Vista da cidade e do Castelo de Chinon, França, refletidos nas águas do rio Levienne

Aprimeira impressão que se tem diante do Castelo de Chinon, na França, nos vem da consideração do panorama em que ele se situa. Natureza agradável, e as plácidas águas de um rio nas quais o castelo se espelha. Águas que não assustam e correm, amistosas e doces, atravessando a pequena cidade, rumo ao oceano.

A localidade, que tem o mesmo nome do castelo, vive confortavelmente, entre as ruínas daquelas muralhas e a beleza do rio Levienne. Talvez, até há pouco, olhando com devoção para seu próprio passado, na moderada, mediana mas real distinção de seu modo de ser e de viver, despreocupada com o resto do mundo.

A massa impressionante do castelo, ou do que dele resistiu ao tempo e às guerras européias, sobressai, dando-nos idéia do que terá sido nos seus dias de glória, quando, numa de suas salas, a pequena pastora de Domrémy, Santa Joana d’Arc, reconheceu o Delfim de França e o convenceu de se deixar sagrar e coroar como Rei dos franceses. Vendo-o hoje, alguém poderia duvidar de sua beleza: muros caídos, janelas sem madeirames nem molduras góticas, pedras desgastadas e quebradas, torres incompletas.

Entretanto, qualquer coisa nesses pedaços de edifício nos faz vê-lo como muito bonito. De onde lhe vem esse esplendor?

De uma altivez, de uma segurança de si mesmo, de uma sobranceria no olhar de cima para baixo o mundo à sua volta que, na verdade, nos encanta. Dissemos, de propósito, altivez e não orgulho. Pois não se pode afirmar que o castelo exprima a mentalidade de alguém que “serra de cima”, mas sim a de algo que tende para o mais alto.

O castelo é a expressão do sacrifício, da fé, do ideal e heroísmo das almas católicas que o construíram

Fotos: S. Hollmann
Um dos lances ainda intactos do Castelo de Chinon

Tem-se a impressão de que esse castelo foi construído com um certo dinamismo pelo qual ele se ergueu como uma pessoa viva que, com toda a sua estatura, tende para o mais alto possível. No fundo, tende para o Céu. As almas daqueles que o levantaram, certamente estavam imbuídas desse anelo das coisas celestiais, do anseio de reproduzir na Terra algo do paraíso. Elas procuraram traduzir nas pedras, a sua elevação, dignidade e nobreza de pessoas católicas, amorosas da hierarquia do que lhes estavam acima como da dos seus inferiores.

Em suma, é a altivez e a sobranceria de cavaleiro, de herói católico, de cruzado. Nessas pedras estão expressos o sacrifício, o risco, a fé, o ideal e a consciência do valor de todas essas nobres atitudes de alma.

(Extraído de conferência em 9/8/1989)