Flavio Lourenço
A Procissão - Museu dos Agostinianos, Toulouse, França

Os homens são influenciáveis pelas opiniões e pelos exemplos. No entanto, devido à desordem instaurada pelo pecado original, com frequência se torna necessário romper com a opinião pública a fim de se orientar por aquilo que, na ordem da graça e da Redenção, a substitui.

Passemos a analisar estes mesmos princípios1 com relação à sociedade humana. É possível estabelecer, a respeito da força da opinião pública, uma verdadeira doutrina. Inicialmente poderíamos nos perguntar em que deveria consistir a opinião pública no Paraíso terrestre, se Adão e Eva não tivessem pecado e se sua descendência lá houvesse continuado. Haveria uma opinião pública? Qual seria sua força e seu dinamismo?

Como seria a opinião pública no Paraíso terrestre

Para responder a essas perguntas, algumas considerações tornam-se necessárias. Como ponto de partida devemos ter presente que no Éden o homem não estava sujeito a erro. De onde se conclui que todas as opiniões seriam iguais. E isto porque se não fossem iguais seriam diferentes e, portanto, uma necessariamente deveria estar errada. Logo, precisaria haver, no Paraíso terrestre, uma uniformidade absoluta de pensamento.

Giuseppe Felici (CC3.0)
Cardeal Merry del Val em 24 de junho de 1914

Uma análise mais profunda nos mostra que essa concepção é errônea. Uma vez que cada homem tem uma luz primordial2 diferente, e vê na realidade algum aspecto de um modo mais completo do que os outros, sem ser necessário dizer-se que o próximo esteja errado, pode-se afirmar que cada homem é mais especialmente dotado para ver um determinado aspecto da Criação.

Três ou quatro artistas que, diante do quadro de um grande pintor, passem a tecer considerações, embora vejam o mesmo quadro, cada qual, com a sensibilidade artística que lhe é peculiar, observa na tela um conjunto de aspectos que os outros não veem, e sente o que os outros não sentem.

Assim, numa conversa que se realizasse antes do pecado original não haveria discussão, uma vez que ninguém estaria em erro, mas cada um opinaria para completar o pensamento do outro. A opinião pública sobre um determinado assunto antes do pecado original seria, portanto, o conjunto das impressões de todos os homens a respeito daquele problema. Em outras palavras, seria o máximo grau de verdade a que os seres humanos poderiam chegar a respeito de determinada coisa.

É bem evidente que uma opinião pública assim concebida deveria constituir-se, para os homens, numa autoridade extraordinária e numa não menor satisfação. Segundo esta ordem de coisas o homem precisaria deixar-se ilustrar e guiar pela opinião pública, a qual seria dotada de uma força natural imensa. O homem, pela sua própria natureza, foi feito para pensar e agir em função de uma opinião pública.

O magistério dos homens passou a pertencer à Igreja

Com o pecado original os homens tornaram-se passíveis de erro, embora continuassem com a tendência a se deixar governar pela opinião pública. Esta, por sua vez, passou também a ser sujeita a erros, de maneira que a situação do homem se tornou dolorosa: de um lado permaneceu com uma vontade enorme de concordar com a opinião pública e, de outro, sentiu-se na obrigação de exercer um controle sobre ela.

Discordar da opinião pública é uma das coisas mais desagradáveis a que o homem se submete. Suponhamos uma roda de pessoas onde cada uma se gaba de uma imoralidade que praticou. A certa altura perguntam para alguém da roda: “E você, o que fez ontem à noite?” Se o rapaz responde que foi dormir, há uma espécie de desapontamento geral. “Este sem graça dormiu; é um bobo!” E o rapaz, que era o único com razão naquela roda – e que bem poderia chamar a todos os outros de celerados –, não tem coragem de fazê-lo e fica quieto. Isto porque é terrível o peso da opinião pública.

Situações destas são difíceis de enfrentar porque o homem é feito de maneira tal que a opinião de seus semelhantes a seu respeito tem um peso enorme. No entanto, devido à desordem instaurada pelo pecado original, o homem deve romper com a opinião pública, a fim de orientar-se por aquilo que, na ordem da graça e da Redenção, substitui a opinião pública: a infalibilidade pontifícia. O magistério dos homens no Paraíso era dado pela opinião pública; hoje, como esta perdeu o caráter infalível que possuía, aquele passou a pertencer unicamente à Igreja.

