Inaugurada em 1933, a Assembleia Nacional Constituinte teria um importante papel na História do Brasil.

Desempenhando o encargo de constituinte, Dr. Plinio lutaria pelos interesses da Igreja.

Logo após o início de sua atuação, Dr. Plinio estamparia nas páginas d’O Legionário suas primeiras impressões acerca dos trabalhos constitucionais.

À medida que vão passando os dias, os diversos tipos de deputados se vão definindo perfeitamente, e os hábitos, usos e costumes da nova Constituinte são consolidados pela prática.

A primeira impressão que me deu a Constituinte foi a de um enorme e suave aquário de água morna, banhado por uma luz brandamente pálida, em que evoluíam, com a discrição silenciosa com que só os peixes sabem evoluir, os tubarões ou as sardinhas da política nacional.

Só quem conhece o Palácio Tiradentes pode apreciar a justeza da comparação. Tudo nele é rico, discreto e acolchoado, desde a poltrona em que pontifica o Sr. Antônio Carlos1, até a cadeira do engraxate instalada na barbearia.

Neste ambiente, que o Sr. Zoroastro de Gouveia chama provavelmente de plutocrático, circulam os representantes da Nação brasileira, com uma gentileza recíproca sem igual.

Realmente, a cortesia é a nota característica de nossa Constituinte.

O fato tem sua explicação. A grande maioria dos constituintes é composta de calouros do parlamentarismo brasileiro.

A 15 de novembro, ninguém se conhecia. E, ainda hoje, o regime é das abordagens jeitosas e das sondagens disfarçadas.

Compreende-se facilmente que, neste estado de coisas, um sorriso mais insistente, um pequeno obséquio, ou mesmo um olhar esgueirado, abrem perspectivas inteiramente novas no mapa político de qualquer deputado.

Já começam a se esboçar as primeiras combinações, e as negociações se desenvolvem frequentemente no modo mais pitoresco.

Assim, por exemplo, o deputado X quer salvar a Pátria, resolvendo o problema do ensino primário. Por seu turno, o deputado Y, que professa o máximo descaso pela opinião do seu colega, tem por preocupação central a proteção à pecuária, coisa de que o X nunca cuidou.

Depois de alguns sorrisos e algumas sondagens, chega-se rapidamente a um acordo, em que a pecuária e a instrução pública lucram cada qual um novo defensor.

Outro aspecto curioso é a diferenciação das atividades. Há os deputados de tribuna, e há os de corredor.

Os primeiros são leaders dos grandes torneios oratórios. Sua ação é essencialmente explosiva e detonante. São a artilharia pesada. Ao lado destes, há os de corredor. São os leaders do cochicho e da confabulação. Afetam um desdém condescendente para com os grandes debates oratórios, de que não sabem participar.

(Extraído d’O Legionário de 24/12/1933)

1) Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1871-1946) — deputado federal, ministro da Fazenda, senador e presidente do Estado de Minas Gerais entre 1926-1930. Tomou parte na organização da Aliança Liberal e na Revolução de 1930. Foi presidente da Assembleia Nacional Constituinte em 1934.