“Eis que breves passam os anos, caminho por uma vereda pela qual não voltarei” (Jó 16, 22). O decurso rápido e irreversível do tempo é sempre um convite à reflexão, especialmente por ocasião da passagem de ano.

Com efeito, o ano que passa pode evocar o pedido de perdão, ou ainda, convidar a sentimentos de gratidão pelas graças e benefícios divinos. O ano novo, porém, conduz à esperança, estimula novos anseios, convida ao progresso não somente terreno e visível, mas, sobretudo, àquela perfeição espiritual e moral para a qual Deus chama constantemente a todos os homens: a santidade.

Em conformidade com as inovações que todo início de ano convida, e com a constante convocatória de Deus e dos Papas à santidade, o leitor poderá encontrar no decorrer de 2011 o tema da santidade numa nova seção da revista Doutor Plinio: Hagiografia.

A consideração da vida dos santos é ainda mais oportuna que outrora, pois o ritmo de vida moderno pode muitas vezes levar o homem ao olvido deste chamado, ou mesmo ao obscurecimento da noção de santidade, que, em última análise, é um desconhecimento da santidade absoluta de Deus.

Ensina-nos São Paulo que Deus manifesta aos homens sua santidade invisível através das coisas visíveis1. Sendo Deus infinito, não poderia refleti-la numa só criatura, mas sim numa multiplicidade. Assim, os seres que nos fazem conceber uma ideia mais próxima da suprema santidade de Deus, são os santos.

De fato, Deus é admirável em seus santos. Seu grande número demonstra o quanto quer Ele ser conhecido através do homem. Esta é a razão da existência desta rica variedade de feitios de santidade; para o homem há modelos em profusão, constituindo todos, no seu conjunto, um verdadeiro universo. A História da Salvação é um belíssimo caleidoscópio de feitios de santidade, cada um convidando ao equilíbrio e à perfeição nas relações dos homens entre si e com Deus, próprios a refrear as más tendências e corrigir os desvios de cada época histórica.

A Hagiografia torna-se, portanto, um modo profícuo de, pelo exemplo daqueles que nos precederam na Fé, medirmos nossos atos a fim de aperfeiçoarmo-nos mais e mais nas sendas da santidade, pois, para Doutor Plinio, o santo é a figura completa do homem, única forma pela qual o ser humano pode se realizar inteiramente.

Todavia, a santidade não é apenas a máxima realização pessoal, mas também uma graça excelente que toca o mais profundo da alma, proporcionando-lhe dons magníficos que excedem a simples natureza.

1) Cf. Rm 1, 20.