Frequentemente, no entanto, encontramos uma oposição entre a Igreja e a opinião pública. Sempre que isto se dá, devemos, é evidente, ficar fiéis à Esposa de Cristo e contrários a todos os que pensarem de modo diferente. Esta ruptura com a opinião pública, para permanecer fiel à infalibilidade pontifícia, é um dos esforços mais violentos que o homem precisa fazer, uma vez que, em todas as ocasiões, ele tende a se imolar à opinião geral.

“Contagiabilidade humana”

Os homens são contagiáveis pelas opiniões e pelos exemplos. Daí podemos tirar um princípio que chamaríamos da “contagiabilidade humana”, o qual é corolário do princípio anterior.

Imaginemos, a título de exemplo, que morássemos com o Cardeal Merry del Val, Secretário de Estado de São Pio X. É evidente que isto exerceria um grande efeito sobre toda a residência em que habitássemos: um homem desse porte de alma enche uma casa. Na hora do jantar, ele toma a cabeceira; de modo instintivo desligamos o rádio que está dando o último noticiário. Ele passa a conversar. Evidentemente ninguém teria a coragem de lhe perguntar: “Eminência, soube da última anedota do português e do turco?” Ele nem entenderia alguma coisa nesse nível; daria uma tão gélida risada protocolar, que logo se compreenderia o erro cometido e elevar-se-ia o nível da conversa. A este contágio de dignidade que se produziria com a simples presença do Cardeal Merry del Val poderíamos chamar de contágio no plano tendencioso.

Adrien Marquette (CC3.0)
Desfile dos cadetes de Saint-Cyr na Avenida dos Campos Elísios, Paris

Há também o contágio no plano sofístico. Assim, se víssemos num livro um determinado argumento, acabaríamos por decorá-lo como se fosse matéria aprendida em uma aula. Mas se um colega, que tem sobre nós uma certa influência, sustentasse aquela mesma tese, o argumento pareceria tomar vida e passaríamos a achá-lo interessante. Ele se torna tão diferente do argumento lido no livro como uma borboleta voando é distinta de uma morta num museu. Adquire outra vitalidade e outra capacidade de penetração. É a contagiabilidade.

Samuel Holanda
O Santo Cura d’Ars – Catedral de Béziers, França

Daí se deduz não haver fato na vida social que não produza um efeito de opinião pública no plano Revolução e Contra-Revolução. Duas pessoas que conversam; se não tomarem cuidado, contagiar-se-ão mutuamente. É impossível dois homens se verem sem que produzam um sobre o outro uma influência, por mínima que seja, o que, de certo modo, representa um contágio.

Como corolário da afirmação anterior, podemos dizer que um homem colocado em um determinado ambiente, ou exerce uma reação constante para não se deixar influenciar ou, mesmo contra sua vontade, se deixará contaminar por ele; a recíproca também é verdadeira, ou seja, o ambiente irá sofrer de sua parte uma certa influência.

Como exemplo temos o rádio. Quem haveria de dizer, antes da sua invenção, que as ondas emitidas pela torre da BBC de Londres chegariam até nós e que seria possível ouvi-las somente apertando um botão? Isto é uma imagem do que se dá com o mundo das almas. Toda alma, por mais apagada e modesta que seja, é em proporções maiores ou menores uma como que torre da BBC, com ondas mais longas ou mais curtas, mas capazes de ir até muito longe. A questão é detectá-las.

Homens-chave por vocação divina

Isto nos leva a um outro princípio, o dos homens-chave. Temos, na sociedade, alguns homens nos quais esta função de irradiar é particularmente intensa. Isto se dá em três categorias de homens que exercem essa função por:

1) vocação divina;

2) seu estado;

3) capacidade pessoal.

Divulgação (CC3.0)
Grão-duque Nikolai Nikolaevich

Entre os primeiros, isto é, os que exercem essa função por vocação divina, temos, a título de exemplo, São Francisco de Assis. Há um fato de sua vida que, no terreno da Contra-Revolução A tendencial, é verdadeiramente maravilhoso.

