Um olhar atento sobre a História atesta que mesmo as civilizações da Antiguidade cultivavam o vestuário não apenas como mera necessidade de cobrir o corpo das intempéries. As vestes exprimem algo da própria concepção que um indivíduo tem de si mesmo. O traje é uma linguagem não verbal pela qual o homem sociável apresenta aos demais algo de sua mentalidade.

Ensina a Sagrada Escritura que Deus foi o primeiro alfaiate da História, confeccionando roupas para Adão e Eva a partir do momento em que se deram conta de sua nudez. Após a queda original, estavam eles despidos de todos os dons sobrenaturais, porque era o esplendor da graça que lhes cobria os corpos e ornava-os com uma aparência quase angélica.

A fim de sanar em algo esta saudade paradisíaca, a humanidade, expulsa do Éden, sempre procurou vestir-se com beleza. Na Antiguidade, sedas, púrpuras e raros tecidos eram considerados verdadeiros tesouros próprios à vida esplendorosa das cortes. A plebe, com não menor talento, reproduzia com encantadora simplicidade a excelência do vestuário palaciano.

Por diversas razões históricas, vê-se que após a Idade Média o vestuário humano seguiu um processo de transformações desconhecido até então: a moda.

Seria anacrônico denominar a “moda” daqueles tempos com o sentido próprio dado à palavra na atualidade. Em nosso tempo a moda se caracteriza pela sensualidade, visa manifestar a mera corporeidade. Assim, certas vestimentas atuais parecem manifestar uma visão incompleta do homem, conferindo um papel insignificante àquilo que nos distingue dos animais: o raciocínio e o espírito.

De maneira diametralmente oposta à atual deturpação do vestuário, além do pudor os homens dos tempos de outrora cultivavam dois imprescindíveis atributos da moda: originalidade e elegância. Distinção sem extravagância, novidade sem apelação, são estas as características essenciais de uma verdadeira moda, a qual visa manifestar o esplendor moral do homem.

Esta concepção de moda gerou uma verdadeira arte de se vestir. A França dos séculos XVII e XVIII, bem como seus ecos posteriores, legou ao mundo um magnífico testemunho da mais elevada noção de vestuário. As castas e amáveis damas se vestiam como fadas de luz. Os gentis-homens usavam tecidos ainda mais esplendorosos que as mulheres, sempre cortados com graça e primor. Estas vestes exprimem a vontade de agradar através da gentileza, do bom gosto e da distinção. A moda do Antigo Regime atingiu tal esplendor que o domínio francês sobre o mundo então civilizado não se dava através das armas ou dos tratados comerciais, mas sim através da hegemonia da cultura francesa. A maneira de se vestir era o atestado deste triunfo. O cidadão que se julgava polido vivia à la française.

Assim como no artigo da seção Luzes da Civilização Cristã da presente edição — Elegância e força, distinção e coragem —, em diversas ocasiões Dr. Plinio salientava aos seus discípulos mais jovens alguns aspectos desta época na qual o traje viril atingiu seu máximo esplendor. Rendas magníficas, capas e chapéus esplendorosos, veludos e sedas de coloração encantadora, magníficos adornos e perucas empoadas, faziam do distinto e varonil vestuário masculino uma verdadeira moda do Paraíso.