ClockWorkJavi (CC3.0)
Catedral de Santa Maria, León, Espanha

Para sabermos como será o Reino de Maria, não podemos somente colher dados palpáveis e com eles procurar construir um esboço, pois dessa forma não pegamos a realidade inteira. Precisamos perscrutar os imponderáveis maravilhosos da Santa Igreja.

A Igreja pode considerar-se como uma planta em contínuo crescimento. Quando ela atingir a sua estatura perfeita e tiver dado todo o seu aroma, todo o seu esplendor, toda a sua beleza, Deus a colhe. E se não fosse pelos pecados humanos, aí seria o fim do mundo.

Uma flor cujo desabrochar se aperfeiçoa a cada momento

O mundo, chamado a realizar a imagem e semelhança de Deus, existiria numa determinada época tão englobado pela Igreja que todas as nações seriam católicas. E a nação primogênita, a judaica, tomaria de novo, não a direção dos acontecimentos, mas a liderança de alma que constitui a verdadeira preeminência, e a Santa Igreja Católica seria reconhecida como esteio de todo o universo.

Este é o ponto que nos interessa mais do que todos os outros: tudo quanto há na Igreja de belezas, de verdades, de expressões de santidade ainda não manifestadas, irá se manifestar.

Considerem os aspectos verdadeiros, tradicionais, bons da Igreja Católica; aqueles que os contradizem são desfigurações dela. Observando os primeiros, percebe-se que tudo tem significado e exprime o espírito da Igreja, mas há ainda muito que deve ser expresso.

Lembro-me, por exemplo, de uma Missa celebrada há algum tempo numa Sede da TFP, com uns paramentos lindos utilizados na canonização de mártires americanos. Percebia-se que a Igreja, a qual ali se manifestava, realizava algo superior ao que já existira, como uma flor com desabrochar tão perfeito que a todo momento se olha para ela e se diz: “É impossível ser mais excelente!” Espera-se mais um pouco e ela deita uma perfeição maior. A Igreja é continuamente assim. Se tivermos olhos para vê-la, não nos saciamos de contemplá-la.

Nessa perspectiva, quando a Igreja tivesse desabrochado inteiramente, o plano inicial da Criação estaria realizado, o gênero humano teria dado a Deus toda a glória para a qual foi criado, e o Criador, num transporte de amor por essa semelhança que Ele tinha querido, diria: “Vamos para a eternidade!” Isso seria a síntese da História.

Se uma pessoa ou instituição tem para com a Igreja uma fidelidade autêntica e em contínua ascensão, sua trajetória é parecida com a da Esposa de Cristo.

Os inefáveis da Igreja

Para sabermos como será o Reino de Maria, não podemos apanhar uns dados palpáveis, dizíveis, e com eles procurar construir um quadro. Porque quem trabalha apenas com os dados definíveis, mensuráveis, não pega a realidade inteira. O que a Igreja será no futuro não é sobretudo o que ela exprimiu, mas o que, sorrindo, deixa a entender que exprimirá. Isso não se pode deduzir baseando-se só no que ela disse.

Então, é preciso olhar para os inefáveis da Igreja. Inefável etimologicamente quer dizer indizível; os indizíveis da Igreja são o maravilhoso dela. Seu maravilhoso inexpresso tem uma camada de primeira luz que está prestes a surgir, depois há outras camadas luminosas mais profundas que levarão mais tempo para aparecer. Seria como uma água lindíssima que evaporasse com as sucessivas cores que tem em profundidade.

Se uma pessoa quisesse saber como estará um determinado ambiente daqui a um ano, ela não poderia dizer: “Ah, já sei, vou fazer uma análise química do ar e estudar os fatores que vão evoluir de tal maneira.” Isso é uma burrice. Não pense nisso! Você precisa olhar para o fundo da água e ver quais são os coloridos que ela vai evaporando; fora disso você errou seu pulo.

Uma das grandes alegrias da alma é a da explicitação

Consideremos, agora, o Reino de Maria e a vocação.

