domingo, noviembre 24, 2024

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Quando os homens viviam como num cativeiro

Dizimações habituais, mutilações de populações inteiras, ferocidade no trato humano. Não são imagens de um pesadelo, nem de filme de terror. Trata-se da situação do mundo antes do advento de Jesus Cristo. Como ensinava Dr. Plinio, vale a pena conhecê-la pelo menos nos seus traços gerais, para melhor avaliar o que significou de bênção para o mundo e de graças de civilização o sacrifício do Calvário. Continuamos, na presente seção, a acompanhar as observações de Dr. Plinio a esse respeito.

Os homens, em todo o período anterior à vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, viviam como que num cativeiro, numa espécie de penosa espera, dolorosa, terrível, do dia em que nasceria o Sol de Justiça. Na verdade, não conseguimos formar exata idéia da situação calamitosa do gênero humano até o momento em que foi resgatado pelo holocausto do Divino Redentor. Entretanto, ao folhearmos a história dos povos antigos, é-nos franqueada alguma noção daquele triste estado da humanidade antes do Cristianismo.

Ao lado, governante assírio rodeado de símbolos divinos; na página anterior, alto- relevo que representa tropas assírias combatendo adversários árabes

Crueldades habituais no mundo antigo

Já comentamos sobre o bárbaro costume dos assírios de furarem os olhos dos prisioneiros de guerra para transformá-los em escravos. Apenas para mencionar outro sinal da crueldade desse povo, lembro cenas como esta que se podem ver em alguns ladrilhos: soldados jogando uma espécie de boliche — ou, antes, de peteca — com as cabeças decepadas dos inimigos. É algo suficiente para ilustrar os costumes deles.

Os morticínios eram banais no mundo pagão. Não só os indivíduos, mas também os povos se entrematavam freqüentemente, de modo terrível. Entrar numa cidade e massacrar a população inteira, era façanha que constava nos anais quase correntes de certos povos da antiguidade.

Ainda entre as práticas cruéis comuns no mundo pagão, é interessante citar um costume de certas regiões da Índia. Nestas, quando morria o marido, a viúva era queimada viva. Na procissão fúnebre do homem seguia uma espécie de pequena carruagem, na qual ia a sua esposa toda preparada, com os perfumes necessários para o corpo ficar combustível. Quando o cadáver era incinerado, obrigavam a mulher a descer e entrar na fogueira. Ela nem resistia, tomando isto como algo natural.

Pode-se, porém, imaginar a sensação de uma senhora quando via o marido adoecer… Ficaria pensando na morte dela, queimada viva?

E que dizer das brutalidades na velha Roma?

Quando ouvimos hoje falar do palácio do Vaticano, vêm-nos à mente um lugar glorioso, com seus edifícios bonitos, jardins, coleções, museus, Basílica de São Pedro, etc. Um lugar de glória da Fé católica. É verdade. Mas o que precedeu a esta glória em geral não se conhece.

Nero, por exemplo, um dos mais ferozes imperadores romanos, resolveu realizar uma grande festa nos bosques do Monte Vaticano, então povoado apenas de árvores e plantações, sem nenhum edifício. Para iluminar o vasto local, esse César não teve melhor idéia do que amarrar nos troncos um número incontável de católicos que ele desejava matar. Assim, enquanto os mártires ardiam e se consumiam até morrer, embaixo os  pagãos dançavam, riam, pulavam, diziam desaforos, zombavam deles e os atormentavam. E desta maneira sacrificavam os católicos com uma extraordinária indiferença para com a vida humana, com gosto de causar a dor e empenho de tratar com crueldade.

Muitos povos da Antiguidade eram dados a práticas aviltantes e infantis nos cultos aos seus ídolos. Ao lado, a deusa grega Minerva; abaixo, Istar, deusa babilônica da guerra

Infantilidade e aviltamento nas religiões antigas

Quanto aos cultos praticados pelos povos anteriores a Cristo, a despeito da imensa variedade que apresentam, certos traços comuns podem ser apontados em todos eles.

Cada país tinha sua religião e seus deuses. Entretanto, essas religiões em geral não se consideravam reciprocamente falsas como hoje ocorre. Um romano podia crer, por exemplo, na existência de deuses tutelares do Egito, bem como um egípcio podia crer nos deuses romanos. Mas os deuses de cada país eram privativos do respectivo povo.

