Por diversas vezes nos foi dado conhecer, através das explicitações de Dr. Plinio publicadas nessas páginas, como ele se comprazia em considerar a infinita beleza de Deus a partir da contemplação dos reflexos do Criador nas suas criaturas. Ao observar a majestosa força de um leão, a delicadeza de uma rosa, os variados movimentos do mar ou, sobretudo, a virtude reluzindo na alma de seus semelhantes, Dr. Plinio colhia dessas análises, os elementos necessários para elevar seu espírito à admiração de realidades superiores às terrenas.

Saber e gostar de admirar: eis uma constante nas recomendações de Dr. Plinio aos seus discípulos, no intuito de fazê-los ascender, de patamar em patamar, até a consideração do Absoluto, Deus nosso Senhor. Nesse exercício de admiração e contemplação, via ele uma forma de heroísmo:

“A epopéia é o maravilhoso, não estático, mas posto em linha de combate e sujeito a um risco iminente. O maravilhoso do heróico: tal é a epopéia. Daí se infere, também, que o espírito épico é aquele voltado para a contemplação das maravilhas criadas por Deus, entusiasmado por elas e disposto a praticar qualquer ato de heroísmo para defendê-las.

“Nesse sentido, vem a propósito recordar um pensamento de Talleyrand — homem dotado de fina inteligência e que, apesar de suas obras e atitudes não louváveis, conservava em si laivos de tradição católica — segundo o qual aqueles que não gostam de admirar ou, quando o fazem, são mesquinhos, nisso demonstram sua mediocridade.

“Exemplifico. Imaginemos dois jovens que acabam de se conhecer, e um percebe no outro certa qualidade que merece ser admirada. Ambos podem ter duas atitudes de alma. A primeira é admirar: Que belo predicado ele possui! E como me alegra sabê-lo aquinhoado com essa virtude! Já a segunda atitude seria minimizar a superioridade alheia: Hum… Nem tanto! Vou prestar atenção e ver o que ele realmente vale. Pouco depois: É, em tal ponto assim ele não se mostra tão bom. Não vale grande coisa, é tudo questionável

“Ao contrário do que se poderia pensar, essa última atitude não é a de um espírito vigilante, que procura estar atento a algo menos bom para corrigi-lo ou aperfeiçoá-lo. Trata-se, na verdade, de mesquinhez de alma, que só deseja ver nos outros o lado ruim, a fim de não se dar o esforço de admirar neles os seus aspectos bons. Por isso diz Talleyrand que esse tipo de mentalidade é característico do medíocre.

“A alma senhora de genuína grandeza, elevada, deleita-se em admirar, e em admirar com entusiasmo. Essa é a atitude própria de um espírito épico. Este possui, ao mesmo tempo, uma intensa admiração por algo de verdadeiramente admirável, e a disposição de correr todos os riscos, de fazer todos os sacrifícios, com abnegação, em prol daquilo que admira: uma causa, uma doutrina, um princípio. No caso concreto de nosso movimento, a causa da Civilização Cristã. Esse é o espírito épico.”

(Extraído de conferência em 8/7/1972)