Plinio em 1916

As celebrações do Natal e da Páscoa em sua infância marcaram de modo indelével a alma de Dr. Plinio. No outro extremo da vida, quando perguntado por seus discípulos e filhos espirituais, comprazia-se ele em recordar aquelas manhãs nimbadas pelas bênçãos das comemorações do Nascimento do Menino-Deus ou pelas graças tão particulares da gloriosa Ressurreição do Redentor. A propósito destas últimas, costumava descrever as inocentes alegrias que o animavam no Domingo de Páscoa, sob o maternal carinho de Dª Lucilia:

Na véspera, como era habitual todos os anos, mamãe enchia uma cesta de vime com ovos de Páscoa, bebidas e sanduíches, pois no domingo as crianças seriam levadas para um piquenique.

Em determinado momento na manhã de Páscoa, abria-se a porta do palacete Ribeiro dos Santos e, sob o vigilante olhar das governantes, saía uma chusma de crianças que, apinhadas em vários táxis, seguiam em alegre algazarra pelas ruas então tranqüilas dos Campos Elíseos. Junto, amparando com sua diligente e calma presença, ia Dª Lucilia. Em geral escolhia o Parque Antártica para a festa ao ar livre.

Quando chegávamos ao local, ela dava liberdade às crianças para irem brincar pelas diversas alamedas ajardinadas, cobertas pela sombra de imponentes árvores. Enquanto os pimpolhos se dispersavam, as governantes, sob a orientação de mamãe, escondiam em meio à vegetação apetitosos sanduíches de sardinhas portuguesas, lombo de porco, presunto e queijo, entremeados de fatias de ovos duros, além de ovos de Páscoa de chocolate ou de açúcar candy, envoltos em papéis prateados. Estes últimos ofereciam a agradável surpresa de conterem bombons. Quando tudo estava pronto, as crianças acorriam alegres à voz de Dª. Lucilia, chamando-as para virem descobrir aquelas delícias.

Pouco entusiasta de correrias, eu costumava ficar para trás, pensando comigo mesmo: “Mamãe dará um jeito”. Enquanto os outros, com avidez, iam à busca dos tesouros culinários ocultos, e as manifestações de alegria denunciavam terem sido encontrados os primeiros petiscos, voltava-me para Dª Lucilia (que comprazida observava toda aquela vivacidade infantil) e perguntava:

— Como é meu bem? Onde estão as coisas?

Carinhosamente ela respondia:

— Filhão, você precisa procurar!

Pouco depois eu insistia:

— Mas, meu bem, não vejo onde estão…

Então, olhando na direção onde havia algo escondido, ela sorria dizendo:

— Filhão, veja se você encontra lá.

Confiante em que o conselho materno sempre indicava o caminho certo, seguia o rumo apontado pelo olhar dela. Mamãe permanecia sentada a me observar. Vendo minha demora em encontrar as desejadas iguarias, levantava-se e vinha para junto de mim, que, sempre muito enfático, novamente lhe dizia:

— Meu bem! não estou achando esses ovos! Diga-me por favor onde estão, porque não os encontro…

Ela, por sua vez, me estimulava:

— Procure, procure! Olhe um pouco ali…

Por fim, descobria algumas guloseimas as quais, por sinal, eram meus manjares prediletos, escondidos especialmente para mim. Então eu abraçava e beijava Dª Lucilia, como expressão de meu filial reconhecimento. A seguir, ela me dizia com afeto:

— Vá brincar, meu filho.