Os romanos acreditavam que, enquanto os dois países combatiam, os deuses também entravam em luta. Sempre bons políticos, procuravam então obter a traição das divindades opostas, prometendo-lhes que, em caso de vitória das armas imperiais, seriam transferidos para Roma. E os romanos consideravam isto um prêmio invejável pelos próprios deuses…

Por esse motivo, receosos da traição, muitos povos também se dirigiam a seus deuses antes dos combates, ameaçando-os de apedrejamento, caso a cidade não fosse vitoriosa. E, por via das dúvidas, amarravam-nos com fortes cordas!

Atitudes como essa nos fazem ver que, mesmo nas civilizações mais adiantadas, misturava-se na religião uma série de práticas infantis. No Japão, por exemplo, afugentavam-se os espíritos com flechas sibilantes. Na Pérsia, a religião vedava como pecado cuspir dentro d’água, ou enterrar os mortos; e o melhor remédio para as pessoas gravemente enfermas consistia em aproximar delas um cão, cujo olhar teria a propriedade de afugentar os maus espíritos causadores da doença. Matar formigas era considerado um insigne ato de virtude.

Outra característica do aviltamento a que as religiões pagãs reduziam o homem era a adoração de seres que lhe são inferiores. Daí os egípcios adorarem bois, pássaros, crocodilos e gatos. Daí também a adoração de elefantes na Índia, e até de pulgas. Pior ainda era o culto prestado a seres inanimados.

E vemos ritos por vezes abomináveis, idolátricos, satânicos,  em que se praticava o homicídio ou até o infanticídio, como se dava nas mãos do monstro Moloc — o Baal de Cartago. Quando esta cidade-estado encontrava-se em perigo, ateava-se fogo por debaixo do ídolo, e sua grande figura de bronze se tornava incandescente. Então as melhores famílias do patriciado local eram obrigadas a depositar as suas crianças recém-nascidas nos braços desse ídolo para ali morrerem queimadas. Acreditavam que com esse bárbaro holocausto evitariam a destruição de Cartago.

Práticas infames das religiões pagãs

Mas se fosse só a crueldade! Quantas outras coisas havia!

As religiões em geral exerciam uma ação malfazeja pela imoralidade intrínseca de suas doutrinas. Mesmo as mais elevadas pactuavam com grandes desonestidades.

Os caldeus eram politeístas e panteístas. Acreditavam que os deuses habitavam nos planetas. Tinham uma idéia muito confusa acerca de Deus, por eles identificado com  a natureza. Sua religião era do terror, e tinham grande pavor dos deuses que adoravam. Era também uma religião sinistra e corruptora, com práticas lúbricas e horripilantes, como no templo da deusa Mélita.

“O Faraó Taharka oferece dois copos de vinho ao deus falcão Hemen” — A adoração a seres inferiores ao homem era outra aviltante prática religiosa da Antiguidade pagã

Veja-se a religião dos fenícios. Eles habitavam uma estreita faixa de terra limítrofe com Israel e o Mar Mediterrâneo. Mas era um povo muito empreendedor e ganhador de dinheiro. Não tendo possibilidade de se estender no seu pequeno território, construiu uma marinha mercante extraordinária para aquele tempo, que percorria o Mediterrâneo em todos os sentidos e fazia grande riqueza. De maneira que a Fenícia era um lugar de luxo e de opulência. Ali tinham o templo de seu principal deus, a quem chamavam Baal.

A religião fenícia era muito depravada. Entre os sacrifícios para agradar a divindade estava o da mulher se tornar impura. Quanto ao homem, considerava-se que devia oferecer à divindade aquilo que tinha de mais precioso. Penetravam no templo em horas determinadas, enquanto uma música executava ritmos fortes e repetidos. Próximo ao altar, certos indivíduos ligados à religião acompanhavam a música girando velozmente como piões em torno de um ponto fixo. O ritmo alucinava e contagiava a multidão. Os homens pertencentes ao público que quisessem se sacrificar, aproximavam-se do altar frenéticos pela dança coletiva, e com uma espada que ali se encontrava, se amputavam. Banhados em sangue, saíam a correr pela cidade. Tais indivíduos passavam depois a residir junto ao templo e diariamente executavam a sua dança circular, flagelando-se até escorrer sangue em abundância.

A religião greco-romana não era menos cruel, nem menos depravada. Se os deuses do Olimpo grego realmente existissem, deveriam ser presos pela polícia, tal o número de incestos, de infanticídios, de parricídios e de roubos de que eram réus.

Segundo o velho culto dos antepassados, professado por gregos e romanos, quando um chefe de família morria, estrangulavam-se alguns escravos sobre a sua sepultura, junto com alguns cavalos, para que ele fosse servido na outra vida.

