domingo, noviembre 24, 2024

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Idealismo: o melhor remédio contra a “baixa”

Ainda que a Medicina progrida constantemente, certos males psicológicos evoluem sem que a sociedade contemporânea encontre eficaz remédio para curá-los. Um deles é, sem dúvida, o desânimo. Ao comentar o estado temperamental dos “desanimados”, Dr. Plinio designava-o como o “estado de baixa”. Ou seja, aquela disposição temperamental onde o abatimento torna-se preponderante. No presente artigo ele nos mostra que, embora a “baixa” possa ter causas variadas, o remédio para ela será sempre o mesmo: com o auxílio de Nossa Senhora, desejar a realização de grandes ideais.

Fotos: M. Shinoda; F. Lecaros.

A “baixa” pode ser ocasionada por um fator físico ou por um fator psicológico. Evidentemente, às vezes as coisas se misturam, e a “baixa” física ocasiona uma “baixa” psicológica.

Fotos: M. Shinoda; F. Lecaros.
À esquerda, Plinio no Jardim da Luz; à direita, Fräulein Mathilde Heldmann.

Procurar as razões físicas para uma crise de “baixa”

A pessoa, por exemplo, possui sem saber um problema de coluna; por isso sente certo incômodo físico que atinge seu espírito, e ela então fica na “baixa”.

Quando moço, eu sentia certa dificuldade em permanecer muito tempo de pé, ou então em andar longos trechos, porém, em certas ocasiões, era obrigado a fazê-lo. Às vezes eu conseguia, mas outras não, pelo contrário, me cansava, me aborrecia, achava cacete.

Porém, formado pela mão de dragão da benemérita Fräulein Mathilde, eu entendia que era preciso ter força de vontade e andar, ou permanecer de pé, mesmo assim. Às vezes me sentia bastante indisposto; mas aquela satisfação de perceber que eu me obrigava, dava-me um bem-estar na alma.

Em pequeno, eu havia feito exercícios por causa de um desvio na espinha. Mesmo assim, depois de moço não me passou pela cabeça que pudesse ser esse desvio na espinha a causa de tais incômodos. Somente muitos anos depois realizei o que era.

Vencendo isso, a minha vida se tornava dura, mas com a vantagem de que, transposta a dificuldade, eu tinha sensação de ar fresco para a alma, por haver, afinal, conseguido o que queria.

Mas a experiência mostra que nem todo o mundo faz isso assim… Afinal, nem toda criança foi educada pela Fräulein Mathilde!

Então, o primeiro conselho é: tendo “baixa”, procure saber se não há uma razão física. Se não encontrá-la, é o caso de ir a um médico e dizer-lhe: “Sinto tais dificuldades, quero saber se existe uma causa física. Faça um exame geral de meu organismo, para ver o que eu tenho.” É uma coisa que pode dar muito bom resultado.

Menciono isso, que é o lado mais simples; mas qualquer um entende que a maior parte das “baixas” não tem razão física, mas psicológica. E quando a causa está na alma, no estado de espírito, como fazer para curá-la?

Como lutar contra o habitual estado de “baixa”?

Vou tratar agora da “baixa” puramente psicológica, a qual apresenta dois tipos. Há indivíduos que ficam em “baixa” em certas ocasiões e circunstâncias. Outros habitualmente têm “baixas”.

Vou me dirigir especialmente a estes últimos, porque para aquele que de vez em quando tem uma “baixa”, acontece o seguinte: ele precisa fazer uma coisa da qual não gosta e como tem que fazê-la, sente uma depressão, uma “baixa”. Mas isso se apresenta raras vezes e não lhe cria um problema muito grave, e ele toca sua vida.

Entretanto, outros têm habitualmente “baixas”. Como se deve lutar contra a “baixa” habitual?

Em primeiro lugar, eu não conheço nenhum sistema pelo qual a pessoa possa afastar uma “baixa” como quem espanta um mosquito. O que pode haver é uma coisa diferente: cada vez que a “baixa” se apresenta, a pessoa emprega o mesmo método, fazendo com que a “baixa” vá diminuindo, à semelhança do mar que vai recuando na maré decrescente. E pode acontecer que a “baixa” acabe desaparecendo. Então, nós temos que saber como fazer.

Dou-lhes um conselho: sempre que uma coisa não lhes agradar, ou lhes for prejudicial ou nociva, querendo removê-la, procurem sua causa, porque não se remove alguma coisa má a não ser conhecendo e depois eliminando sua causa.

O primeiro conselho é: tendo “baixa”, procure saber se não há uma razão física. Se não encontrá-la, é o caso de ir a um médico e dizer-lhe: “Sinto tais dificuldades, quero saber se existe uma causa física.” É uma coisa que pode dar muito bom resultado.

Fotos: M. Shinoda; F. Lecaros.
Dr. Plinio durante uma de suas célebres “palavrinhas” (conversas curtas e informais com pequenos grupos de jovens) na década de 1980.