Certa vez, São Francisco convidou Frei Leão para pregarem um sermão. Saíram do convento, foram à cidade, andaram por várias ruas e retornaram. Na volta, Frei Leão perguntou a São Francisco qual era o sermão que tinham ido pregar, o Santo respondeu: o andarmos pela rua foi o sermão que pregamos. É precisamente a aplicação do princípio acima enunciado. Ver um franciscano como São Francisco, tão pobre, tão humilde, tão recolhido, tão suave, tão profundo, tão enlevado, tão sobrenatural, é uma pregação. O simples fato de se ver um frade, compenetrado de sua vocação, passar pela rua, já é uma pregação.

Por que para estimular o patriotismo fazem-se paradas? À primeira vista poderia parecer que um discurso seria mais eficiente, mas na verdade não é o que se dá. Os tanques de guerra que passam, a cavalaria com seus clarins, as legiões de infantaria rufando tambores, tudo isto atrai enormemente. Quando, então, troam os canhões e começam a tocar o hino do país todos ficam eletrizados.

Dá-se o contágio pelo simples fato do exército que passa, do frade que caminha, da procissão que canta; impressões de poucos minutos, mas que marcam profundamente a alma.

Outro exemplo de homem-chave por vocação divina é o Cura d’Ars. Era pouco inteligente e de personalidade pobre; mas só de vê-lo pregar no púlpito, de longe, embora mesmo sem o conseguir ouvir, muitos se convertiam. O Cura d’Ars pertence a essa categoria de homens a quem Deus deu a missão de tornar de algum modo translúcido o sobrenatural, de maneira que perto deles as pessoas sentem o que os Apóstolos sentiam no Tabor, junto a Nosso Senhor.

Por estado ou por capacidade pessoal

Ao lado daqueles que, por vocação divina, têm essa missão há outros que a possuem por seu estado. Os homens de uma alta categoria social, por exemplo, devem ser pessoas emblemáticas e que saibam irradiar, emitir determinadas verdades que conservem o corpo social.

Podemos citar o famoso caso do Grão-duque Nicolau Nicolaievitch3 durante a Revolução comunista. Era um homem muito alto, de rosto comprido, longo nariz, e com a característica de ter as extremidades da testa, do queixo e do nariz terminados por uma barbicha branca. Era hercúleo, eslavo vigoroso, parecendo sair das florestas, mas bem penteado e disciplinado.

Em sua época estourou a Revolução comunista; o fantasmático, fraco e tíbio Nicolau II abdicou; as vagas da Revolução estavam soltas por São Petersburgo, de modo que rapazes e moças estudantes, bêbados, carregando a bandeira comunista, clamavam a morte da era do trabalho intelectual; operários saqueavam por todos os lados. O Grão-duque Nicolaievitch, ao ter conhecimento dessa situação, resolveu sair de seu palácio para encontrar-se com o Czar e hipotecar-lhe sua solidariedade. Entrou, com seu ajudante de ordens, numa enorme limousine, sentou-se e, cheio de condecorações, com o quepe na cabeça, mandou caminhar. O inevitável aconteceu. A certa altura os revolucionários pararam o veículo e começaram a quebrar os vidros, tentando matar o Grão-duque. Este levantou-se e, em toda a sua estatura, olhou para os revolucionários e passou-lhes uma descompostura, intimando-os a que se retirassem. Todos se afastaram e o automóvel chegou ao palácio imperial!

O Grão-duque era um homem que tinha por dever de estado espelhar a majestade real, e ele sabia fazê-lo. Como militar devia manter a disciplina, e sabia simbolizá-la; tanto assim que, sozinho, dispersou uma multidão furiosa.

Nesse sentido, é preciso dizer que cada homem deve externamente espelhar o seu papel na sociedade. O que o francês chama le physique du rôle, isto é, o ter um físico de acordo com o papel que se desempenha é algo que se deve exigir de cada homem. Um magistrado não pode ter um ar brincalhão. Se o tiver, estará traindo sua missão. Além de conhecer muito bem as leis, deve ser um homem que tenha a dignidade de um magistrado. Um militar não pode ter o feitio de um janota. O sacerdote não pode ter aspecto de leigo, e nada pior do que um leigo com aspecto de padre. Cada papel social precisa ter o seu feitio próprio, e existe um feitio para cada papel.

