Ruínas do Castelo Fère-en-Tardenois (França)

Se compararmos os costumes de nossos dias com os de outrora, não podemos deixar de notar que a diferença é a maior e a mais chocante possível. E que, desde a fundação da Igreja por  Nosso Senhor Jesus Cristo, não houve uma época em que um número tão grande de países entrasse numa crise moral tão profunda, levando a uma tal dissonância com os Mandamentos da Lei de Deus, com os Mandamentos da Igreja. Levando, portanto, a uma tal dissonância, não só esta ou aquela camada social de um país, mas os países inteiros de alto a baixo da sociedade, de maneira tal que se pode dizer que o mundo todo de hoje vive longe de Nosso Senhor, vive contra Nosso Senhor, e que desenvolve uma vida que não pode deixar de trazer a derrocada da civilização.

O que digo pode parecer terrível, mas é verdade. E seria terrível não dizer a verdade nas épocas em que esta é terrível, porque é uma obrigação dizê-la. Os efeitos maus de não fazê-lo são péssimos, quando uma situação é terrível e não temos coragem de apontá-la como tal.

Imagine-se que, dentro de um recinto, eu começasse a notar um início de incêndio numa cortina. É um perigo tremendo que ameaça a todos os ali presentes. Quanto maior o perigo, maior a gravidade se eu não alertasse. É uma coisa evidente. Se há uma situação terrível no mundo moderno, os que a vêem têm a obrigação de alertar os outros, senão são cúmplices do perigo que avança.

Em termos mais simples, se vejo uma fera que escapou de um circo, e que está andando livremente por uma rua onde brincam crianças e eu não advirto: “Olhe, vem vindo uma fera, é preciso levar embora as crianças, avisar a polícia, etc.”, eu sou cúmplice da fera.

Ora, uma fera avança no mundo contemporâneo, ameaçando-o por inteiro. Quem não advertir a humanidade desse perigo, fica cúmplice dele.

A moral católica, fundamento da civilização

Para fazermos essa advertência, cumpre respondermos antes a uma importante questão: como se pode dizer que o fundamento da civilização é a moral católica? Poderia alguém dizer: “É qualquer moral, não precisa ser a católica.”

Não. O que é que vem a ser a moral? A moral é o conjunto de regras que são conformes à ordem natural das coisas, de maneira que, se  os homens as seguirem, tudo dá certo, caso contrário, tudo dá errado.

É a coisa mais normal do mundo. Uma máquina de projeção de filmes, por exemplo, tem a sua construção, e suas várias peças estão numa determinada ordem, necessária para que a projeção se realize. Se as peças não obedecerem à ordem que lhes é própria, não se pode fazer projeção. A desordem traz a inoperância, a inutilidade, a impossibilidade de fazer qualquer coisa. Pode trazer o desastre, conforme o caso concreto.

Ora, os Mandamentos da Lei da Deus e, como seu desdobramento, toda a moral católica, são os princípios da ordem natural das coisas, nos quais se baseia o bom andamento de tudo na sociedade humana. Se esses princípios desandam, com sua deterioração decai também o mundo.

A contínua violação dos Mandamentos divinos cria para o mundo contemporâneo um estado de perigo permanente o qual, mais dia ou menos, salvo uma conversão regeneradora, o conduzirá à sua completa ruína

Por isso Santo Agostinho fez uma bela interpelação a um pagão de seu tempo, expressando-se mais ou menos do seguinte modo: “Vós dizeis que o fato de o império romano se ter convertido à Fé católica é a razão de sua fraqueza, pela qual os bárbaros o estão invadindo. Eu vos respondo: Imaginai um estado no qual o rei e os súditos procedam de acordo com a Lei de Deus, e que os pais e os filhos, os esposos e as esposas, os mestres e os alunos, os generais e os soldados, os prefeitos e os habitantes do município, etc., todos agirem de acordo com a Lei divina, não fica evidente que nasce daí uma ordem maravilhosa para o país? E que o país sobe até todo o grau de perfeição que os seus recursos naturais lhe proporcionam? É evidente. Imaginai, pelo contrário, que todo o mundo viole esses princípios, que país pode resistir à violação sistemática dos Mandamentos da Lei de Deus? Nenhum. A nação desaba. Imaginai um país onde todos roubam, mentem, pecam contra a castidade, cometem adultério, e daí para a frente. Pergunto-lhe: quanto tempo dura a grandeza desse país? Ele se dissolve”.

O mundo atual vive da violação dos Dez Mandamentos

Ora, a sociedade contemporânea vive da violação comum dos Mandamentos da Lei de Deus. Prestemos atenção a qualquer fato: por exemplo, o traje com o qual uma criança anda na rua. Os pais a vestem muitas vezes com tal indecência que é freqüente encontrar-se crianças trajadas de maneira altamente censurável. Mas, se fosse só isto… O pai e a mãe estão vestidos de modo indecente. O professor e a professora também, e dão aulas de educação sexual para salas mistas, deformando a moralidade das crianças, pois estas não devem receber esse ensino de uma pessoa estranha, num ambiente estranho, e sim diretamente dos pais, no recesso do lar. Ou então de um confessor, de um pároco, autoridades qualificadas para falar sobre o tema.

Imaginem todo o resto: a droga, a televisão imoral e tudo o mais que vemos freqüentemente. É uma violação contínua da Lei de Deus, um incitamento a que todo mundo a viole cada vez mais. E esta situação cria um estado de perigo permanente que o mais atilado dos políticos, o mais exímio dos economistas, o mais perfeito dos militares não poderá evitar. Um dia a mais ou um dia a menos, ou os homens se convertem a Deus e à sua Igreja, ou este mundo ruirá completamente.