A “baixa” pode ter sua origem no modo pelo qual se educa uma criança desde o berço

Qual é a causa habitual dos estados de “baixa”, em que os indivíduos caem? A causa habitual disso vem de um modo pelo qual muitas vezes se educa uma criança, de maneira a deformá-la.

Eu vi cenas como esta: uma criança deitada no universo macio de um berço, todo forrado de cetim, com o colchão e travesseirinho de plumas, dossel azul ou cor-de-rosa claro. E, pendurado no berço, um bonequinho para divertir a criança a fim de não amolar o pai nem a mãe.

Os mais velhos, fazendo da criança um brinquedinho para si mesmos, com o qual se divertem vendo suas reações, agitam qualquer coisinha diante da criança. Esta quer pegar o brinquedo, e eles o colocam de um lado e de outro para verem a criança se mover.

Ela começa, então, a chorar porque não consegue pegar aquilo; as pessoas lhe dão o brinquedo e a criança sossega durante algum tempo. Posteriormente, aquilo não tem mais graça e ela começa a procurar outra coisa para se divertir.

Desordenado por natureza, o homem é levado a formar a ideia de uma vida como ela não deve ser

A procura de alguma coisa para se divertir está na natureza do homem decaído pelo pecado original. Se nós fôssemos concebidos sem o pecado original, o que aconteceria?

Seríamos equilibradíssimos, e nunca quereríamos coisas que não convêm. Tudo se passaria numa orientação perfeita, e por causa disso a vida do homem seria paradisíaca.

Porém, após o pecado de Adão, a natureza do homem tornou-se desordenada: queremos coisas que nos fazem mal, nos desorganizam, que não são razoáveis.

E esse ímpeto do homem em relação às coisas que ele não deveria querer o leva a formar a ideia de uma vida como ela não pode ser. E quando nós vemos que a vida que estamos tendo não é aquela para a qual o nosso ímpeto nos levaria, caímos na “baixa”.

“Baixa”: o resultado inevitável de um plano de vida descolado da realidade

De fato, muita gente alimenta sonhos irrealizáveis, os quais têm a “baixa” como resultado inevitável.

Por exemplo, uma pessoa lê as obras do Júlio Verne e se apaixona pela ideia de ser comandante de submarino. Ela compra, então, livros a respeito de submarinos e sonha com o dia em que possa dirigir um.

Ou então, alguém imagina vir a ser um diplomata fabuloso que, numa reunião de celebridades universais, chega à última hora, no momento em que uma guerra está para rebentar. Ele entra amável, com um lenço salpicado com umas gotas de perfume extraordinário, todos se voltam para ele e dizem:

— Estávamos à sua espera para resolver o problema.

Todos os olhos estão cravados nele, os repórteres anunciam pelas televisões que o professor tal acaba de chegar. Ele se senta amável, apanha uma pasta com uns papéis e declara:

— Mas não pode ser tão complicado assim; deixe-me ver um pouco.

Ele folheia a pasta com uma cara displicente, como quem lê um manual de história para crianças. Fecha-a e diz:

— Eu recomendo uma solução muito simples, façam assim, combinem de tal jeito.

E todos exclamam:

— Oh! que formidável!

E ele conclui:

— Meus caros, deem-me licença, pois está resolvido o problema, eu agora tenho que tomar um avião, porque vou, a pedido do Imperador do Japão, resolver um problema que aflige aquele país.

Assim, a pessoa compõe quatro ou cinco sonhos irrealizáveis que ficam trotando na cabeça. Quando ela vê que não realiza nada disso, tem “baixa” e dor de cabeça. E não adianta tomar cafiaspirina, porque a dor pode passar, mas a desordem na cabeça continua.

Essa baixa é um castigo que a Providência dá porque o indivíduo sonha idiotices.

Com honestidade, deve-se reconhecer a própria culpa na hora da “baixa”

Então, é preciso compreender que as coisas são de outro jeito. Àqueles que ficam na “baixa” porque têm sonhos desses, eu recomendo que, ao menos, tenham a honestidade de reconhecer diante de Deus:

“Eu estou assim porque mereci, pensei e quis idiotices, e estou levando a surra que, segundo o desejo da Providência, o idiota deve levar. O culpado de minha ‘baixa’ sou eu.

“Meu Senhor, pequei contra Vós, porque Vós não me pusestes no mundo para sonhar, mas para levar uma vida séria. Recebei, pelo menos, o meu ato de reparação por Vos ter ofendido; eu quero reparar diante de Vós o meu pecado com o sofrimento que tenho; eu Vos agradeço, meu Deus, essa surra que eu tomo, porque é um aviso; vejo nele as vossas mãos justiceiras”.

Isso que o indivíduo deveria fazer na hora da “baixa”, não o fará, pois ele se sente vítima e quer imaginar que todos os outros são culpados, enquanto ele não tem culpa de nada.

