Ao denunciar o avanço de requinte em requinte do processo revolucionário, Dr. Plinio salienta o papel primordial das tendências desordenadas — que produzem crises morais e doutrinas errôneas — para impulsionar a Revolução rumo a seu paroxismo.

Qual a mais possante força propulsora da Revolução?

“A mais possante força propulsora da Revolução está nas tendências desordenadas.

“E por isto a Revolução tem sido comparada a um tufão, a um terremoto, a um ciclone. É que as forças naturais desencadeadas são imagens materiais das paixões desenfreadas do homem” (p. 44).

Paroxismos já presentes nos germes

Qual a força das más paixões?

“Como os cataclismos, as más paixões têm uma força imensa, mas para destruir.

“Essa força já tem potencialmente, no primeiro instante de suas grandes explosões, toda a virulência que se patenteará mais tarde nos seus piores excessos” (p. 44).

Poderia citar um exemplo?

“Nas primeiras negações do protestantismo (…) já estavam implícitos os anelos anarquistas do comunismo. Se, do ponto de vista da formulação explícita, Lutero não era senão Lutero, todas as tendências, todo o estado de alma, todos os imponderáveis da explosão luterana já traziam consigo, de modo autêntico e pleno, embora implícito, o espírito de Voltaire e de Robespierre, de Marx e de Lenine”1 (p. 44-45).

Nas primeiras negações do protestantismo estavam implícitos os anelos anarquistas do comunismo, e os imponderáveis da explosão luterana traziam consigo o espírito de Marx e Lenine

G. Kralj

G. Kralj
Lutero, Marx e Lenine – Selos do Museu Postal Smithsonian, Nova York

A Revolução exaspera suas próprias causas

Como as tendências desordenadas se desenvolvem?

“Essas tendências desordenadas se desenvolvem como os pruridos e os vícios, isto é, à medida mesmo que se satisfazem, crescem em intensidade. As tendências produzem crises morais, doutrinas errôneas, e depois revoluções. Umas e outras, por sua vez, exacerbam as tendências. Estas últimas levam em seguida, e por um movimento análogo, a novas crises, novos erros, novas revoluções. É o que explica que nos encontremos hoje em tal paroxismo da impiedade e da imoralidade, bem como em tal abismo de desordens e discórdias” (p. 45).

Aparentes interstícios

Como explicar que há períodos de calmaria nos quais a Revolução parece ter cessado?

“Considerando a existência de períodos de uma cal-maria acentuada, dir-se-ia que neles a Revolução cessou. E assim parece que o processo revolucionário é descontínuo e, portanto, não é uno.

“Ora, essas calmarias são meras metamorfoses da Revolução. Os períodos de tranqüilidade aparente, supostos interstícios, têm sido em geral de fermentação revolucionária surda e profunda. Haja visto o período da Restauração (1815-1830)” (p. 45-46).

Marcha de requinte em requinte

Através da História, o que sucede nas diversas etapas da Revolução?

“Pelo que vimos se explica que cada etapa da Revolução, comparada com a anterior, não seja senão um requinte. O humanismo naturalista e o protestantismo se requintaram na Revolução Francesa, a qual, por sua vez, se requintou no grande processo revolucionário de bolchevização do mundo hodierno. (p. 46)

Por que ocorre essa marcha de requinte em requinte?

“É que as paixões desordenadas, indo num crescendo análogo ao que produz a aceleração na lei da gravidade, e alimentando-se de suas próprias obras, acarretam conseqüências que, por sua vez, se desenvolvem segundo intensidade proporcional. E na mesma progressão os erros geram erros, e as revoluções abrem caminho umas para as outras (p. 46)2.

1) Cf. Leão XIII, Encíclica Quod Apostoloci Muneris, de 28-12-1878. Paris, Bonne Presse, vol. I, p. 28.

2) Para todas as citações: Revolução e Contra-Revolução, Editora Retornarei, São Paulo, 2002, 5ª edição em português.