“Cristo no seu trono”, mosaico da Basílica de Santa Maria Maior, em Roma

Há séculos os católicos mantêm o belíssimo culto a Nosso Senhor  Jesus Cristo enquanto Rei de todas as criaturas. Mas, além das orações e da veneração aos símbolos, é preciso fazer algo mais para honrar essa divina realeza. O quê? Dr. Plinio o diz neste artigo.

A doutrina da realeza de Jesus Cristo está intimamen­te ligada à antiga e belíssima prática da entronização do Sagrado Coração de Jesus nos lares. Se alguém entroniza a imagem do Sagrado Coração de Jesus no lugar mais rico e mais nobre do lar, é exatamente por­que reconhece que Ele é rei.

Entretanto — triste constatação! — essa piedosíssima prática acha-se em nossos dias quase completamente aban­donada.

O único modo de obedecermos a Cristo Rei é conhecer sua vontade, através do estudo dos Mandamentos e do Catecismo, e segui-la
(“Cristo ensinando aos Apóstolos”, igreja de Santo Ambrósio, Pavia)

Nessas condições, talvez não seja su­pérfluo recordar aqui a doutrina tra­dicional da Igreja sobre a realeza de Cristo.

Na sua infinita misericórdia, Deus dignou-se comparar o amor infinito com que nos ama, ao amor que nos têm nos­sos pais. Evidentemente, não quer isto dizer que Ele tenha reduzido na comparação as insondáveis dimensões de seu amor, para as ames­quinhar até as proporções exíguas dos afetos de que os homens são capazes. Se Ele se ser­viu dessa comparação do amor paterno, foi apenas para nos dar a entender, de longe, o quanto Ele nos ama.

Se dermos à palavra “pai” o sentido que ela tem na ordem natural, Deus não é apenas nosso Pai, mas, muito mais do que isto, por ser nosso Cria­dor. Porém, como a função de pai, na natureza, não é senão a de coadjuvar Deus na obra da criação, se alguém me­rece na realidade o nome de Pai, é Deus. E nosso pai segundo a natureza outra coisa não é senão o depositário de uma parcela da paternidade que Deus tem sobre nós.

O mesmo se dá com a realeza de Jesus Cristo. Para nos fazer compre­ender a autoridade absoluta que, como Deus, Ele tem sobre nós, Jesus Cristo dignou-se comparar-se com um rei. Entretanto, como é por Ele que reinam os reis, e a autoridade dos reis só é autêntica por provir d’Ele, na rea­lidade o único Rei, Rei por excelência, é Ele. E os reis ou chefes de Estado não são senão seus humildes acólitos, dos quais Ele se digna servir-se na obra da direção do mundo. Cristo é Rei por ser Deus. Chamando-O de Rei, que­remos simplesmente afirmar a onipo­tência divina, e nossa obriga­ção de obe­decer-Lhe.

Ao lado da oração e da prática dos Sacramentos, é pela filial e assídua devoção à Santíssima Virgem que conquistaremos para Nosso Senhor o reino d’Ele dentro de cada um de nós
(“Imaculada Conceição”, oratório na Praça Banchi, em Gênova)

Obediência! Eis aí um dos concei­tos contidos essencialmente no conceito da realeza de Nosso Senhor. Cris­to é Rei, e a um rei deve-se obediência. Festejar a realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo é festejar seu po­der sobre nós. E, implicitamente, nossa obediência em relação a Ele.

Como é que se obedece a um rei?

A resposta é simples: conhecendo-lhe as vontades e cumprindo-as com amorosa e pormenorizada exatidão. Assim, pois, o único modo de obedecermos a Cristo Rei é conhecer sua von­tade, e segui-la.

Dessa noção tão clara, tão simples, tão luminosa, segue-se um programa de vida, também ele claro, luminoso e simples.

Para conhecer a vontade de Cristo Rei, devemos conhecer o Catecismo. Por­que é ali, através do estudo dos Mandamentos, estudo este que só se­rá completo com o estudo de toda a dou­trina católica, que conhecemos a vontade de Deus. E para seguir essa vontade, devemos pedir a graça de Deus pela oração, pela prática dos Sa­cra­men­tos e por nossas boas obras. Finalmente, pela vida interior, isto é, pela devoção a Nossa Senhora — te­souro doutrinário e espiritual constituído pe­la Igreja ao longo dos séculos —, se­gui­remos a vontade de Deus.

Disse Nosso Senhor que o Reino de Deus está dentro de nós mesmos. Ora, este pequeno reino — pequeno como extensão mas infinito como va­lor, porque custou o Sangue de Cristo — cada um de nós deve conquistar para Nosso Senhor, destruindo tudo aquilo que, dentro de nós, se oponha ao cum­primento de sua Lei.

Finalmente, as leis de Cristo se apli­­cam, não apenas a um indivíduo em par­ticular, mas aos povos e nações. Que os povos conheçam e pratiquem na sua organização doméstica, social e política, os ensinamentos tradicio­nais da Igreja, que são a expressão da pró­pria vontade de Deus, e Jesus Cris­to será Rei.

(Transcrito da “Última Hora”, de 8/1/1982. Título nosso.)