Devemos ser homens de ideais

Entretanto, se esses sonhos estão instalados na cabeça de alguém, o que deve ele fazer? Desinstalar, é claro!

Há fazendas onde, no forro da casa, instalam-se certos bichos que, à noite, correm de um lado para outro e impedem as pessoas de dormir. Nesses casos, é necessário colocar veneno para tentar eliminar o problema.

A cabeça do homem sem ideal é como o forro dessas casas, onde os sonhos e as manias se movimentam à semelhança desses bichos. Então é preciso acabar com eles e jogá-los fora. Assim, a limpeza e a tranquilidade reinam no sótão e se pode dormir tranquilo embaixo.

Para que nossa vida seja tranquila, devemos ser homens sem sonhos; devemos ser homens com ideais.

O sonhador não encontra o verdadeiro encanto da vida

Devemos também considerar o seguinte:

É tão cômodo e agradável sonhar, de tal modo isso não exige esforço nenhum, que o indivíduo adquire a ideia de que a vida é fácil, elabora planos fáceis para sua existência e, assim, fica amolecido.

Ora, na vida tudo é difícil; o charme e o atrativo da vida estão na dificuldade.

Imaginemos um gramado em estilo inglês, com gramas cor de esmeralda, conservadas tão bem que se tem a impressão de que o jardineiro sabe o nome de cada uma delas. Tudo está armado para o jogo de polo. Então, vêm uns cavaleiros e começam a tocar aquelas bolas, e a partida se desenvolve.

Que juízo se faria de um homem que, vendo aquelas pessoas cavalgando, fizesse o seguinte raciocínio: “Esses jogadores de polo podiam passar uma manhã tão mais agradável se colocassem poltronas no meio desse gramado e ficassem ali comendo, bebendo, lendo.”

Nossa Senhora é Rainha do Céu e da Terra, mas é também a Mãe de todos os esfarrapados e maltrapilhos espirituais que há no mundo.

Fotos: M. Shinoda; F. Lecaros.
Nossa Senhora da Alegria – Catedral de Barcelona, Espanha.

Eu lhe diria: “Você não compreendeu que a graça do jogo está na dificuldade. Saber dominar-se e usar o próprio corpo para conseguir uma coisa difícil, nisto há um atrativo para uma alma de valor.”

No fundo, ele não entende que se diverte verdadeiramente na grama quem sabe jogar com a dificuldade.

Viver, sob certo ponto de vista, é um jogo, o qual tem tanto mais atrativo quanto mais difícil é a vida que o indivíduo escolheu.

Então, para vivermos bem, precisamos escolher uma nobre e bela dificuldade para vencer. Precisamos ter o desejo de superar tal dificuldade, e preparar as forças para vencê-la de fato. Isso é que dá sentido à vida.

Com o auxílio de Nossa Senhora realizam-se os grandes ideais

Alguém dirá:

— Está bem, Dr. Plinio, mas eu não tenho forças para isso.

Respondo-lhe:

— Ninguém tem forças para isso. Peça a Nossa Senhora, reze muito, seja muito devoto d’Ela.

— Mas a minha oração vale pouco…

— Meu caro, vale tão pouco que é praticamente nada. Mas, se pedir a Nossa Senhora que Ela pegue o seu presente sem valor e o ofereça a Deus, pelo fato de Ela mesma o estar oferecendo, o presente terá um grande valor.

É célebre a metáfora de São Luís Grignion de Montfort: Um camponês quer presentear o rei, mas para isso tem apenas uma maçã. A rainha, notando seu embaraço, o olha com bondade e sorri; ele se aproxima da soberana e declara: “Senhora, eu queria oferecer a vosso esposo essa maçã, mas é tão pouca coisa… oferecei-a vós de minha parte.” A rainha põe a maçã na bandeja de ouro, volta-se para o rei e diz: “Meu esposo e meu senhor, aqui está uma linda maçã.” O monarca, vendo ser a rainha que lhe está oferecendo, fica muito contente; e o camponês se alegra, porque o rei sorriu para a maçã dele.

Assim é Nossa Senhora. Ela é Rainha do Céu e da Terra, mas é também a Mãe de todos os esfarrapados e maltrapilhos espirituais que há no mundo.

Uma pessoa apresenta a Nossa Senhora o que tem: “Minha Mãe, se não se tratasse de Vós, eu até teria vergonha, mas sei que as mães são compassivas e bondosas. Vós, que sois incomparavelmente superior a qualquer mãe, oferecei isso a Nosso Senhor; é o pouco que fiz hoje. E Vos peço uma recompensa maior do que a “maçã” que dou. Rogo-Vos graças para servi-Lo melhor.”

Então, recebemos uma graça que nos faz operar coisas admiráveis. Dessa forma, a realização dos ideais se torna possível.

(Extraído de conferência de 14/11/1987)

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