Dr. Plinio durante uma conferência, no final da década de 1980.

Comentemos um trecho da Sagrada Escritura, tirado do Eclesiástico (Eclo 2, 1-6. 11s).

Meu filho…

Há uma coisa qualquer na Bíblia por onde, quando ela diz “meu filho”, percebe-se ser filho mesmo! Não sei o que é, mas entra com um timbre de voz próprio da Escritura, de maneira a quase dar remorso de ler, acrescentando a própria voz a uma voz inouvida, mas real, que a Sagrada Escritura tem. Aquela frase de São Bento, por exemplo, que é da Bíblia, a qual ele coloca na introdução da sua regra: “Vem, meu filho, e ouve-me: ensinar-te-ei o temor de Deus.”

Seria preciso aprender a dizer isto, não com a seguinte pergunta: Qual é o melhor efeito que eu posso tirar de minha voz para ler? Mas, como é a voz com que a Escritura diz isto? E como posso obrigar a minha laringe a ter a voz da Escritura? É outra coisa!

Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, persevera firme na justiça e no temor…

Justiça é a virtude! Temor é o temor de Deus.

…e prepara a tua alma para a provação.

Que belo conselho! Começaste a amar a Deus? Atenção! Prepara a tua alma para a provação! Inaciano a conta inteira. Eu acho muito bonito.

Humilha o teu coração, espera com paciência…

Vemos a ligação da humildade com a paciência: o homem humilde espera com paciência; o impaciente não é humilde. Há aqui um ponto para ser analisado, estudado…

…dá ouvidos e acolhe as palavras da Sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade.

Quer dizer: no tempo difícil não tenha pressa de sair dele, ensina a Sabedoria cochichando no nosso espírito. Eu considero isso admirável!

Sofre as demoras de Deus.

Sofre, quer dizer, atura, suporta as demoras de Deus.

Dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça.

A vitória é dada a quem sofreu com paciência. Paciência aqui não é a indolência, mas aquela virtude forte por onde se aguenta a dor da espera. Ai do homem a quem a espera não dói! Ai do homem que não aguenta a dor da espera! Isso é a paciência. Estou, portanto, longe de censurar, mas a léguas, o homem a quem dói a espera do Reino de Maria. Eu o admiro, porque ele quer quanto antes esse Reino. Mas a dor da espera ele aguenta como um herói.

Fotos: G. Kralj; S. Miyazaki.
Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro modelo de paciência – Sevilha, Espanha.

E pôr um nexo disso com a humildade, eu acho magnífico! Quer dizer: minha paciência me daria direito a que aquilo que espero viesse logo. Mas minha humildade me faz compreender que Deus pode fazer de mim o que Ele quiser. E que eu posso ficar de lado, nos planos de Deus… Resultado: quem pensa assim será aproveitado.

Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme.

Não diz: não sintas a dor, mas sofre, porque é terrível o que te acontece. Não sejas um inerte e imbecil que à força de apanhar já não sente dor. Aguenta o teu sofrimento, por amor de Deus. Não é simples… mas é bom.

Tem paciência, pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata; e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação.

Quer dizer: o homem a quem Deus ama, Ele faz passar pela humilhação. Depois este homem poderá chegar aos píncaros. Mas de torrente in via bibit — beberá da água da torrente (Sl 109,7); na vida ele é um humilhado; nesta ou naquela ocasião ou durante a vida inteira, conforme os desígnios de Deus. Caminha e sê paciente! Para a frente!

Põe tua confiança em Deus e Ele te salvará; orienta bem o teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice.

Fica velho no temor de Deus… Quer dizer: passa a vida inteira nesse temor filial e reverencial de Deus.

Considerai, meus filhos, as gerações humanas; sabei que nenhum daqueles que confiavam no Senhor foi confundido. Pois quem foi abandonado após ter perseverado em seus mandamentos? Quem é aquele cuja oração foi desprezada?

Isso pode emendar-se no Memorare: “Memorare, o piissima Virgo Maria, non esse auditum a saeculo…”

(Extraído de conferência de 28/4/1984)