Capitel das virtudes e dos vícios – Catedral de Autun, França

Na exacerbação de suas paixões, o homem decaído pode chegar, de pecado em pecado, ao ódio professado contra a própria ordem moral em seu conjunto. No momento em que esse ódio gerou erros doutrinários e passou a dominar as tendências do homem ocidental, afirma Dr. Plinio, teve início o processo revolucionário.

Por nosso próprio esforço, podemos praticar todos os Mandamentos?

“O homem, pelas simples forças de sua natureza, pode conhecer muitas verdades e praticar várias virtudes. Entretanto, não lhe é possível, sem o auxílio da graça, permanecer duravelmente no conhecimento e na prática de todos os Mandamentos1.

“Isto quer dizer que em todo homem decaído há sempre a debilidade da inteligência e uma tendência primeira, e anterior a qualquer raciocínio, que o incita a revoltar-se contra a Lei2 ” (pp. 78-79).

O germe da Revolução

Quais as etapas dessa tendência à revolta contra a Lei de Deus?

“Tal tendência fundamental à revolta pode, em dado momento, ter o consentimento do livre arbítrio. O homem decaído peca, assim, violando um ou outro Mandamento. Mas sua revolta pode ir além, e chegar até o ódio, mais ou menos inconfessado, à própria ordem moral em seu conjunto” (p. 79).

Neste processo, quando teve início a Revolução?

“Esse ódio, revolucionário por essência, pode gerar erros doutrinários, e até levar à profissão consciente e explícita de princípios contrários à Lei moral e à doutrina revelada, enquanto tais, o que constitui um pecado contra o Espírito Santo. Quando esse ódio começou a dirigir as tendências mais profundas da História do Ocidente, teve início a Revolução cujo processo hoje se desenrola e em cujos erros doutrinários ele imprimiu vigorosamente sua marca. Ele é a causa mais ativa da grande apostasia hodierna. Por sua natureza, é ele algo que não pode ser reduzido simplesmente a um sistema doutrinário: é a paixão desregrada, em altíssimo grau de exacerbação” (pp. 79-80).

Nem sempre uma paixão desordenada gera um erro

Pode-se dizer que na raiz de todo erro doutrinário há sempre uma paixão desordenada?

Em todo homem decaído há sempre a debilidade da inteligência, e uma inclinação primeira para revoltar-se contra a Lei de Deus

“Tal afirmação, relativa a esta Revolução em concreto, não implica em dizer que há sempre uma paixão desordenada na raiz de todo erro.

“E nem implica em negar que muitas vezes foi um erro que desencadeou nesta ou naquela alma, ou mesmo neste ou naquele grupo social, o desregramento das paixões.

“Afirmamos tão somente que o processo revolucionário, considerado em seu conjunto, e também em seus principais episódios, teve por germe mais ativo e profundo o desregramento das paixões”3 (p. 80).

1) Cf. Revolução e Contra-Revolução, Parte I, cap. 7, 2, D.

2) Donoso Cortés in Ensayo sobre el Catolicismo, el Liberalismo y el Socialismo – Obras completas, Madrid, BAC, tomo II, p. 377, dá um importante desenvolvimento dessa verdade, o qual muito se relaciona com o presente trabalho.

3) Para todas as citações: Revolução e Contra-Revolução, Editora Retornarei; São Paulo, 2002, 5ª edição em português.