Solidão e abandono, dois sentimentos que fustigam continuamente as almas na sociedade de nossos dias. De fato, além das inúmeras dificuldades, problemas e provações pelas quais todos têm de passar, acontece muitas vezes que o homem, de súbito, é acometido pela sensação de estar sozinho, sem ter em quem se apoiar, sem saber em quem confiar…

Muitos há que se afadigam dia e noite buscando sanar esta solidão; e julgam lográ-lo através do afeto humano — afeto, o mais das vezes maculado pelo pecado. Contudo, em certo momento deparam-se com a decepção; as alegrias tornam-se amargas, as realizações fracassam, e os prazeres causam profunda frustração.

Outros há que, longe de se macularem com o pecado, perseveram no temor de Deus, pondo toda sua confiança no Senhor. Mas, assaltados por toda sorte de tribulações, ora temporais, ora espirituais, sentem desfalecer o ânimo. Onde, então, se apoiar? Em quem confiar?

Ao escorrerem sobre a cabeça do homem as purificadoras águas do Batismo, opera-se o maior dos milagres, incomparável a qualquer outro realizado na face da terra: além de lhe ser concedida a filiação divina, e lhe serem infundidas todas as virtudes e os dons, realiza-se nele a Inabitação Trinitária. A partir de então, as Três Pessoas Divinas passam a viver naquela alma, de maneira tal que não só a acompanham, mas, sobretudo, a inspiram e auxiliam, em todas suas atividades.

Se bem que esta verdade se aplique a toda Trindade, é atribuída especialmente ao Espírito Santo, conforme o Apóstolo: “Não sabeis que vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis a vós mesmos?” (1 Cor. 6, 19)

É este Espírito que continuamente “vem em auxílio de nossa fraqueza” (Rm 8, 26) quando nos encontramos em meio a tribulações, pois Ele mesmo “intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8, 26). O próprio São Paulo exortava: “deixai-vos conduzir pelo Espírito” (Gal 5, 16), pois só Ele pode ser o nosso sustentáculo seguro contra as incertezas da vida. Só n’Ele o homem encontrará consolo, pois, guiando-o através de seus dons e moções interiores, frutifica em “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança”. (Gal 5, 22-23)

Tão sublime realidade verificou-se especialmente no nascedouro da Santa Igreja Católica, quando, após um período de perplexidade pela morte de Nosso Senhor e sua partida para o Céu, os Apóstolos foram assumidos pelo Espírito Santo, em Pentecostes. A partir de então, o Espírito Consolador os conduziria rumo a uma grande epopeia.

Não nos é difícil crer em todas essas maravilhas operadas pelo Espírito Santo nos primórdios da Igreja. Mas hoje, que Ele parece ter abandonado a humanidade aos seus desvarios, torna-se um pouco mais árduo discernir Sua atuação em nossa vida diária. No entanto, Ele continua sempre presente na Igreja e atuando na santificação das almas. A consideração do mistério de Pentecostes nos ajudará a reavivar essa verdade para assim nos beneficiarmos mais da ação santificadora do Espírito Paráclito.