Em seus recentes ensinamentos e palavras, como na sua primeira Encíclica (Deus charitas est – “Deus é amor”), o Papa Bento XVI procura salientar que o conhecimento ao qual o homem é chamado não se restringe a um raciocínio abstrato, dissociado da nossa capacidade de amar. Antes, cumpre cultivar um amor a Deus e à Igreja que assuma o homem por inteiro, fruto não de seu mero esforço, mas da ação da graça e da nossa correspondência a ela. Escreve o Sumo Pontífice:

“Nós cremos no amor de Deus; deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida. No início do ser cristão não há uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. No seu Evangelho, João expressou esse acontecimento com as seguintes palavras: ‘Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único para que o que n’Ele crer (…) tenha a vida eterna’ (3, 16). Com a centralidade do amor, a fé cristã acolheu o núcleo da fé de Israel e, ao mesmo tempo, conferiu a este núcleo uma nova profundidade e amplitude” (Deus Charitas est, 1).

Assim era a Fé alimentada por Dr. Plinio. Uma verdade, alheia a qualquer relativismo, que o homem deve não apenas conhecer, mas amar. E amar profundamente, até se transformar naquilo que ama. Certa feita, dirigindo-se a um grupo de jovens seguidores, disse-lhes:

“A doutrina católica não deve ser reduzida a termos puramente especulativos, mas trata-se de possuir dela uma autêntica sapiência, ou seja, uma ‘sapida scientia’: ciência com sabor. Importa compreendê-la de um entendimento feito não só de razão como também de amor, pelo qual se experimenta o gosto apurado dessa doutrina.

“Por difícil que pareça, devemos tomar esse sabor do ensinamento católico, identificar nossa alma com ele de um modo tal que tenhamos a degustação das degustações, que nos deleitemos com aquele algo inefável diante do qual nossa atitude só pode ser traduzida pela palavra ‘enlevo’. Esse algo que é uma luz a brilhar aos nossos olhos, um conjunto de imponderáveis que se acende para nós, um conjunto de apetências que despertam em nosso interior e nos fazem compreender que, nesta Terra, nada é mais capaz de nos fazer transbordar de alegria de viver, do que esse conhecimento repassado de sabor daquilo que é o reflexo de Deus neste mundo: a doutrina da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

“Se assim procurarmos compreender a Igreja e seu magistério, atrairemos a misericórdia de Nossa Senhora, e Ela fará com que se acenda em nossa alma essa forma verdadeira de amor à qual se referia Santa Teresinha do Menino Jesus, ao dizer que ‘para o amor nada é impossível’. Para os homens tocados pelo enlevo, guiados por esse amor à doutrina católica, nada lhe será impossível. Não porque são grandes e esperam de suas forças, mas porque Maria Santíssima é capaz de operar imensas maravilhas por meio dos fracos, a fim de manifestar o tamanho da grandeza d’Ela.

“Roguemos à Mãe de Deus que acenda o fogo da fidelidade na tocha de nossa fraqueza, e que no ardor dessa fidelidade a Terra inteira possa ser incendiada.”

Palavras fervorosas de quem compreendeu e amou com todas as fibras da alma a Santa Igreja, e não desejava outra coisa senão que os outros a amassem e compreendessem como ele. Palavras que fazem eloqüente eco àquelas pronunciadas por São Pedro Julião Eymard sobre o amor apaixonado que devemos render a Deus e ao Coração Eucarístico de Jesus. Convidamos o prezado leitor a constatá-lo, degustando os comentários de Dr. Plinio na seção “Santo do mês” deste número.