jueves, noviembre 14, 2024

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No mundo moderno, descaso pelas almas inocentes

Suplementos infantis publicados por jornais em 1941. Suplementos infantis (e juvenis) publicados em 2002. Semelhanças? Disparidades? Para melhor ou para pior? Vejamos o que Dr. Plinio dizia naquela ocasião.

É preciso que não esmoreça a vigorosa campanha movida por elementos católicos de destaque …. contra os suplementos infantis que a maior parte dos jornais publica hoje em dia. Com efeito, enquanto o mal persistir, é preciso que persista a reação, pois que os editores de tais boletins não poderiam alcançar mais significativo resultado do que ver os elementos católicos, fatigados de protestar, já plenamente conformados com a ação demolidora dos “suplementos”.

[Em verdade], dado que a Igreja é infalível, jamais conseguirão seus adversários mudar a doutrina por ela professada. E, assim, o máximo que podem alcançar é que se mantenham em silêncio os católicos que o erro não conseguir separar da Igreja. Mas esse maximum é tanto, representa inconvenientes tão inapreciáveis que, para evitá-lo, todos os esforços são poucos e todos os sacrifícios insignificantes.

Nocividade envolta na “moderação”

Entre os inúmeros males que a maioria desses suplementos ocasiona, salta aos olhos o incentivo que eles prestam ao desenvolvimento de certas preocupações já precoces em nossas crianças. Não é de espantar que os pasquins escandalosos, os órgãos de jornalismo suburbano, as folículas que vivem da exploração de escândalos de toda ordem, editem boletins imorais. Mas o curioso é que até certos jornais que procuram observar certa linha, não se pejem em editar folhetins francamente hostis à formação moral de nossa mocidade.

Ao contrário do que acontece em relação aos corpos, ninguém levanta a voz para denunciar os maus tratos que sofrem as almas…

Tenho em mãos, no momento em que escrevo este artigo, uma coleção de suplementos editados por um dos jornais mais sóbrios em matéria de publicidade criminal e sensacionalista, que conheça. Tais boletins infantis não são dos piores. Pelo contrário, encontra-se entre eles vários que trazem historietas, se não edificantes, ao menos perfeitamente inócuas. Tudo isto mostra que a orientação do suplemento não obedece à preocupação que em outros do mesmo gênero parece obsedante, de estimular por todas as formas as mais prematuras e perigosas idéias entre as crianças. Entretanto, não há um único número desse suplemento que não traga ao menos uma história em que, quando o enredo não é francamente censurável, os desenhos são utilizados como pretexto para a exibição absolutamente despudorada de formas que o recato manda cobrir. Por que essa persistência metódica, inflexível, que jamais chega aos absurdos de outros suplementos, mas que, também, jamais deixa de infringir seriamente as regras da moral? Num certo sentido, dir-se-ia que tal suplemento é mais noviço que os outros, pois que sua própria moderação (aliás, tão relativa) lhe serve de passaporte para entrar em ambientes que se manteriam irredutivelmente fechados a folhas mais acentuadamente más. E, uma vez franqueadas as portas a um suplemento mau, quem poderá evitar a entrada dos piores?

Crescente ojeriza contra a perspicácia

Cada vez mais, o mundo contemporâneo parece uma casa de loucos, em que os princípios elementares de lógica estão absolutamente subvertidos. …. Descobrir um erro oculto, uma tendência má que apenas começa a se esboçar, uma afirmação temerária que tem vergonha de si mesma e que se exibe sob a roupagem capciosa de doutrinas aparentemente ortodoxas, tudo isto constituía, para o católico, um ponto de honra de ortodoxia. …. Mas parece que isto, hoje em dia, se está tornando defeito. É preciso fazer vistas grossas, afirmar que o branco pode bem ser ao mesmo tempo preto como azeviche, sorrir benignamente quando se nos diz que a neve dos Alpes lembra invencivelmente por sua coloração o carvão de pedra, e que nada há de mais parecido com uma fonte da qual brota água fresca, do que o deserto do Saara. Não é para os espíritos imbuídos desta mentalidade que dirijo a próxima observação, mas apenas para aqueles indivíduos de mentalidade “tosca e retardatária”, que ainda não consideram o hábito de raciocinar como uma funesta mania, e nem o amor à perspicácia como um dos mais odiosos vícios da inteligência.

Um amigo discreto, silencioso e observador, afeito a longos silêncios meditativos e finas observações psicológicas, …. fazia outro dia, em uma roda de companheiros em que eu me encontrava, esta sábia e capaz observação: cada vez mais, certos suplementos infantis costumam apresentar heróis dotados de sentidos superiores à natureza, uma visão hiper-penetrante, uma audição super-delicada, etc., etc., que lhe conferem, sobre a natureza e os homens, a mais incontestável supremacia. …. [Isto prepara a imaginação infantil para] todos os erros que ameaçam submergir o globo. E tem toda a razão, em que pese os espíritos superiores, sorrindo com “sabedoria”, acharem ridícula essa observação.

Cuida-se do corpo e se esquece das almas

Concluamos. Se uma grande firma fornecedora de remédios ou de alimentos, distribuísse todos os dias, a milhares de crianças, artigos mortíferos que fossem ingenuamente consumidos por seus compradores, que celeuma se levantaria! Entretanto, diariamente a mentalidade infantil continua a ser envenenada com os piores alimentos intelectuais e morais, e ninguém protesta. Não vale a alma mais que o corpo? Não vale a vida eterna mais que a vida terrena? Não vale a glória de Deus mais do que a saúde física das criaturas? Entretanto, por que tão grande disparidade de conduta em um e em outro caso?

(Excertos de artigo do “Legionário”, nº 464, de 3/8/1941. Título e subtítulos nossos.)

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