Há, finalmente, pessoas que têm esse dom de irradiação por capacidade pessoal. Muitas vezes somente pelo seu silêncio, pelo seu olhar, por uma meia-palavra, pela sua simples presença, esses homens criam uma série de estados de espírito. Outros têm a mesma qualidade no terreno da lógica ou do sofisma. Argumentam tão bem que o adversário fica esmagado pela argumentação. São pessoas a quem Deus deu a tarefa de guiar os outros para o bem, dentro da própria ordem natural. E se a pessoa tem essa capacidade fica obrigada a exercê-la.

Pensiero (CC3.0)

Instituições e nações-chave

Essas considerações nos levam a outro princípio: além das pessoas-chave, há instituições e nações-chave.

Houve uma ilha na Oceania missionada por uns poucos padres e por uma Congregação religiosa feminina. A superiora, ao chegar à ilha, notou que a população nativa tinha já um certo grau de desenvolvimento; não eram, pois, completamente bárbaros. Colocou-se, então, para ela o problema de o que fazer. Se fundasse um orfanato poderia batizar todas as crianças que nele entrassem; se construísse um hospital ganharia a simpatia da população e conseguiria assim algumas conversões. Porém, após várias conjecturas, resolveu fundar uma escola para formação de professoras primárias que ensinassem a população a ler e a escrever. Em pouco tempo a escola estava repleta. As alunas do curso foram batizadas em grande quantidade, e se tornaram professoras primárias católicas. Todo o ensino fundamental da ilha caiu nas mãos dessas religiosas, e em vinte anos a Religião Católica estava solidamente estabelecida. Essa escola foi uma instituição-chave.

Se aquela congregação tivesse se dedicado à fundação do orfanato, teria feito uma obra muito boa, mas não uma obra-chave.

Pouquíssimas são as pessoas que têm a preocupação de se colocar nos pontos estratégicos. Em vez de procurarem ver qual é a obra-chave, realizam a primeira ideia agradável que lhes passa pela mente.

O demônio sempre está rugindo ao redor do homem

Após termos analisado os princípios das Revoluções A e B referentes ao indivíduo e à sociedade humana, passaremos a mostrar como a Revolução tendenciosa se processou através dos séculos, desde a Idade Média até nossos dias.

Como uma Revolução tendenciosa se desenvolve no plano A? Quando consideramos os vários desenvolvimentos pelos quais ela passa em uma determinada sociedade, ao longo dos séculos, vemos que o processo desse desenvolvimento é análogo ao do que se passa, em câmara menos lenta, numa alma humana. Em outras palavras, ao estudarmos a Revolução no plano A, notamos que ela se realizou segundo os mesmos processos psicológicos e lógicos através dos quais um homem vem a decair. Isto significa que a queda da Civilização Cristã se deu, através dos séculos, como um corpo único que pouco a pouco se deteriora.

Flávio Lourenço
Encontro de São Francisco com São Domingos Mosteiro de Santo Tomás, Ávila

Vimos, anteriormente, que para incendiar uma floresta era necessário um trabalho preliminar que a tornasse combustível. Devemos perguntar-nos, pois, como se deu a combustibilidade da Civilização Cristã. Qual a natureza da injeção aplicada às árvores da verdejante floresta, a Civilização Cristã, para que elas se tornassem combustíveis? Respondendo a essas perguntas, compreenderemos como é que se processa o fenômeno da Revolução A.

Imaginemos uma civilização completamente católica, na qual as pessoas sejam fiéis, piedosas, religiosas e vivam de acordo com a Lei de Deus. Qual é um dos primeiros passos para o início da derrocada?

Numa aldeia, por exemplo, de uma sociedade inteiramente católica, a vida temporal se vai ordenando e tudo corre muito bem, porque todos seguem os Mandamentos da Lei de Deus. Nestas condições, o risco, a tentação própria a este estado tão regular e normal de uma sociedade é que, tendo ela ficado tão boa, o homem se esqueça do Céu e tenda a viver somente para ela. As pessoas são, então, tentadas a perder o espírito de sacrifício e a viver tão somente em função de uma pátria terrena agradável. É o que nos ensina Santo Agostinho numa frase lapidar: “Meu Deus, Vós criastes a Igreja para levar as almas para o Céu, mas ela organiza tão bem a vida na Terra que se teria a impressão de que só para isto a criastes.”

