Há 65 anos, pelas páginas do “Legionário”, Dr. Plinio assim externava, uma vez mais, seu ardoroso amor ao Vigário de Cristo na Terra:

Um poeta latino escreveu estes versos tremendos: Tu regere imperio populos, romane memento! [Virgilio, Eneide 6, 851]. ‘Lembra-te, ó Roma, que tua missão é governar, pela força, os povos.’

Nós, que viemos ao mundo dois mil anos após, bem sabemos como faliu essa apóstrofe de Virgílio. A Roma das grandes conquistas e das grandes usurpações, a Roma da força bruta, cujo carro de triunfo trilhou tantas vezes sobre a dignidade de povos subjugados e sobre o solo de países vencidos, esfacelou-se e sepultou-se nas próprias ruínas. Mas outra Roma surgiu sobre as cinzas da primeira. Uma Roma nova que triunfa, que conquista, não pela espada ou pela força, mas pelo coração e pelo amor. Se Virgílio conhecesse as maravilhas do amor, certamente seus versos seriam uma profecia sublime: Tu regere amore populos, romane, memento! ‘Lembra-te, ó Roma, que vencerás o mundo pelo amor!’

E esse grande amor, esse grande coração, centro e força da Roma nova, é o Papa, o Vigário de Cristo. Pedro, primeiro Pontífice, ao receber do Mestre as chaves do reino do Céu, recebia antes seu coração divino. Possuindo o coração de Cristo, capaz de amar a humanidade inteira, Pedro pode ser Cristo na Terra. Clemente XIII, na constituição Inexhaustum, tem essa expressão singular: — Pedro é o sucessor de Cristo. Mas Pedro não poderia ser o sucessor de Cristo se não possuísse o coração de Cristo. Eis o mistério augusto que faz do Pontífice Romano o Pai universal dos povos, o próvido distribuidor do pão da verdade, o guia seguro nos caminhos tortuo­sos da paz e da justiça. Há vinte séculos a humanidade o reconhece como tal. Malgrado as lutas, as perseguições, as aberrações de todos os tempos, indivíduos e povos, grandes e pequenos, nos momentos de dor e infortúnio, voltam-se para Roma, apelando para Aquele que, sem distinção de casta ou de raça, a todos ouve, a todos acolhe, a todos consola e abençoa. A força moral do Pontífice é a mesma de sempre, de hoje, de ontem, de todos os períodos da sua história. Ele é o ponto de atração de todas as inteligências e de todos os corações. Sua majestade, sublime e excelsa entre todas, supera o humano, atinge o divino. Rei de um pequenino Estado, assenta-se sobre um trono que é a garantia de todos os tronos, porque é o grande infalível da moral que defende a ordem mais que os aparatos da força e a bravura dos exércitos. (…)

Em 1928, o Exmo. e Revmo. Dom Constantino Butkiewiez, vítima do bolchevismo insolente, morria fuzilado. Os jornais haviam pedido uma ‘vítima católica para a Páscoa católica’, e Monsenhor Constantino foi o escolhido. Minutos antes de morrer, pediu que lhe concedessem a graça de escrever uma carta ao Papa. Vítima inocente da prepotência, no momento do supremo sacrifício, homenageava com seu afeto e com seu pensamento, Aquele que ‘ama a justiça e odeia a iniqüidade’ e por quem ia derramar seu sangue. Foi-lhe negada, impiedosamente, a satisfação desse seu desejo. Com três tiros de revólver tombou o mártir e as ­suas últimas palavras pronunciadas entre o estertor da agonia foram estas: ‘Transmiti as minhas homenagens a Pio XI e dizei-lhe que até o extremo, permaneci fiel à Santa Sé’.

Não parece que estamos a ouvir, novamente, as narrações sublimes dos atos dos primeiros mártires que se entregavam aos suplícios, cantando hinos e enviando uma saudação afetuosa ao Pontífice de Roma?!

Eis a força moral do Pontífice. A mesma de ontem, a mesma de hoje; a mesma no passado, a mesma no futuro, a única capaz de salvar o mundo. Bem poderíamos corrigir os versos de Virgílio dizendo: Tu regere amore populos, Romane memento.

(Extraído do “Legionário”, nº 496, de 15 de março de 1942.)