Quais pedras preciosas incrustadas num valioso manto, as catedrais e abadias formam — ao lado dos castelos e pitorescos burgos ajaezados de belos jardins — um conjunto variado e harmônico que se estende por toda a Europa. Em sua solidez secular, tais monumentos dão a impressão de serem impassíveis diante da História.
A contemplação destas maravilhas da engenharia, crestadas tanto pelo rigor das intempéries quanto pelo irreparável curso dos séculos, gera em nosso espírito uma sensação de estabilidade, segurança e perenidade; porque, mais do que filhas do seu tempo, evocam em nosso espírito algo da ordem celestial e eterna.
Tal como os prédios, os homens que conceberam essas obras magníficas eram estáveis, serenos e contemplativos. A plenitude desse estado de espírito que penetrava em toda a sociedade se dava na vida operosa, serena e meditativa de uma coorte inumerável de monges que abandonavam tudo a fim de cogitar apenas em Deus, Motor Imóvel.
Ao considerarmos aqueles tempos, seríamos levados a pensar que a estabilidade dos homens de outrora, cuja vida “monótona”, regulada pelo bimbalhar dos sinos que anunciavam os ofícios litúrgicos, não lhes capacitava às atividades das quais nossos contemporâneos tanto se ufanam.
Entretanto, como demonstra a História, os séculos da Europa Cristã coadunavam a vida rural e monástica com um intenso, abrangente e variado progresso humano.
A cultura da Antiguidade pagã não apenas foi conservada por ocasião das invasões bárbaras, mas se enriqueceu com o aporte das universidades na verve ardente e penetrante de seus doutores.
O avanço não se restringia ao âmbito intelectual. A alta Idade Média e os séculos subsequentes foram épocas de intenso progresso econômico. As selvas e pântanos da Europa se tornaram terras de cultivo; o comércio e as peregrinações impulsionavam a logística das estradas; enfim, a Europa Cristã sempre se caracterizou por uma intensa vitalidade.
Este imenso organismo social, que parecia se formar sem planejamento e coordenação, não deve sua unidade aos cacos da civilização clássica ou ao mosaico étnico dos povos invasores, mas sim, a uma espécie de princípio vital capaz de produzir extremos de estabilidade e contemplação, como também de progresso e atividade.
A alma da civilização ocidental nascente era a Igreja de Cristo. O esplendor da antiga Europa nasceu, em última análise, da benéfica influência da Esposa de Cristo na sociedade. A Igreja Católica é matriz de todo espírito de ação e vitalidade, mas também, de serenidade, harmonia e contemplação.
Quando no século XIX o racionalismo e o modernismo atiraram-se contra esta ordem social inspirada pela Igreja, incentivando o espírito humano a libertar-se da crença em uma ordem de coisas superiores à mera evidência, a Santa Igreja responderia mais uma vez à altura a esta ardente revolta contra o sobrenatural? Venceria ela o aberto embate da incredulidade, o sorrateiro cinismo do espírito de dúvida e do agnosticismo? Saberia ela novamente agir com aquela serenidade e doçura harmonizada com intransigência e firmeza?
A solução estava na sábia atitude de um varão plenamente imbuído do espírito da Igreja, cuja serena vitalidade mais uma vez guiaria a humanidade nas sendas da verdade: o Bem-aventurado Pio IX, sereno homem de ação, vigor e triunfo da Igreja.