Enquanto se encerrava a presente edição, na Praça de São Pedro a multidão de fiéis recebia com entusiasmo e devoção a primeira bênção urbi et orbi do recém-eleito Papa Bento XVI.

Desde a doença, falecimento e exéquias de seu predecessor, o Papa João Paulo II, essa mesma praça tem sido cenário de espetáculos massivos de profunda emoção e beleza, demonstrando ao mundo inteiro o quanto a Igreja se acha no centro dos acontecimentos hodiernos. O novo timoneiro da barca de Pedro atrai todos os olhares e, para atender a este anseio, os mais diversos meios de comunicação suspendem seus programas, passando a transmitir ao vivo, nos cinco continentes, o primeiro contato do 264º Sucessor do Príncipe dos Apóstolos com seu rebanho.

Perante as imagens de povos de toda a Terra com sua atenção voltada para Roma, parece-nos mais atual do que nunca a passagem na qual Dr. Plinio exaltou o misterioso e discreto fascínio que suscita o Vigário de Cristo:

Todos sobem ansiosos aquelas escadas. Percorrem impacientes as salas do Vaticano, para ver o ancião vestido de branco, beijar-lhe as mãos e os pés, ouvir-lhe a voz, receber-lhe a bênção. E depois, descem radiantes de alegria, voltam bem-aventurados para as suas terras, para as suas casas, para os seus afazeres, e jamais se esquecerão desse dia tão afortunado.

É essa a história de todos os dias, de todas as semanas, de todos os meses, de todos os anos. Essa é a história de todos os séculos. Tal é a força misteriosa, centro da Roma nova, que, partindo do Vaticano, irradia-se pelo mundo, toca os corações, tudo penetra, tudo move. E quando uma alma aflita ou dedicada não tiver a ventura de chegar-se ao Santo Padre para fazer sua queixa ou protestar o seu amor, ei-la mesmo de longínquas paragens, lançando um olhar e um grito para os lados onde se ergue, farol de Justiça, a Cúpula de São Pedro. (…)

A força moral do Pontífice é a mesma de sempre, de hoje, de ontem, de todos os períodos da sua história. Ele é o ponto de atração de todas as inteligências e de todos os corações. Sua majestade, sublime e excelsa entre todas, supera o humano, atinge o divino. Rei de um pequenino Estado, assenta-se sobre um trono que é a garantia de todos os tronos, porque é o grande infalível da moral que defende a ordem mais que os aparatos da força e a bravura dos exércitos. Quem quisesse conhecer, em sua realidade, o poder moral do Pontífice, não deveria fazer mais que se colocar, um dia só, nos primeiros degraus da escadaria que leva ao Vaticano:

— Quem passa? interrogaria, maravilhado, a todo instante. — É um rico senhor, filho de além-mar. Viajou pelo mundo inteiro; visitou todas as maravilhas da terra. Reservou para o fim a maior de todas: antes de voltar para as ilhas da sua Bretanha ou para as capitais da sua América, quer ver o Papa de Roma.

— Quem passa? — É uma irmã de caridade, com o seu cândido véu esvoaçando ao vento. Deixou um orfanato, um asilo, uma escola no interior mais deserto da Índia: vem beijar os pés do Santo Padre, para voltar, feliz, entre os seus órfãos e consagrar-lhes a vida inteira.

— Quem passa? — É um venerado prelado, de cabelos brancos, cheio de anos, alquebrado de fadigas. Vem do Canadá, das montanhas rochosas ou dos imensos pampas da América meridional. Vem ver o Santo Padre, implorar sua bênção.

— Quem passa? É um peregrino da Polônia, é um monge da Armênia ou da Síria, é um homem de letras, é uma humilde filha do povo, é um livre pensador, é um capitão de armada…

Eis a força moral do Pontífice. A mesma de ontem, a mesma de hoje, a mesma no passado, a mesma no futuro, a única capaz de salvar o mundo 1.

Vê-se nessas palavras de Dr. Plinio aquela admiração pela imortalidade da Cátedra de Pedro, contra a qual não prevalecem as portas do inferno. Stat crux dum volvitur orbis: a Cruz permanece de pé enquanto dá voltas o mundo — diz o lema da Ordem dos Cartuxos. Stat Petrus dum volvitur orbis, poder-se-ia dizer, à luz da convicção pliniana de que no centro da História se encontra a luminosa coluna do Papado.

1) Cf. Legionário de 15/3/1942.