Imaginemos, pois, a pequena aldeia católica num domingo de manhã, quando todos vestem seus trajes festivos e o sino da igreja bimbalha alegremente. Vão à Missa, comungam, o pároco faz um sermão, cumprimentam-se e se dirigem para suas casas onde os espera um lauto café; depois alguns descansam, outros saem à rua. Chega o almoço, mata-se um peru, faz-se a sesta. À tarde há alguma inocente festa pública de danças regionais. À noite, bênção do Santíssimo Sacramento; em casa, conversas a respeito dos acontecimentos, e finalmente um profundo sono repousante.

Vidinha tranquila, transcorrida alegremente ao som do bimbalhar dos sinos, ao toque do órgão, ao cheiro dos perus, ao riso das moças. Como tudo isto se torna delicioso no decorrer de uma vida humana cheia das bênçãos de Deus!

Cheia das bênçãos de Deus? Eis a pergunta que se põe, porque tudo isto abstrai de um fato que a Civilização Católica, por mais perfeita que seja, nunca elimina: o pecado original, de um lado, e o demônio, de outro, que sempre está rugindo ao redor do homem.

Quando aquelas situações se consolidam, satanás passa a não mais tentar as almas, a fim de adormecê-las e conduzi-las a si mais facilmente.

Duas grandes Contra-Revoluções feitas pela Ordem beneditina

De quem é a missão de, em ápices de civilização como esse, manter os olhos de todos voltados para o Céu? Do clero, em primeiro lugar, e especialmente das Ordens religiosas, que representam, dentro da Igreja, o estado de perfeição, e a quem cabe incutir a ideia da oração, do recolhimento e da mortificação.

Arquivo Revista
Dr. Plinio em 1964

A História da Revolução e da Contra-Revolução na Idade Média, no plano A, é a História das Ordens religiosas. Não houve maior Contra-Revolução na História do que as duas grandes feitas pela Ordem beneditina. A primeira delas foi a organização das missões, com o que se edificou a Idade Média; a segunda foi a grande reforma da Idade Média realizada pelos beneditinos de Cluny, elevando a sociedade a um ápice de civilização.

Tivemos, além disso, as reformas de São Domingos e de São Francisco, as quais se interpenetraram e atestam, mais uma vez, o importante papel das Ordens religiosas. Realizou-se, assim, o famoso sonho do Papa Inocêncio III, em que ele viu a Basílica de São João de Latrão – que naquele tempo representava toda a Igreja Católica – rachada e sendo sustentada ora por São Domingos, ora por São Francisco. Essa igreja rachada era o começo da Revolução, a Cristandade tendendo para a moleza, o relaxamento, a perda do senso do sacrifício, do sobrenatural, inundada dos bens naturais da Civilização Cristã. São Francisco pela caridade e São Domingos pela lógica reergueram, juntamente, a Idade Média.

Mas já nessa época tais Ordens religiosas apresentavam um início de decadência e, por desígnios misteriosos da Providência, não houve Ordem nova que restaurasse a sociedade em seu fervor primitivo. Então, as árvores começaram a se tornar combustíveis, isto é, os fiéis principiaram a voltar-se para o gozo da vida. De início, o gozo de uma vida honrada; porém, quando um homem se abandona ao gozo de uma vida honrada, estamos na véspera do dia em que ele começará a achá-la maçante e preferirá a vida desonrada.

(Continua no próximo número)

(Extraído de conferência de 1964)

1) Ver Dr. Plinio n. 277 (abril de 2021), p. 15-23.

2) Expressão cunhada por Dr. Plinio para indicar a aspiração existente na alma de cada pessoa para contemplar a Deus de um modo próprio. Ver Revista Dr. Plinio n. 54 (setembro de 2002), p. 4.

3) Nicolau Nicolaievitch (*1856 – †1929), foi Comandante supremo do Exército Imperial da Rússia.