptidões ocasionam desigualdades harmônicas, contra as quais a Revolução se insurge, apresentando como princípios metafísicos para a humanidade um igualitarismo completo e um desenfreado liberalismo.
Quais as paixões desregradas que geram o igualitarismo e o liberalismo?
“A par do orgulho gerador de todo igualitarismo, a sensualidade, no mais largo sentido do termo, é causadora do liberalismo. É nestas tristes profundezas que se encontra a junção entre esses dois princípios metafísicos da Revolução, a igualdade e a liberdade, contraditórios em tantos pontos de vista” (p. 72).
A hierarquia na alma
Na própria alma humana há também hierarquia?
“Deus, que imprimiu um cunho hierárquico em toda a criação, visível e invisível, fê-lo também na alma humana. A inteligência deve guiar a vontade, e esta deve governar a sensibilidade. Como conseqüência do pecado original, existe no homem um constante atrito entre os apetites sensíveis e a vontade guiada pela razão: ‘Vejo nos meus membros outra lei, que combate contra a lei da minha razão’ [Rm 7, 23].
“Mas, a vontade, rainha reduzida a governar súditos postos em contínuas tentativas de revolta, tem meios de vencer sempre… desde que não resista à graça de Deus [cf. Rm 7, 24-25]” (pp. 72-73).
Predomínio da espontaneidade
O que o processo revolucionário produz nas relações entre as potências da alma?
“O processo revolucionário, que visa o nivelamento geral, mas tantas vezes não tem sido senão a usurpação da função retriz por quem deveria obedecer, uma vez transposto para as relações entre as potências da alma haveria de produzir a lamentável tirania de todas as paixões desenfreadas, sobre uma vontade débil e falida e uma inteligência obnubilada. Especialmente o domínio de uma sensualidade abrasada, sobre todos os sentimentos de recato e de pudor.
“Quando a Revolução proclama a liberdade absoluta como um princípio metafísico, fá-lo unicamente para justificar o livre curso das piores paixões e dos erros mais funestos” (p. 73).
O que o processo revolucionário nas almas ocasionou nos jovens?
“O processo revolucionário nas almas, assim descrito, produziu nas gerações mais recentes (…) um feitio de espírito que se caracteriza pela espontaneidade das reações primárias, sem o controle da inteligência nem a participação efetiva da vontade; pelo predomínio da fantasia e das ‘vivências’ sobre a análise metódica da realidade: fruto, tudo, em larga medida, de uma pedagogia que reduz a quase nada o papel da lógica e da verdadeira formação da vontade” (p. 75).
Em conseqüência do pecado original, perturbou-se a hierarquia na alma humana, gerando um constante atrito entre a sensibilidade e a vontade guiada pela razão: “vejo nos meus membros outra lei…” (Rom 7, 23)
Igualitarismo e liberalismo
Qual a essência do liberalismo?
“O direito de pensar, sentir e fazer tudo quanto as paixões desenfreadas exigem, é a essência do liberalismo. Isto bem se mostra nas formas mais exacerbadas da doutrina liberal. Analisando-as, percebe-se que o liberalismo pouco se importa com a liberdade para o bem. Só lhe interessa a liberdade para o mal. Quando no poder, ele facilmente, e até alegremente, tolhe ao bem a liberdade, em toda a medida do possível. Mas protege, favorece, prestigia, de muitas maneiras, a liberdade para o mal. No que se mostra oposto à civilização católica, que dá ao bem todo o apoio e toda a liberdade, e cerceia quanto possível o mal.
Ora, essa liberdade para o mal é precisamente a liberdade para o homem enquanto ‘revolucionário’ em seu interior, isto é, enquanto consente na tirania das paixões sobre sua inteligência e sua vontade (pp. 73-74).”
O que a Revolução pretende realizar, em seu termo final?
“O orgulho, enquanto gera o ódio a qualquer autoridade, induz a uma atitude nitidamente liberal. E a este título deve ele ser considerado um fator ativo do liberalismo. Quando, porém, se deu conta de que, se deixarmos livres os homens, desiguais por suas aptidões e sua aplicação, a liberdade engendrará a desigualdade, a Revolução, por ódio a esta, deliberou sacrificar aquela. Daí nasceu sua fase socialista. Esta fase não constitui senão uma etapa. A Revolução espera, em seu termo final, realizar um estado de coisas em que a completa liberdade coexista com a plena igualdade” (p. 74).