A vastidão territorial do Brasil recolhe em si não só uma imensa e multiforme riqueza de recursos naturais, mas, sobretudo, um universo com variados matizes de personalidade. Ora contemplamos o feitio alegre de um nordestino, ora o espírito trabalhador de um sulista ou o charme de um carioca a contemplar uma das mais belas baías do mundo, como é a de Guanabara.

Com feitios de espírito às vezes tão opostos entre si, o brasileiro, entretanto, é um povo unido, que constitui harmonicamente uma só nação. Que traço comum une personalidades tão distintas? Há nisso algum desígnio da Providência?

A América Latina — comentava Dr. Plinio1 — é uma constelação de povos irmãos. Nessa constelação, inútil é dizer que as dimensões materiais do Brasil não são senão uma figura da magnitude de seu papel providencial.

A missão providencial do Brasil consiste em crescer dentro de suas próprias fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilização católica apostólica e romana, e em iluminar amorosamente todo o mundo com o facho desta grande luz, que será verdadeiramente o Lumen Christi que a Igreja irradia.

Nossa índole meiga e hospitaleira, a pluralidade das raças dos que aqui vivem em fraternal harmonia, o concurso providencial dos imigrantes que tão intimamente se inseriram na vida nacional, e mais do que tudo as normas do santo Evangelho, jamais farão de nossos anseios de grandeza um pretexto para racismos estultos, para imperialismos criminosos. O Brasil não será grande pela conquista, mas pela Fé; não será rico pelo dinheiro tanto quanto pela generosidade.

O brasileiro tem uma peculiar capacidade de querer bem e, querendo bem, assimilar, apurar sínteses, quintessências dos vários povos e com isto ficar com uma forma de preeminência que é a primazia do afeto, da bondade, do modo paciente, calmo, comunicativo de fazer as coisas.

A Revolução armou a mentira de que o contrarrevolucionário não tem isso, e que a bondade é um distintivo do liberal, pois ela consiste, no fundo, no permissivismo, em deixar todo mundo fazer o que quiser. Logo, quem quer fazer leis e normas, protegê-las com sansões, estabelecer hierarquias, esse não tem bondade.

Eu creio que a verdadeira Contra-Revolução se caracteriza muito bem por inaugurar, junto com o reino da ordem, o reino da bondade, mostrando a compatibilidade existente entre ambas, a tal ponto que nenhuma das duas pode-se supor sem a outra. Essa bondade é o próprio modo de ser da autoridade, do poder, da riqueza, do talento, da cultura que, quando se desenvolvem coerentemente, são exercidos com bondade.

1) “O Legionário” 7/9/1942 e conferência de 2/10/1982.