Imagens dos Apóstolos, na fachada da Catedral de Amiens

Continuando uma série de artigos que vinha escrevendo no “Legionário”, sobre formação espiritual, Dr. Plinio trata da Fortaleza, uma das “virtudes cardiais cuja carência mais se faz sentir hoje”.

Em brilhante artigo, não há muito publicado em uma folha francesa, o Cardeal Baudrillard acentuou que, graças aos rudes tempos em que vivemos, a alma contemporânea é sedenta de heroísmo. As ideologias de panos-quentes, os programas minimalistas, as atitudes ecléticas, já não são capazes de empolgar, arrastar e edificar. Só as posições nítidas, as idéias radicais que exigem ânimo viril e dedicação heróica, encontram no espírito das massas aquelas repercussões profundas que são os únicos mananciais de um entusiasmo durável e fecundo.

Em meio de tantos e tão expressivos sintomas de decadência, este aspecto da alma contemporânea inspira contentamento. Com efeito, se mingua sobre a face da terra a raça maldita dos mornos que — segundo a frase da Escritura — “Deus vomita de sua boca”, ainda há uma esperança de que o fogo do Céu não faça, nesta civilização pecadora, a devastação de que pereceram outrora Sodoma e Gomorra.

“Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Igreja serão sempre uma pedra de contradição entre os povos, e o mesmo conhecimento exato do Catolicismo, que em muitos gera o amor, em outros causa oposição.”

(Ao lado, imagem da Catedral de Chartres)

Regra fundamental do proselitismo católico

Disse muito bem Santo Agostinho que a Igreja Católica não pede aos seus adversários outra coisa senão o direito de não ser julgada sem antes ser conhecida. Muitos espíritos superiores deduzem daí que se deve supor que todas as pessoas que condenam a Igreja, só o fazem porque não a conhecem. Esta afirmação, verdadeira em determinados casos particulares, se generalizada passa a ser absolutamente ridícula. Jesus Cristo e sua Igreja serão sempre uma pedra de contradição entre os povos, e o mesmo conhecimento exato do Catolicismo, que em muitos gera o amor, em outros causa ódio. Se a Igreja deseja sempre ser conhecida antes de julgada, fá-lo não só para evitar os efeitos da ignorância de alguns, mas ainda para que fique bem patente o cunho satânico do ódio de outros.

Assim, a franqueza apostólica foi sempre uma regra fundamental de todo proselitismo católico. Excetuadas certas situações especialíssimas, o interesse da Igreja consiste em fazer com que seus arautos a proclamem sem desfiguramentos, sem diluições, sem covardes adaptações ao espírito da época.

Se em todos os tempos esta foi a regra, hoje, mais do que nunca, esta atitude se impõe. Ela já não constitui só um ato de elementar coerência com nossos princípios, mas uma medida de soberana sabedoria estratégica. Sabiam-no todos os maníacos de “adaptações ao sabor da época”: vivemos em uma era de radicalismo, e a adaptação de nossos processos de propaganda à época consiste em mostrar o Catolicismo em sua expressão mais radical, despido das sacrílegas maquillages com que muita gente gostaria de desfigurar a sua fisionomia.

Inspiram, pois, compaixão os espíritos insignificantes que julgam, à moda dos mais rançosos “católicos” do século passado, que o único meio de fazer circular as idéias católicas consiste em apresentá-las diluídas em dinamizações tanto melhores quanto mais tênues.

(Excertos de artigo publicado no “Legionário”, nº 478, de 9/11/1941. Título e subtítulo nossos.)