Samuel Holanda
Reis antecessores de Jesus – Catedral Notre-Dame, Paris

A vocação não é senão uma graça que nos é dispensada porque somos filhos da Igreja Católica especialmente chamados para uma tarefa. Assim como se pode comparar uma gota d’água com o mar, podemos confrontar a vocação com a graça da Igreja. A vocação contém mil aspectos, mil visões, mil conformes, mil coloridos, que ao longo da história das nossas lutas, das nossas esperanças, dos obstáculos, dos padecimentos, das vitórias, das alegrias, ela vai evaporando com coloridos dentro do nosso horizonte visual.

Assim, pelo que vai acontecendo e consultando os imponderáveis da vocação, podemos entender o que ela fará. Com isso, torna-se patente que podemos conhecer o Reino de Maria quanto mais sondarmos nossa vocação. Como se faz isto?

Tem que haver na vida do homem uma espécie de equilíbrio entre alegria e tristeza. Se a pessoa é completamente desassistida de qualquer forma de gáudio, ela morre; e sem absolutamente qualquer tristeza, prevarica e apostata. Uma composição entre alegria e tristeza constitui o bom equilíbrio, o bom ambiente para a alma do homem.

Arquivo Revista
Dr. Plinio no Santuário do Sagrado Coração de Jesus, em São Paulo, em 1992

Tem alegria intensa quem sabe sondar os imponderáveis

Mas o mundo moderno nos diz o contrário, ou seja, que o próprio da alma é não ter tristeza alguma, pois assim o homem fica saudável. É o oposto do que eu estava explicando.

Por influência do mundo moderno somos levados à seguinte ideia: tristeza, nenhuma! Entretanto, como às vezes aparecem algumas, as alegrias têm que ser intensas para compensar as tristezas que surgem, porque do contrário vamos água abaixo.

Então, a demanda da alegria intensa parece ser uma aspiração da própria saúde da alma. Como sempre, a Revolução não faz senão mentir, e esta é mais uma de suas mentiras.

O que acabo de dizer pode entender-se num sentido verdadeiro, desde que se compreenda bem o que é alegria intensa. Comprar um “automovão”, fazer uma “viajona” e coisas análogas não dão alegria intensa. O que a proporciona é ter olhos para saber sondar essas profundidades imponderáveis da Santa Igreja, da vocação e mais ou menos de todas as coisas. Quem as sabe perscrutar encontra, com o favor de Nossa Senhora, força para tudo. Este não experimenta as nostalgias do mal que têm os filhos das trevas. Ele é Jacó e não Esaú.

Quem não sabe sondar essas coisas por achar que é sonho, fantasia, não vale a pena prestar atenção, cai numa alternativa: ou se despedaça pelas alegrias ponderáveis, mas vãs e irreais; ou forçosamente perece, desaparece.

Devemos procurar o Reino de Maria dentro de nós

Precisamos, portanto, ser pessoas voltadas para considerações elevadas, entretanto, com os pés no chão, vendo bem todas as ordens da realidade, mas que o melhor de suas preferências vai sempre para o imponderável.

Essas almas têm condições para se desenvolverem, desabrocharem, pensarem num grande futuro, sondarem os seus próprios imponderáveis e conhecerem-se a si próprias. Mas isso é um outro estilo de vida, é a vida católica.

Não é o gênero externo de viver, mas o equilíbrio moral que se nota nas figuras de grande número das estátuas da Idade Média, tão calmas, tranquilas, estáveis, que se pergunta de onde veio aquilo. Elas representam pessoas que sabiam ver por cima de tudo os imponderáveis. Digamos numa palavra só: eram almas de Fé.

Então, sondando com o olhar essas coisas e encontrando nelas o deleite intenso que proporcionam, podemos compreender como será o Reino de Maria. Não temos que procurá-lo fora, mas dentro de nós.

Os judeus perguntavam a Nosso Senhor sobre a vinda do Reino de Deus, e Ele respondeu-lhes: “O Reino de Deus está entre vós!” O Reino de Maria está dentro de cada um de nós.

(Extraído de conferência de 18/1/1982)