“Não sabemos os acontecimentos que nos reserva o milênio que está começando, mas temos a certeza de que este permanecerá firmemente nas mãos de Cristo, o ‘Rei dos reis e Senhor dos senhores’ (Ap 19,16)”, escreveu o Papa João Paulo II na Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte.

Esta bela e encorajante proclamação de Fé do Pontífice Romano nos reconduz ao sublime conceito católico da realeza de Nosso Senhor. Realeza que Lhe advém por direito, enquanto Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, sobre todas as coisas visíveis e invisíveis, das quais é criador. E de modo especial sobre a humanidade, porque, ademais, resgatou-a a preço de sangue. E não foi o próprio Jesus quem nos ensinou a rezar: “Pai nosso que estais no céu … venha a nós o vosso Reino”? O Reino do Pai é o do Filho.

Porém, nosso Redentor quer que seu senhorio sobre as almas seja calcado no consentimento do súdito. Não nos impõe seu domínio, mas bondosamente espera que cada um Lhe abra o coração.

O homem de hoje, muito prático e com um tempo escasso para aprofundar suas reflexões, gostaria de uma clara indicação do que fazer para caminhar nessa direção. E neste ponto vem em nosso auxílio Dr. Plinio, incansável propugnador da idéia do reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele não hesita: o único e indispensável meio de concretizá-lo está na fidelidade aos ensinamentos da Igreja Católica. Assim, por exemplo, numa conferência no Colégio Santo Alberto, em São Paulo, há quase 60 anos afirmava:

“Essa realeza consiste na conformidade de toda a estrutura social e de seus órgãos com as disposições dos Santos Evangelhos, vale dizer, com as determinações e ensinamentos da Santa Igreja, pois que não é possível separar-se uma da outra. Ora, este desideratum só se pode obter mediante uma renovação do homem segundo os ensinamentos de Jesus Cristo, a conformação de nossa inteligência, nossa vontade, nossos sentimentos com os da Igreja, vale dizer, os do Santo Padre, o Papa”. E, resumindo seu pensamento nessa ocasião, Dr. Plinio dizia que a chave do reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo não é outra senão o “sentire cum Ecclesia, que é esta submissão amorosa a todas as palavras e orientações da Santa Sé” (Legionário, 5/11/1944).

O leitor encontrará mais comentários de Dr. Plinio sobre este tema na seção “Eco fidelíssimo da Igreja”, na presente edição.

*

O primeiro calendário do milênio chegou ao fim. Suas folhas passarão para a história indicando um ano profundamente marcado por contrastes, o que é típico de épocas de transição. De um lado, graças escachoantes foram concedidas a grandes parcelas da opinião pública, fazendo antever a vitória do Imaculado Coração de Maria predita por São Luís Grignion de Montfort e outros santos. De outro, o espetacular atentado que fez desaparecer os edifícios do World Trade Center e o avanço do terrorismo bacteriológico somam-se às mil tragédias pessoais que o desfazimento da família, os tropeços da economia, etc., alastram pela face da terra, provocando uma sensação de instabilidade, temor e angústia.

De tudo isto, 2001 acabou deixando-nos uma certeza: a era da mediocridade, que dominou o século XX, está definitivamente encerrada. Não poderia haver hora melhor para pormos os joelhos em terra e implorarmos com redobrado fervor:

“Venha a nós o vosso Reino!”