Dr. Plinio na década de 1960

Em 2 de abril de 1960, Dr. Plinio proferia a aula inaugural da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho (PR). Em suas palavras, referentes à finalidade do estudo universitário, nota-se, uma vez mais, a amplitude e elevação de horizontes que o caracterizavam, procurando tudo relacionar com os mais altos princípios, até repousar o espírito na contemplação de Deus, depois de um ininterrupto e paulatino caminhar ascensional.

Esta contínua busca da perfeição, do sublime, do absoluto, da sacralidade, enfim, de Deus — que caracteriza a alma inocente — tem sido uma nota constante nas mais variadas matérias estampadas em nossa Revista, comprovando ser um atributo fundamental da personalidade de Dr. Plinio.

Será um agradável e frutuoso exercício ao leitor procurar, na presente edição, os múltiplos exemplos do acima afirmado. Eis, a seguir, um deles, aplicado ao campo acadêmico.

Em todos os ramos do saber superior, por mais diferenciados que sejam entre si, há uma coerência profunda e a possibilidade de se estabelecerem uma correlação e uma harmonia completas. […] [O universo] é um conjunto de elementos sabiamente ordenados e, em face dessa concepção, a Ciência não é senão o conhecimento da harmonia que orienta e coordena todos esses elementos. Harmonia hierárquica entre vários elementos desse conhecimento, que se subordinam uns aos outros até o ápice, o ponto supremo que contém os princípios gerais dessa ordem. Que, portanto, contém o elemento orientador, não só de todo o saber, mas também de toda a atividade universitária.

A atividade universitária se congregou, portanto, em torno de uma Filosofia, mas esta não basta. Em torno de uma Teologia, mas esta também não basta. Em torno de um pressuposto religioso, e este pressuposto religioso é Deus, como um fator infinitamente poderoso que cria o universo harmônico, ordenado e hierárquico, acessível à inteligência do homem por um conjunto de conhecimentos ordenados, hierárquicos também, que formam o saber.

Este é o ponto mais profundo de todo estudo universitário. Não é saber isto ou aquilo, não é conhecer línguas, ensinar Matemática ou saber a história de Henrique IV da França. Mas é subir daí para mais alto, é aprender a considerar todos esses conhecimentos por um ápice, por um domínio de conhecimentos pelos quais se coordenam de fato.

Esses dados não obstam a que, do alto dessa montanha de saber, o professor universitário se volte para os problemas de seu tempo. Não há saber que se alimente apenas de leitura. É preciso ter contato com a vida, com as realidades concretas […].

Ao tomar conhecimento dos problemas do tempo, as universidades cumprem, antes de tudo, uma altíssima missão. Sendo células de um organismo, não podem deixar de dar seu contributo para que esse organismo progrida e se conserve. Mas é mais do que isso: a universidade abre a ventilação da realidade para as suas elucubrações que, sem isso, se tornariam por demais abstratas, e atende os problemas do tempo, resolve e orienta. Isso vem a ser a tarefa fundamental de uma universidade, da qual não poderia fugir sem trair sua missão.

É certo que o estudo da universidade assim concebido não pode resignar-se a uma espécie de ruptura entre especialização e generalização. A ideia de alguém que se especializa tanto que perde os princípios gerais é como a de um escafandrista que se aprofundasse tanto no mar que perdesse o contato com o tudo que o liga ao ar, quer dizer, acabaria morrendo. Assim, um especialista que se aprofunda tanto que se esquece dos princípios gerais, “morreria”, porque o princípio geral é que dá vida à especialização. E visto sob esse aspecto, parece-me que o ensino universitário, por mais que se especialize, deve fazê-lo com a preocupação de ter sempre como ponto de referência aquela luz primeira, aquela procura da verdade absoluta, da verdade pura, da verdade total, da verdade harmônica e completa que é o fim harmonioso da universidade. […]

Um dos grandes problemas de nosso País e do nosso presente é que, na ânsia da produção econômica, legítima em si e reclamada por tantas circunstâncias, a noção dos valores intelectuais e espirituais vá, pouco a pouco, decaindo. A condição de intelectual é tal entre nós que os homens de maior capacidade, de maior produtividade, se voltam para a produção material, e não encontram nem atrativo nem interesse para a produção intelectual.

Nossa época vota uma atenção exagerada aos problemas do corpo, da saúde, aos prazeres do esporte, ao culto da beleza física. E por isso nosso crescimento se vai dando de um modo errado, fora da verdadeira diretriz, porque, em vez de a alma preceder o corpo, é este que precede a alma. Corpo agigantado, no qual a alma se conserva retrógrada. O gigante imenso de alma infantil é feito para ser escravo daqueles que têm inteligência e caráter superior.

É o próprio futuro e independência do País que estão interessados numa retificação de valores.1

1) Excertos da aula inaugural de 2/4/1960.

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