Ao longo dos tempos, a batalha em defesa da Cristandade tem sofrido grandes mudanças. Porém, para os que sabem contemplá-la em toda a sua profundidade, ela nunca perde sua beleza e seu esplendor.

Uma dessas grandes lutas pela Igreja, na qual se destacou especialmente Dr. Plinio, ocorreu no ano de 1934 e consistiu numa ardorosa defesa da permanência dos princípios católicos na Constituição Brasileira.

On ne passe pas1 é famosa a frase com que os franceses, num desafio heroico em Verdun, detiveram as hostes germânicas, prontas a conquistar a França.

“Podemos dizer que, nos últimos dias, foi vencida a Verdun dos católicos brasileiros, pela remoção do perigo negro de uma Constituição Sintética.

“O que se pretendia era, em suma, um passe de prestidigitação parlamentar, em virtude do qual a Comissão dos 26, adrede isolada de qualquer influência católica ponderável, ficasse incumbida de aprovar uma Constituição Sintética, súmula dos princípios essenciais da organização do Estado. Aprovada essa súmula pelo plenário da Constituinte, esta procederia à eleição do Presidente da República. Só depois de concluídas essas tarefas é que passaria à elaboração de chamadas leis orgânicas, que completariam a Constituição, sem dela fazer parte, no entanto.

“Pelo balão de ensaio da votação do preâmbulo, na Comissão dos 26, em que esta rejeitou o nome de Deus, verificou-se que a Comissão se prestaria à manobra de excluir da Constituição Sintética todas as teses católicas, reputadas matéria inconstitucional e, portanto, aptas, quando muito, a serem incluídas nas leis orgânicas.

“Como, porém, as leis orgânicas não teriam a fixidez das leis constitucionais, a despeito de todas as promessas em sentido contrário, o perigo estava patente: as conquistas católicas, laboriosamente feitas à custa da LIGA ELEITORAL CATÓLICA, poderiam ser destruídas de um momento para outro, em qualquer legislatura ordinária, graças a alguma maioria ocasional.

“Por outro lado, houve a habilidade de jungir aos interesses anticatólicos os políticos, de forma a interessar na manobra certos elementos empenhados na eleição imediata do Presidente da República. Como é evidente, esta habilidade deu ao nefando projeto possibilidades de êxito especialíssimas, e constituiu séria ameaça para a Igreja Católica no Brasil.

“Mas as perfídias dos adversários da Igreja constituem, para sua resistência eterna e invencível, uma glória, como é gloriosa para a alma santa a tentação que ela venceu, e que força, indiretamente, o próprio demônio a ser colaborador de sua ascensão espiritual.

“A manobra, astuta embora, só aproveitou ao Catolicismo, pois que a perspectiva de um perigo comum congregou mais uma vez os católicos de todas as bancadas que, reunidos na sede da LEC, sob a presidência de Tristão de Athayde, assumiram o solene compromisso de não votar na Constituição Sintética, caso ela não contivesse TODOS os itens católicos fundamentais, a saber: a) ensino religioso nas escolas; b) indissolubilidade do vínculo conjugal; c) atribuição de efeitos civis ao casamento religioso; d) assistência religiosa às classes armadas, hospitais, prisões, etc.

“Foi um movimento empolgante. Em número de muitas dezenas, os deputados católicos resolveram transformar a questão da Constituição Sintética na Verdun da atual Constituinte, lançando aos seus adversários entocaiados o famoso desafio on ne passe pas!

“Como a imprensa católica noticiou, a dificuldade ficou definitivamente afastada, e a resistência intransponível dos católicos jugulou o esforço de seus adversários.

“A bandeira da LEC cobriu-se assim de glórias, e mais uma vez ficou patente que o Brasil é, sempre foi e será genuinamente católico.”

(Extraído d’O Legionário de 4/2/1934)

1) Aqui não se passa.