Dr. Plinio falecera havia pouco mais de dois anos. Num círculo de conversa de seus admiradores, alguém que bem o conhecera por 4 décadas lançou repentinamente uma sugestão original: colocar ao alcance de um grande público a riqueza de pensamento do inesquecível líder católico, o que se poderia realizar por uma publicação mensal. O nome? Por que não “Dr. Plinio”? Surgia, assim, nossa revista em 1998.

No momento em que foi excogitado seu lançamento, a idéia podia parecer temerária para quem não conhecesse a amplitude e o valor da obra intelectual de Dr. Plinio. Para nós, isto não constituía uma preocupação. Sabíamos quão vasto é esse conjunto de ensinamentos, um todo coerente, harmônico, pleno de sabedoria, sempre elevado, variado quase ao inimaginável. Mais: expressão da humildade de seu autor, evidente na linguagem despretensiosa — visando somente à glória de Deus e ao bem das almas —, assim como na sua submissão amorosa e incondicional ao supremo Magistério da Santa Igreja Católica. As 1900 páginas estampadas até agora dão disto tudo um testemunho inequívoco.

Para a preparação de cada número, basta-nos pôr os olhos nesse belo caleidoscópio do pensamento pliniano. Em linhas gerais, compõe-se ele de explicitações, reflexões e elaborações inéditas, incorporadas a uma síntese de tudo aquilo que vem sendo há séculos depositado no tesouro intelectual da Igreja. A componente tomista é discernível com nitidez em todo o conjunto (afinal, Dr. Plinio disse de si mesmo, em seu Auto-retrato filosófico: “Sou tomista convicto”), mas não é a única. Ao lado dela, é perceptível a influência inaciana na sua lógica, a carmelitana na contemplação, a montfortiana na mariologia, a cluniacense no tocante à sacralização da ordem temporal. Em teologia, o próprio Dr. Plinio citava sua admiração pelo jesuíta flamengo Cornélio a Lápide. Diante dos males de nosso tempo, suas figuras-modelos eram os profetas do Antigo Testamento, em especial a de Santo Elias. Na sua espiritualidade, ocupava um ponto monárquico a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, considerando a partir daí a figura do Redentor como arquétipo e soberano da criação. No tocante à história e à sociologia, inspirou-se e fundamentou-se nas encíclicas papais dos séculos XIX e XX. Na sua metafísica, muita importância têm alguns princípios da estética do universo, como a unidade na variedade, a hierarquização das criaturas, os contrastes harmônicos. Sua sociologia afirma a superioridade do orgânico sobre o planejado; a do direito consuetudinário sobre o direito romano… Interrompemos por aqui esta sinopse. Seria ela necessariamente falha no curto espaço de um editorial. Contudo, graças ao favor de Nossa Senhora, dispomos destas páginas para, de modo paulatino, expormos o acervo doutrinário legado por Dr. Plinio.

Por tudo isso, não podemos deixar de manifestar especial júbilo por havermos atingido a 60ª edição, no decorrer do 6º ano de vida desta revista. Só nos resta voltarmo-nos agradecidos à Santíssima Virgem e, utilizando uma expressão cara a Dr. Plinio, externar nosso desejo de seguir avante “auspice et afflante Beatae Mariae Virginis” — “sob o patrocínio e o bafejo da Bem-aventurada Virgem Maria”.