Enquanto os Anjos de nossos piedosos presépios ostentam dísticos nos quais se lê: “Glória a Deus nos Céus, e paz na terra aos homens de boa vontade”, a imprensa diária está cheia de notícias terríveis que destoam tristemente da promessa angélica.

Estes dizeres, com os quais Dr. Plinio iniciava seu artigo para o Legionário de 27 de dezembro de 1936, aplicam-se de modo impressionante — e com maior razão — a nossos dias.

Por toda a parte só encontramos ódio, rancor, perseguição.

Exagero? Será que hoje, 64 anos após Dr. Plinio se ter expresso assim, o mundo está melhor? Estarão a caridade, o amor fraterno, a bondade, governando as relações humanas nos presentes dias? Só alguém alheio ao que se passa por toda a parte, alheio até mesmo ao perigo que ronda sua própria casa, poderia afirmá-lo.

Apesar de tudo, a hora não é de perder a esperança:

Cumpre que não desanimemos. Não seríamos dignos da graça inestimável do Batismo que recebemos, se permitíssemos que o pânico se apoderasse de nós. Nem na ordem natural, nem na ordem sobrenatural, há motivos que justifiquem a inércia e o pessimismo.

Seguindo o conselho de Dr. Plinio, devemos erguer a vista para os Céus, colocando-nos inteiramente nas mãos do Pai. E então, como há dois milênios, uma luz brilhará para nós no meio da noite, esplendorosa, atraente, confortadora, espargida por um Menino que uma Virgem deu ao mundo.

Mas, dirá alguém, Cristo é um Salvador ausente. Eternamente mudo, atrás da cortina de nuvens que o escondem no Céu. Ele não se mostra à humanidade aflita. E esta, então, corre à busca de outros pastores.

A esta objeção, Dr. Plinio responde:

É horrível dizê-lo, mas há entre católicos quem fale assim. Há ainda quem não ouse falar, mas pense assim. E há quem não ouse pensar, mas sinta assim! Daí o existirem católicos que têm mais esperança na ação [humana] do que na ação de Cristo.

Ah! São esses os corações que recebem a visita eucarística do Cristo, mas não recebem o seu Espírito: “In propria venit, et sui eum non receperunt” [Veio para os seus, e eles não O receberam]. Ah! São esses os corações que ouvem a palavra de Cristo, vinda do Vaticano, e não conhecem na voz do Papa o timbre da voz de Deus. A palavra do Papa ecoa no mundo, e o mundo não a conhece: “Lux in tenebris lucet, et tenebrae eam non comprehenderunt” [A luz brilhou nas trevas, e as trevas não a compreenderam].

Cristo, para o bom católico, não está ausente. Na Eucaristia, Ele está tão realmente quanto esteve na Judéia. E do Vaticano fala tão verdadeiramente quanto falou ao Povo de Israel. A Igreja é tão seguramente guiada por Cristo em 1936 quanto o eram os Apóstolos, antes da Ascensão. O que Cristo quer fazer, fá-lo por meio da Igreja. O que Cristo quer dizer, di-lo por meio do Papa. Logo, a Igreja, em certo sentido, é onipotente e onisciente, porque é instrumento da onipotência e porta-voz da onisciência de Deus.

Se Cristo é o Salvador único, a Salvação virá da Igreja. Trabalhar, lutar, sofrer, rezar, imolar-se ou sacrificar-se alegremente pela Igreja, deve ser o fruto desta meditação de Natal. …

Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade.