"Quando ainda muito jovem, considerei enlevado as ruínas da Cristandade. A elas entreguei meu coração. Voltei as costas ao meu futuro e fiz daquele passado, carregado de bênçãos, o meu porvir.”1

A fidelidade a este programa de vida traçado por Dr. Plinio foi atestada em cada instante de sua existência, pela incontestável coerência de sua ação e de sua doutrina com os princípios por ele amados.

Tendo como uma de suas características essenciais a consideração do universo a partir de um prisma fundamentalmente religioso, este varão de Fé tudo analisava sob esta perspectiva, a ponto de afirmar:

“Desde criança fui percebendo em pequenas coisas a ordem do universo. Analisando o ensino da Igreja, parecia-me que Deus era o cimo de um cone. Voltando minha atenção ao Sagrado Coração de Jesus, Rex et centrum omnium cordium2, Ele Se me afigurava como o cone do mundo dos corações. Da percepção desse cone supremo nasceu-me a ideia da ordem do universo.”3

E em outra ocasião dizia:

“Se não conhecemos a Santa Igreja e a Nosso Senhor Jesus Cristo, pura e simplesmente não compreendemos como a ordem do universo se afivela.”4

Por isso, suas análises eram sempre cuidadosamente conferidas com a Doutrina Católica e filialmente submetidas ao Magistério infalível.

Ao considerar a natureza, o homem, povos e nações, civilizações e culturas, enfim, a História com o olhar límpido de quem conservou a inocência como o mais precioso dos tesouros, Dr. Plinio tecia comentários inspirados pelo dom de Sabedoria recebido no Batismo e acrisolado com o avançar dos anos, constituindo-se, tanto por suas explicitações como por seu testemunho de vida, o exemplo vivo de sua teoria sobre a “soma das idades”.

“Quem é fiel tem na juventude as qualidades da infância; na maturidade, as qualidades dessas três épocas da vida; na ancianidade, um requinte de todas elas. Até o último momento, ele se aprimora, e morre na idade perfeita, dando o melhor de si. A decrepitude física pouco tem a ver com essa ascensão. Ao entregar sua alma a Deus, ele restitui o conjunto dos tesouros recebidos e implora misericórdia para tudo quanto estiver incompleto. Eis a morte de um varão católico, eis a trajetória de um homem.”5

“A perfeita biografia de um homem, como Deus a vê, sem véus, se assemelha à história do Sol no decurso de um dia sem nuvens. As energias primaveris e os frescores de alma com os quais nasce têm encantos próprios, irrepetíveis ao longo dos tempos, mesmo quando a inocência se afirma e persevera. A ‘soma das idades’ não exclui a possibilidade de alguns encantos inerentes a cada época se recolherem aos esplendores do Padre Eterno para serem encontrados mais tarde.”6

Ao comemorarmos o ducentésimo número de nossa Revista, podemos constatar, com indizível alegria e transidos de gratidão a Nossa Senhora, os incontáveis encantos da alma deste homem providencial que reluziram aos olhos de nossos leitores.

À maneira dos raios do Sol, esses encantos não só iluminam uma trajetória de fidelidade, mas criam condições de vida, isto é, alentam, tonificam e impulsionam tantas almas que, sem contemplar esses fulgores, não encontrariam luzes e forças para trilhar o caminho da virtude.

Uma aflição, entretanto, poderia acometer nosso espírito: “Mas o Sol também tem seu ocaso…”

A este propósito, comentava Dr. Plinio:

“O pôr do Sol não é a morte do derrotado, mas a desativação de quem percebe nada ter mais a dar. Diante da obra realizada, ele vai se retirando com dignidade, numa esplendorosa diminuição: ‘Atingi tal ápice que nem consigo cessar de repente. Até lá chegou o superlativo dos superlativos onde eu me pus. Voltarei à minha gloriosa contemplação, porque minha tarefa está cumprida, mas desço em esplendoroso dégradé porque em radiante dégradé subi. Combati o bom combate em cada etapa do ocaso.’ Sua última luzinha ainda é uma glória revelada, antes de desaparecer. E não é o Sol que entra no escuro, mas é o mundo que fica em trevas quando ele sai.”7

A solis ortu usque ad occasum, laudabile nomen Domini8. De seu nascimento à sua morte, Dr. Plinio entoou, por sua vida, exemplo e doutrina, um contínuo e crescente hino de louvor à Eucaristia, a Maria, ao Papado, bem como a todos os maravilhosos frutos do preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo na Civilização Cristã.

Contudo, se o Astro-Rei tem seu ocaso, o mesmo não acontece com os homens que marcaram a História com os sinais de sua Fé. Esses brilharão como o Sol por toda a eternidade9.

1) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Meio século de epopeia anticomunista. São Paulo: Vera Cruz, 1980. p. 1.

2) Do latim: Rei e centro de todos os corações.

3) Conferência de 30/4/1992.

4) Conferência de 16/5/1974.

5) Conferência de 2/2/1972.

6) Conferência de 12/6/1981.

7) Idem.

8) Do latim: Do nascer do Sol até o seu ocaso, seja louvado o nome do Senhor (Sl 113, 3).

9) Cf. Mt 13, 43.