Os combates de gladiadores, que assumiram em Roma terríveis proporções, eram também, na sua essência, solenidades religiosas. A velha religião romana considerava conveniente, além do sacrifício dos escravos, o holocausto de algumas vidas para o apaziguamento dos mortos. Daí as lutas de gladiadores, nas quais o combatente derrotado era imolado em beneficio da alma de algum defunto. Posteriormente, esses combates passaram a ser diversões públicas, sem jamais perder o seu caráter religioso, pelo que, em muitas lutas, a solenidade começava pela matança de uma vítima inocente, aos pés do altar que se encontrava na arena.

Acima, o que resta do antigo templo de Vesta, em Roma; Ao lado, ruínas da residência das virgens que mantinham o fogo sagrado

Um grande historiador chegou a dizer que os gregos e romanos, tão admiráveis por muitas de suas virtudes, perdiam completamente a moralidade quando se tratava de assuntos religiosos.

O fim do culto de Vesta

Na religião pagã romana se adorava uma deusa chamada Vesta, em cujo altar se mantinha aceso um fogo sagrado, a cargo de sacerdotisas que deveriam velar para que ele não se apagasse. Durante o dia não havia tanto problema. A questão era a vigília noturna: se uma vestal dormisse durante seu período de guarda e o fogo se extinguisse, deveria ser enterrada viva. E os romanos eram implacáveis na execução dessas penalidades.

O culto de Vesta exigia que essas mulheres fossem virgens. E se uma delas deixasse de sê-lo, também era enterrada viva. Não podia se casar. Fora dessas restrições, elas levavam uma existência farta. Ganhavam muito dinheiro, e por toda parte eram alvo de homenagens especiais. No  Coliseu, ocupavam uma bancada de honra, e quando levantavam o polegar, o condenado à morte era libertado. Quando apontavam o polegar em direção ao solo, ele era irrevogavelmente condenado. Podiam passear, ir a festas, teatros, beber, e fazer o que quisessem.

Por causa desses privilégios, durante muito tempo esse culto se manteve. Mas o ambiente do mundo antigo, antes de Nosso Senhor Jesus Cristo, era tão contrário à pureza que, apesar de as vestais terem todas essas regalias, o número de romanas desejosas de ser uma delas foi caindo, até o dia em que não apareceram mais candidatas. Com isso, o fogo de Vesta se apagou para sempre.

As infâmias dos povos antigos transformaram o mundo num inferno, que apenas deixou de sê-lo quando nasceu o Sol da Justiça, Cristo Nosso Senhor, espargindo a graça e a virtude sobre a face da Terra

O mundo era um inferno antes de Nosso Senhor

Muito ainda se poderia dizer das infâmias do mundo antigo, presentes até mesmo num dos povos mais elogiados  pela sua cultura e inteligência, como é o povo grego. Em matéria religiosa, contudo, entregava-se a coisas como esta: uma vez por ano realizavam uma procissão em Atenas, levando uma enorme escultura obscena. Homens e mulheres percorriam as ruas cantando, pulando e dançando em torno desse ídolo, adorado por toda a cidade.

A Grécia contava inúmeros templos votados a Vênus, deusa do amor impuro. A tal ponto a religião estava ligada à imoralidade que, quando Atenas certa vez esteve em grave perigo de ser conquistada pelo adversário, o governo recomendou seus destinos a Vênus. Tendo passado o perigo, mandou pintar no templo um desfile das mulheres mais infames da cidade, postas em atitude de prece, com a seguinte inscrição: “Elas, com as suas orações, salvaram Atenas”.

Não tardou que as mentalidades mais eminentes da Grécia se insurgissem contra tal religião, reconhecendo-a como absurda, e chegando à convicção da falsidade dos deuses pagãos. Por ter pregado tais doutrinas às escondidas, Sócrates foi condenado à morte. E Platão, só sob impenetrável segredo, sustentava a mesma convicção aos seus alunos, por receio de lhe advir igual destino.

Como acontece naturalmente hoje em dia, procura-se ocultar o pior dessas coisas, para apresentar o mundo antigo quase exclusivamente por seu aspecto favorável. De um lado, celebra-se as linhas clássicas e perfeitas do Parthenon, em Atenas, que representam um senso estético muito apurado; de outro, omite-se a menção aos cultos depravados e a outras coisas do gênero que representavam a extrema decadência desse povo.

Na realidade, o mundo era um inferno antes do advento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Somente depois de Ele ter ensinado a sua lei,  fundado a sua Igreja e obtido para os homens as graças necessárias, abundantes e superabundantes para praticarem a virtude, é que esta começou a se espalhar pela face da Terra.

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