Ao discorrer sobre a infinita perfeição de Deus, numa consideração que lhe era muito cara, Dr. Plinio costumava frisar o fato de que o Onipotente, após concluir sua obra criadora, descansou no sétimo dia, contemplando o conjunto do universo que Ele do nada havia tirado.

Essa atitude contemplativa, assim como as demais excelências divinas, deve ser imitada pelos homens, afirmava Dr. Plinio. Segundo este, “diante das incontáveis belezas da criação — por exemplo, as maravilhas siderais, as estrelas, o mar, as montanhas, o campo — nossa postura há de ser a de admirá-las, analisar cada uma com encanto, mas nos embevecermos superiormente com o conjunto delas. Desse modo se constitui em nossa alma, com o auxílio da graça, algo por onde espelhamos o Criador naquele seu repouso meditativo, quando viu que cada coisa era boa, e a totalidade ainda melhor.

“Por exemplo, é comum, em noites particularmente lindas e agradáveis, sairmos à varanda de casa para observar as vastidões do firmamento povoado de astros. No espírito humano sensível, essa contemplação causa verdadeiro deslumbramento! Porém, o que ele julga mais bonito não é esta ou aquela estrela, e sim o fabuloso conjunto delas. Diria mesmo que, sob certo ponto de vista, essa imensidade de corpos celestes não lucra em ser analisada nos seus pormenores. Pois alguma alma de feitio assaz ordenativo poderia ter a impressão de que esses brilhantes espalhados pelo céu foram atirados naquelas distâncias a mancheias, sem obedecer a nenhum plano, a nenhum desígnio. E num primeiro momento, sem reflexão, ela talvez desejasse o universo ordenado como o jardim de Versailles…

“Ora, as constelações foram assim dispostas por Deus e, como todas as realizações d’Ele, revestem-se de imensa pulcritude. Devemos compreender que elas nos falam do Criador, e representam, até certo ponto, o ‘avesso do tapete’ para quem não conhece a visão de conjunto que o próprio Altíssimo possui do céu estrelado, e não o considera de acordo com determinada ordem que, desde a terra, não nos é compreensível.

“O Eterno Senhor, para nos incutir o desejo de participar da sua sabedoria, constituiu o universo dessa maneira, como se nos dissesse: ‘Meus filhos de todas as épocas, o reverso do tapete de minha morada é esse esplendor. Suba para além, e você encontrará a ordenação misteriosa e insondável que agora não podem vislumbrar!”

“Então nos é reservada o que se chama a beatitudo incomprensibilitatis — a bem-aventurança dos que não entendem, mas, por terem uma alma respeitável e hierárquica, ficam encantados em admirar e contemplar: ‘É incompreensível para mim, porém Deus compreende. Ó maravilha!”

“Saibamos, portanto, que o melhor de tudo não será quando virmos e entendermos a ordem das estrelas, e sim quando contemplarmos a Deus face a face, e n’Ele percebermos o insondável da ordenação estelar. Nessa hora compreenderemos, outrossim, como terá valido a pena viver para amá-Lo e adorá-Lo, para O servir e imitar. Teremos procurado conhecer essa ordem no sentido superior da palavra, isto é, em última análise o divino governo do Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, símbolos d’Ele, a Perfeição das perfeições!”